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25/12/2014

Tempos diários de oração

Se desejas deveras ser alma penitente – penitente e alegre –, deves defender, acima de tudo, os teus tempos diários de oração, de oração íntima, generosa, prolongada, e hás-de procurar que esses tempos não sejam ao acaso, mas a hora fixa, sempre que te for possível. Sê escravo deste culto quotidiano a Deus, e garanto-te que te sentirás constantemente alegre. (Sulco, 994)

Como anda a tua vida de oração? Não sentes às vezes, durante o dia, desejos de falar mais devagar com Ele? Não Lhe dizes: logo vou contar-te isto e aquilo; logo vou conversar sobre isso contigo?

Nos momentos dedicados expressamente a esse colóquio com o Senhor o coração expande-se, a vontade fortalece-se, a inteligência – ajudada pela graça – enche a realidade humana com a realidade sobrenatural. E, como fruto, sairão sempre propósitos claros, práticos, de melhorares a tua conduta, de tratares delicadamente, com caridade, todos os homens, de te empenhares a fundo – com o empenho dos bons desportistas – nesta luta cristã de amor e de paz.

A oração torna-se contínua como o bater do coração, como as pulsações. Sem essa presença de Deus não há vida contemplativa. E sem vida contemplativa de pouco vale trabalhar por Cristo, porque em vão se esforçam os que constroem se Deus não sustenta a casa.


Para se santificar, o cristão corrente – que não é um religioso e não se afasta do mundo, porque o mundo é o lugar do seu encontro com Cristo – não precisa de hábito externo nem sinais distintivos. Os seus sinais são internos: a constante presença de Deus e o espírito de mortificação. Na realidade, são uma só coisa, porque a mortificação é apenas a oração dos sentidos. (Cristo que passa, nn. 8–9)

Ev. Coment. L. esp. (Amigos de Deus)

Natal do Senhor

Evangelho: Lc 2 1-14

1 Naqueles dias, saiu um édito de César Augusto, prescrevendo o recenseamento de toda a terra. 2 Este recenseamento foi anterior ao que se realizou quando Quirino era governador da Síria. 3 Iam todos recensear-se, cada um à sua cidade. 4 José foi também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, que se chamava Belém, porque era da casa e família de David, 5 para se recensear juntamente com Maria, sua esposa, que estava grávida. 6 Ora, estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz, 7 e deu à luz o seu filho primogénito, e O enfaixou, e O reclinou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. 8 Naquela mesma região, havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho. 9 Apareceu-lhes um anjo do Senhor e a glória do Senhor os envolveu com a sua luz e tiveram grande temor. 10 Porém, o anjo disse-lhes: «Não temais, porque vos anuncio uma boa nova, que será de grande alegria para todo o povo: 11 Nasceu-vos hoje na cidade de David um Salvador, que é o Cristo, o Senhor. 12 Eis o que vos servirá de sinal: Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura». 13 E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste louvando a Deus e dizendo: 14 «Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens, objecto da boa vontade de Deus».
Comentário

Não basta desejar "boas festas" cantar lindos cânticos, escrever textos profundos, compor poesias de fino recorte.

Não basta!

É muito bom fazer tudo isto, é o que se espera que façamos:

Cada um à sua maneira assinalar o Nascimento de Cristo.

Mas, é verdade, não basta.
Ele pede-nos mais, o nosso coração inteiro debruçado sobre a manjedoura onde está o Rei e Senhor do universo, a nossa alma mergulhada no denso mistério do Presépio.

Descobriremos, então, o que é fundamental fazer:

Transmitir a todos os homens a verdadeira mensagem que o Menino veio trazer à terra, porque veio, como veio, para que veio.

E, mais, esta "missão" deverá continuar, não ficando confinada a estes dias festivos mas estar sempre presente e activa todos os dias que nos for concedido viver.

(ama, comentário sobre Lc 2, 1-14, Natal de 2011)


Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus 168 a 176

168         
As circunstâncias daquele servo da parábola, devedor de dez mil talentos, reflectem bem a nossa situação perante Deus: também nós não temos com que pagar a dívida imensa que contraímos por tantas bondades divinas e que aumentámos ao ritmo dos nossos próprios pecados. Embora lutemos denodadamente, não conseguiremos devolver com equidade o muito que o Senhor nos perdoou. Mas a misericórdia divina supre com abundância a impotência da justiça humana. Ele é que pode dar-se por satisfeito e anular a dívida, simplesmente porque é bom e é infinita a sua misericórdia.

A parábola - lembrais-vos bem - termina com uma segunda parte, que é como que o contraponto da precedente. Aquele servo, a quem acabam de perdoar uma dívida enorme, não se compadece de um companheiro que lhe devia apenas cem denários. Aí é que se põe de manifesto a mesquinhez do seu coração. Estritamente falando, ninguém lhe negará o direito de exigir o que é seu; no entanto, algo se revolta dentro de nós e nos diz que essa atitude intolerante se afasta da verdadeira justiça: não é justo que quem, há apenas um momento, recebeu um tratamento misericordioso de favor e compreensão, não reaja ao menos com um pouco de paciência para com o devedor. Reparai que a justiça não se manifesta exclusivamente pelo rigoroso respeito de direitos e deveres, como se se tratasse de problemas aritméticos que se resolvem com somas e subtracções.

169         
A virtude cristã é mais ambiciosa: leva-nos a mostrar-nos agradecidos, afáveis, generosos; a comportar-nos como amigos leais e honrados, tanto nos tempos bons como na adversidade; a ser cumpridores das leis e respeitadores das autoridades legítimas; a rectificar com alegria quando nos damos conta de que nos enganámos ao encarar uma questão. Sobretudo, se somos justos, cumpriremos os nossos compromissos profissionais, familiares, sociais..., sem espaventos nem alardes, trabalhando com empenho e exercitando os nossos direitos, que também são deveres.

Não acredito na justiça dos preguiçosos, porque com o seu dolce far niente - como dizem na minha querida Itália - faltam, e às vezes gravemente, ao mais fundamental dos princípios da equidade: o do trabalho. Não devemos esquecer que Deus criou o homem ut operaretur, para trabalhar; e os outros - a nossa família, a nossa nação, a Humanidade inteira, - dependem também da eficácia do nosso trabalho. Meus filhos, que pobre ideia têm da justiça os que a reduzem a uma simples distribuição de bens materiais!

170         
A justiça e o amor à liberdade e à verdade

Desde a minha infância - desde que tive ouvidos para ouvir, na expressão da Escritura - tenho ouvido o clamor da questão social. Não se trata de nada de particular; é um tema antigo, de sempre. Talvez tenha surgido no mesmo instante em que os homens se organizaram de alguma maneira e se tornaram mais visíveis as diferenças de idade, de inteligência, de capacidade de trabalho, de interesses, de personalidade.

Não sei se haver classes sociais é coisas irremediável; aliás, não é do meu ofício falar dessas matérias, e muito menos aqui, neste oratório, onde nos reunimos para falar de Deus (não desejaria tratar senão deste tema em toda a minha vida) e para conversar com Deus.

Pensai o que quiserdes em tudo aquilo que a Providência confiou à livre e legítima discussão dos homens, mas a minha condição de sacerdote de Cristo impõe-me a necessidade de subir mais alto e de vos lembrar que, em qualquer caso, nunca podemos deixar de viver a justiça, com heroísmo, se for necessário.

171         
Estamos obrigados a defender a liberdade pessoal de todos, sabendo que Jesus Cristo foi quem nos conquistou essa liberdade. Se não o fizermos, com que direito reivindicaremos a nossa? Também devemos difundir a verdade, porque veritas liberabit vos, a verdade liberta-nos, enquanto a ignorância escraviza. Temos de defender o direito de todos os homens à vida, à posse do necessário para uma existência digna, ao trabalho e ao descanso, à escolha do seu estado, à constituição de um lar, a trazer filhos ao mundo dentro do matrimónio e a poder educá-los, a passar serenamente o tempo da doença ou da velhice, ao acesso à cultura, à associação com os outros cidadãos para fins lícitos e, em primeiro lugar, a conhecer e amar Deus com plena liberdade, porque a consciência, sendo recta, descobre a marca do criador em todas as coisas.

Precisamente por isso, é urgente repetir - não me meto em política, estou só a expor a doutrina da Igreja - que o marxismo é incompatível com a fé de Cristo. Existe alguma coisa mais oposta à fé do que um sistema que baseia tudo em eliminar da alma a presença amorosa de Deus? Gritai isso com muita força, de modo que se oiça claramente a vossa voz: para praticar a justiça não precisamos do marxismo para nada. Pelo contrário, esse erro gravíssimo, pelas suas soluções exclusivamente materialistas que ignoram o Deus da paz, levanta obstáculos à felicidade e ao entendimento entre os homens. Dentro do cristianismo achamos a boa luz que dá sempre resposta a todos os problemas; basta que vos empenheis sinceramente em ser católicos, non verbo neque lingua, sed opere et veritate, não com palavras e com a língua, mas com obras e com verdade. Afirmai isto sempre que se vos apresente a ocasião - procurai-a se for preciso - sem reticências, sem medo.

172         
Justiça e caridade

Lede a Sagrada Escritura. Meditai um a um, os episódios da vida do Senhor, os seus ensinamentos. Considerai especialmente os conselhos e as advertências com que preparava aquele punhado de homens que haviam de ser os seus apóstolos, os seus mensageiros até aos confins da terra. Qual é a principal norma que lhes dá? Não é o mandamento novo da caridade? Foi com amor que abriram caminho naquele mundo pagão e corrupto.

Convencei-vos de que apenas com a justiça nunca resolvereis os grandes problemas da Humanidade. Quando se faz apenas justiça, não é de estranhar que as pessoas se sintam feridas: a dignidade do homem, que é filho de Deus, pede muito mais do que isso. A caridade tem que ir dentro e ao lado, porque dulcifica tudo e tudo deifica: Deus é amor. Temos de actuar sempre por amor de Deus, que torna mais fácil amar o próximo e purifica e eleva os amores terrenos.

Para se passar da estrita justiça à abundância da caridade há todo um trajecto a percorrer e não são muitos os que perseveram até ao fim: alguns conformam-se com chegar apenas aos umbrais: prescindem da justiça e limitam-se a um pouco de beneficência, a que chamam caridade, sem cuidarem de que o que fazem representa uma pequena parte do que estão obrigados a fazer. E mostram-se tão satisfeitos consigo mesmos como o fariseu que julgava ter enchido a medida da lei só por jejuar dois dias por semana e pagar o dízimo de tudo o que possuía.

173         
A caridade, que é como que um transbordar generoso da justiça, exige em primeiro lugar o cumprimento do dever: começa-se pelo que é justo; continua-se pelo que é mais equitativo... Mas para amar requer-se muita finura, muita delicadeza, muito respeito, muita afabilidade; numa palavra, seguir aquele conselho do Apóstolo: levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo. Então, sim, vivemos plenamente a caridade, realizamos o mandato de Jesus.

Para mim não existe exemplo mais claro dessa união prática da justiça com a caridade do que o comportamento das mães. Amam com idêntico carinho todos os seus filhos e esse amor leva-as precisamente a tratá-los de modo diferente - com uma justiça desigual - visto que cada um é diferente dos outros.

Pois também em relação aos nossos semelhantes a caridade aperfeiçoa e completa a justiça, porque nos leva a proceder de maneira desigual com os desiguais, adaptando-nos às suas circunstâncias concretas, a fim de comunicarmos alegria a quem está triste, ciência a quem carece de formação, afecto a quem se sente só... A justiça determina que se dê a cada um o que lhe pertence; ora isto não significa dar a todos a mesma coisa. O igualitarismo utópico é fonte das maiores injustiças.

Para procedermos sempre assim, como essas boas mães, precisamos de esquecer-nos de nós mesmos e de não aspirar a outra superioridade senão a de servir os outros, como Jesus Cristo, que afirmava: o Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir. Isto exige a inteireza da submissão da nossa vontade ao modelo divino, trabalhar para todos, lutar pela felicidade eterna e pelo bem-estar dos outros. Não conheço melhor caminho para ser justo do que uma vida de entrega e de serviço.

174         
Talvez alguns pensem que sou um ingénuo. Não me importa. Embora me qualifiquem desse modo, porque continuo a acreditar na caridade, garanto-vos que sempre acreditarei nela! E enquanto o Senhor me conceder vida, continuarei a ocupar-me - como sacerdote de Cristo - de que haja unidade e paz entre os que são irmãos por serem filhos do mesmo Pai, Deus; de que a humanidade se compreenda; de que todos compartilhem o mesmo ideal: o da Fé!

Recorramos a Santa Maria, Virgem prudente e fiel, e a S. José, seu esposo, modelo acabado de homem justo. Eles, que na presença de Jesus, Filho de Deus, viveram as virtudes que contemplámos, conseguir-nos-ão a graça de que se arraiguem firmemente na nossa alma, para nos decidirmos a proceder a toda a hora como bons discípulos do Mestre: prudentes, justos, cheios de caridade.

175         
Sabeis muito bem, por o terdes ouvido e meditado frequentemente, que para todos nós, cristãos, Jesus Cristo é o modelo. Tê-lo-eis ensinado a muitas almas, através desse apostolado - convívio humano com sentido divino - que faz já parte do vosso eu. Tê-lo-eis recordado oportunamente, ao empregar esse meio maravilhoso da correcção fraterna, possibilitando a quem vos escutava comparar o seu procedimento com o do nosso Irmão primogénito, o Filho de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.

Jesus é o modelo. Ele mesmo o disse: Discite a me, aprendei de mim! Quero hoje falar-vos de uma virtude que, sem ser a única nem a primeira, actua na vida cristã como o sal que preserva da corrupção e constitui a pedra de toque da alma apostólica: a virtude da santa pureza.

É verdade que a caridade teologal é a virtude mais alta, mas a castidade é a exigência sine qua non, condição imprescindível para chegar ao diálogo íntimo com Deus. Quem não a guarda, se não luta, acaba por ficar cego. Não vê nada, porque o homem animal não pode perceber as coisas que são do Espírito de Deus .

Animados pela pregação do Mestre, nós queremos ver com olhos limpos: bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.

A Igreja sempre apresentou estas palavras como um convite à castidade. Guardam um coração sadio, escreve S. João Crisóstomo, os que possuem uma consciência completamente limpa ou os que amam a castidade. Nenhuma virtude é tão necessária como esta para ver a Deus.

176         
O exemplo de Cristo

Jesus Cristo, Nosso Senhor, foi, ao longo da sua vida sobre a terra, coberto de impropérios e maltratado de todas as maneiras possíveis. Lembrais-vos? Diziam que se comportava como um revoltoso e afirmaram que estava endemoninhado. Noutra altura, interpretaram mal as manifestações do seu Amor infinito e classificaram--no como amigo de pecadores.

Mais tarde, a Ele, que é a própria penitência e a própria temperança, lançam-lhe à cara que frequentava a mesa dos ricos. Também lhe chamam depreciativamente fabri filius , filho do trabalhador, do carpinteiro, como se isso fosse uma injúria. Permite que o rotulem de bebedor e comilão... Deixa que o acusem de tudo, excepto de que não é casto. Não os deixou dizer isso, porque quer que nós conservemos com toda a nitidez esse exemplo: um modelo maravilhoso de pureza, de limpeza, de luz, de amor que sabe queimar todo o mundo para o purificar.

Gosto de me referir à santa pureza, contemplando sempre a conduta de Nosso Senhor, porque Ele a viveu com grande delicadeza. Reparai no que relata S. João quando, Jesus, fatigatus ex itinere, sedebat sic supra fontem, cansado no caminho se sentou à borda do poço.

Procurai recolher-vos e reviver devagar a cena: Jesus Cristo, perfectus Deus, perfectus homo, está fatigado do caminho e do trabalho apostólico, tal como algumas vezes deve ter sucedido convosco, que vos sentis arrasados por já não poderdes mais. É comovedor observar o Mestre esgotado. Além disso, tem fome: os discípulos tinham ido ao povoado vizinho para buscar alimentos. E tem sede.

Mas, mais do que a fadiga do corpo, consome-o a sede de almas. Por isso, ao chegar a samaritana, aquela mulher pecadora, o coração sacerdotal de Cristo derrama-se, diligente, para recuperar a ovelha perdida, esquecendo o cansaço, a fome e a sede.

Ocupava-se o Senhor com aquela grande obra de caridade, quando os apóstolos voltaram da cidade e mirabantur quia cum muliere loquebatur, ficaram surpreendidos por estar a falar a sós com uma mulher. Como era cuidadoso! Que amor à virtude encantadora da santa pureza, que nos ajuda a ser mais fortes, mais rijos, mais fecundos, mais capazes de trabalhar por Deus, mais capazes de tudo o que é grande!

(cont)






Temas para meditar - 314


Medianeira



Deus tinha prometido a Simeão que não havia de morrer antes de ver o Messias (...). Mas esta graça só a alcançou por meio de Maria, porque só nos seus braços encontrou o Salvador. Por conseguinte, quem quiser falar a Jesus, deve procurá-Lo por meio de Maria. Acudamos a esta divina Mãe, e acudamos com grande confiança, se desejamos encontrar Jesus.


(santo afonso maria de LigórioLas glorias de Maria, 11, 6, trad ama)

Tratado do verbo encarnado 70

Questão 9: Da ciência de Cristo em geral

Art. 3 — Se em Cristo há uma outra ciência infusa além da ciência beatífica.

O terceiro discute-se assim. — Parece que em Cristo não há outra ciência infusa, além da beatífica.

1. — Pois, qualquer ciência criada está para a ciência da visão beatífica como o imperfeito, para o perfeito. Ora, a presença do conhecimento perfeito exclui a do imperfeito, assim como a visão manifesta face a face exclui a enigmática, da fé, segundo se lê no Apóstolo. Ora, como Cristo tinha a ciência da visão beatífica, conforme dissemos, parece que não podia ter outra ciência, infusa.

2. Demais. — O modo imperfeito do conhecimento dispõe para o perfeito, assim a opinião, fundada no silogismo dialético, dispõe para a ciência, fundada no silogismo demonstrativo. Ora, quem já tem a perfeição não precisa de nenhuma disposição ulterior, assim como não há necessidade de movimento quando o termo foi atingido. Mas, qualquer conhecimento criado, estando para o da visão beatífica como o imperfeito, para o perfeito e como a disposição, para o termo, parece que, a Cristo, não lhe era necessário nenhum outro conhecimento, desde que tinha o da visão beatífica.

3. Demais. — Assim como a matéria corpórea está em potência para a forma sensível assim o intelecto possível para a forma inteligível. Ora, a matéria corpórea não pode receber simultaneamente duas formas sensíveis - uma mais perfeita e outra menos perfeita. Logo, nem a alma pode simultaneamente ter duas ciências, mais uma perfeita e outra menos perfeita. Donde se conclui o mesmo que antes.

Mas, em contrário, o Apóstolo: Em Cristo estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência.

Como dissemos, convinha que a natureza humana assumida pelo Verbo não fosse imperfeita. Ora, todo o potencial é imperfeito, que não for reduzido ao acto. Mas, o intelecto humano é potencial em relação a todos os inteligíveis, reduz-se ao acto porém pelas espécies inteligíveis que lhe são umas formas completivas conforme resulta do que já dissemos. Logo, devemos atribuir a Cristo uma ciência infusa enquanto, pelo Verbo de Deus, na alma de Cristo, pessoalmente unida ao Verbo, se lhe imprimiram as espécies inteligíveis relativas a tudo o para o que o intelecto possível é potencial. Assim como também, pelo Verbo de Deus foram impressas as espécies inteligíveis na mente angelica, no princípio da criação das coisas, conforme diz Agostinho. Donde, como os anjos, segundo o mesmo Agostinho, tem duplo conhecimento — Um matutino, pelo qual conhecem as coisas no Verbo, e outro, vespertino pelo qual as conhecem nas suas próprias naturezas, por meio das espécies neles infusas, assim também, além da ciência incriada, tem a alma de Cristo a ciência da visão beatífica, pela qual conhece o Verbo e as coisas, nele, e a ciência infusa ou inata, pela qual as conhece na natureza própria delas, por meio das espécies inteligíveis proporcionadas à mente humana.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A visão imperfeita da fé inclui por essência o oposto à visão manifesta, por ser da natureza da fé ter por objecto o invisível, como se disse na Segunda Parte. Ao passo que o conhecimento por meio das espécies infusas nada inclui de oposto ao conhecimento beatífico. Donde, não há paridade em ambos os casos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A disposição relaciona-se com a perfeição, de dois modos, como a via conducente a ela e como um efeito dela procedente. Assim, pelo calor a matéria dispõe-se a receber a forma do fogo, cuja presença não faz cessar o calor, que permanece, quase como um efeito de tal forma. Semelhantemente, a opinião causada pelo silogismo dialético é via à ciência adquirida por demonstração, com cuja aquisição pode coexistir o conhecimento pelo silogismo dialético, como uma consequência da ciência demonstrativa, que é um conhecimento pela causa, pois, quem conhece a causa pode também, por ela, com maior razão, conhecer os sinais prováveis, dos quais procede o silogismo dialético. Do mesmo modo, em Cristo, com a ciência da bem-aventurança coexiste a ciência infusa, não como via para a bem-aventurança, mas como confirmada por ela.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O conhecimento da bem-aventurança não se opera por uma espécie que seja semelhança da essência divina ou das coisas que na espécie divina se conhecem, como resulta do que foi dito na Primeira Parte. Mas tal conhecimento atinge a própria essência imediatamente, por estar a essência divina unida à alma beata como o inteligível ao inteligente. Ora, a essência divina é uma forma que excede à proporção de qualquer criatura. Donde, nada impede coexistirem, na alma racional, com essa forma sobre-excedente, espécies inteligíveis proporcionadas à sua natureza.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Reflectindo - 52


O meu melhor amigo.


Deixei-me vencer pelo cansaço e adormeci. Foi como se se tivesse apagado uma luz que já bruxuleava incerta e iluminando quase nada.

O sono veio, suave como deve ser o sono da tranquilidade e da paz na alma e no coração. As preocupações e ansiedades não me tiram nem a paz nem a tranquilidade o que, confesso, me espanta bastante.

Tenho por costume pensar que tudo se resolve e que, tarde ou cedo, aparece uma solução. Tento fugir à tentação de dar voltas de mais voltas aos assuntos, sejam quais forem, tentando encontrar respostas, soluções, um ponto final. Sei muito bem que, normalmente, só consigo enredar-me cada vez mais nos meus próprios pensamentos e volto ao princípio, vezes sem conto, verificando que, aquilo, já tinha sido visto e avaliado.

Adormecido como estava não pude dar pela presença dele ao meu lado. Mas, de certa maneira, sentia-o, como o sinto quase sempre, numa presença constante, atenta e solícita, como que à espera de ordens, de sugestões, de pedidos para fazer ou intervir nisto ou naquilo.

Já não me espanta esta presença, mesmo quando durmo. Sei, de fonte segura, que é uma realidade. Não o oiço sussurrar-me: ‘Deixa lá… eu resolvo isso…’, ou, ‘não te preocupes, já tenho uma solução…’ e, o que é curioso, é que na verdade é o que faz, resolve as coisas, encontra soluções, ou, melhor, sugere-me como devo fazer, insinua-me as possibilidades.
É o meu melhor amigo. Está sempre presente e nunca me pede nada, nem sequer que lhe agradeça ou, até, que me lembre de o cumprimentar. Mas, nem, assim, com tão “fraco” amigo, como sou, desiste ou se vai embora ou se desinteressa dos meus assuntos.

Durmo seguríssimo que está de vela, vigilante, atento, disponível. Não interfere quando sonho algo que me incomoda ou faz mal, mas, tenho a certeza, é ele que me acorda com o “pretexto” de que sinto sede ou outra coisa qualquer.

Quando torno a adormecer o tal sonho já lá não está!

Não é um amigo maravilhoso, o meu Anjo da Guarda?

(ama, reflexão, 2010)




Pequena agenda do cristão


Quinta-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)





Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?