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16/10/2014

Que a tua vida não seja uma vida estéril

S. Josemaria proclamou que a santidade está ao alcance de todo o cristão. Publicamos alguns textos nos que fala dessa chamada divina à qual ele respondeu.
Que a tua vida não seja uma vida estéril. – Sê útil. – Deixa rasto. – Ilumina, com o resplendor da tua fé e do teu amor.

Apaga, com a tua vida de apóstolo, o rasto viscoso e sujo que deixaram os semeadores impuros do ódio. – E incendeia todos os caminhos da Terra com o fogo de Cristo que levas no coração. (Caminho, 1)

Todos os que aqui estamos fazemos parte da família de Cristo, porque Ele mesmo nos escolheu antes da criação do mundo, por amor, para sermos santos e imaculados diante dele, o qual nos predestinou para sermos seus filhos adoptivos por meio de Jesus Cristo para sua glória, por sua livre vontade. Esta escolha gratuita de que Nosso Senhor nos fez objecto, marca-nos um fim bem determinado: a santidade pessoal, como S. Paulo nos repete insistentemente: haec est voluntas Dei: sanctificatio vestra, esta é a vontade de Deus: a vossa santificação. Portanto, não nos esqueçamos: estamos no redil do Mestre, para alcançar esse fim. (Amigos de Deus, 2)

A meta que proponho – ou melhor, a que Deus indica a todos – não é uma miragem ou um ideal inatingível: podia contar-vos tantos exemplos concretos de mulheres e de homens correntes, como vocês e como eu, que encontraram Jesus que passa quasi in occulto pelas encruzilhadas aparentemente mais vulgares e decidiram segui-lo, abraçando com amor a cruz de cada dia. Nesta época de desmoronamento geral, de concessões e de desânimos, ou de libertinagem e de anarquia, parece-me ainda mais actual aquela convicção simples e profunda que, no princípio da minha actividade sacerdotal e sempre, me consumiu em desejos de comunicar à humanidade inteira: estas crises mundiais são crises de santos. (Amigos de Deus, 4)

Estamos decididos a procurar que a nossa vida sirva de modelo e de ensinamento aos nossos irmãos, aos nossos iguais, os homens? Estamos decididos a ser outros Cristos? Não basta dizê-lo com a boca. Tu – pergunto-o a cada um de vós e pergunto-o a mim mesmo – tu, que por seres cristão estás chamado a ser outro Cristo, mereces que se repita de ti que vieste facere et docere, fazer tudo como um filho de Deus, atento à vontade de seu Pai, para que deste modo possas levar todas as almas a participar das coisas boas, nobres, divinas e humanas, da Redenção? Estás a viver a vida de Cristo na tua vida de cada dia no meio do mundo?

Fazer as obras de Deus não é um bonito jogo de palavras, mas um convite a gastar-se por Amor. Temos de morrer para nós mesmos a fim de renascermos para uma vida nova. Porque assim obedeceu Jesus, até à morte de Cruz, mortem autem crucis. Propter quod et Deus exaltavit illum. Por isso Deus O exaltou. Se obedecermos à vontade de Deus, a Cruz será também Ressurreição, exaltação. Cumprir-se-á em nós, passo a passo, a vida de Cristo; poder-se-á afirmar que vivemos procurando ser bons filhos de Deus, que passamos fazendo o bem, apesar da nossa fraqueza e dos nossos erros pessoais, por mais numerosos que sejam. (Cristo que passa, 21)

Asseguro-vos, meus filhos, que, quando um cristão realiza com amor a mais intranscendente das acções diárias, ela transborda da transcendência de Deus. Por isso vos tenho repetido, com insistente martelar, que a vocação cristã consiste em fazer poesia heróica da prosa de cada dia. Na linha do horizonte, meus filhos, parecem unir-se o céu e a terra. Mas não; onde se juntam deveras é nos vossos corações, quando viveis santamente a vida de cada dia... (Temas actuais do cristianismo, 116)


Sínodo Extraordinário sobre a Família

Ganhei este hábito de tentar todas as semanas colocar um texto neste espaço da net.
Desde ontem que tento encontrar inspiração para escrever e … nada!
Apenas me vem à mente e ao coração o Sínodo Extraordinário sobre a Família, que está a decorrer no Vaticano. E tem toda a razão de ser!

Este Sínodo é de uma imensa importância, dada a situação em que hoje em dia vive a família, em todos os campos, mas sobretudo na sua desagregação, (muitas vezes provocada por leis civis iníquas), que em vez de a protegerem como a célula mais importante da sociedade, a fragmentam e destroem.

É necessária também a reflexão profunda sobre o Sacramento do Matrimónio, em que para além de tanto para analisar, é, quanto a mim, imprescindível perceber o que fazer para dar aos católicos a verdadeira noção do que é o Sacramento, (desde a mais tenra idade), por forma a que o mesmo não seja visto e celebrado como uma mera tradição “popular” ou uma festa mais “bonita”.
Que aqueles que querem celebrar o Matrimónio saibam claramente o que é o Sacramento e o que a Igreja quer que assumam ao celebrarem as suas núpcias na Igreja.

Para além de todas e tantas vertentes que hoje em dia tocam a família há também a problemática sobre os divorciados e recasados e o seu acesso aos sacramentos.
Sobre isso não me pronuncio e espero pacientemente por aquilo que a Igreja nos há-de dizer, sabendo de antemão que o meu coração aceitará de bom grado tudo o que for decidido.

No pouco que posso fazer, ou que todos podemos fazer, está com certeza a oração por este Sínodo, pedindo que o Espírito Santo ilumine os homens, para que façam a vontade de Deus.
Pedindo a intercessão de Maria, esposa e Mãe, e de José, seu esposo, Pai adoptivo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
E para isso, nada haverá melhor que todos os dias, de manhã ao acordar e de noite ao deitar, rezar a oração que o Papa Francisco compôs para este Sínodo.

ORAÇÃO À SAGRADA FAMÍLIA PELO SÍNODO

Jesus, Maria e José
em vós nós contemplamos o esplendor do verdadeiro amor, a vós dirigimo-nos com confiança.

Sagrada Família de Nazaré,
faz também das nossas famílias lugares de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do Evangelho e pequenas igrejas domésticas.

Sagrada Família de Nazaré,
nunca mais nas famílias se vivam experiências de violência, fechamento e divisão: quem quer que tenha sido ferido ou escandalizado receba depressa consolação e cura.

Sagrada Família de Nazaré,
o próximo Sínodo dos Bispos possa despertar de novo em todos a consciência da índole sagrada e inviolável da família, a sua beleza no desígnio de Deus.

Jesus, Maria e José
escutai, atendei a nossa súplica.


Marinha Grande, 7 de Outubro de 2014
Joaquim Mexia Alves


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Matrimónio

O Amor e a Fé são a única coisa que logra vencer as dificuldades matrimoniais. O Amor é algo que se cultiva, não algo que se conserva uma vez e para sempre tal como se encontrou. Nós julgávamos no dia em que nos casámos que não podíamos querer-nos mais do que nos amávamos naquele momento. Todavia, o nosso amor vai crescendo dia a dia porque o fomentamos. Pensamos no outro antes de pensarmos em nós mesmos. O Amor não é egoísta. Também é muito importante a Fé para a estabilidade conjugal, especialmente hoje em dia com a crise de valores morais que há na sociedade.

(marie therése, Princesa do Luxemburgo, entrevista.)

Tratado do verbo encarnado 01

Questão 1: Da conveniência da encarnação

No primeiro ponto três questões devem ser tratadas. A primeira, sobre a conveniência da Encarnação de Cristo. A segunda, do modo de união do Verbo encarnado. A terceira, dos resultados dessa união.

Na primeira questão discutem-se seis artigos:

Art. 1 —Se foi conveniente que Deus se encarnasse.
Art. 2 — Se foi necessário, para a salvação do género humano, que o Verbo de Deus se encarnasse.
Art. 3 — Se, mesmo que o homem não tivesse pecado, Deus se teria encarnado.
Art. 4 — Se Deus principalmente se encarnou para remédio dos pecados actuais do que para remédio do pecado original.
Art. 5 — Se foi conveniente Cristo encarnar-se desde o princípio do género humano.
Art. 6 — Se a obra da Encarnação devia ser diferida até o fim do mundo.

Art. 1 —Se foi conveniente que Deus se encarnasse.

O primeiro discute-se assim. — Parece que não foi conveniente que Deus se encarnasse.

1. — Pois, sendo Deus abeterno a própria bondade essencial, melhor é ele existir como abeterno existiu. Ora, Deus existiu abeterno sem nenhuma carne. Logo, convenientíssimo lhe era não se unir à carne. Portanto, não foi conveniente que Deus se encarnasse.

2. Demais. — Seres infinitamente diferentes unem-se inconvenientemente, assim, faria inconveniente junção quem pintasse uma imagem, onde se ligasse a uma cabeça humana um pescoço de cavalo. Ora, Deus e a carne diferem infinitamente, pois, ao passo que Deus é simplicíssimo, a carne é composta, e sobretudo a humana. Logo, foi inconveniente que Deus se tivesse unido à carne humana.

3. Demais. — O corpo dista do sumo espírito tanto quanto a malícia, da suma bondade. Ora, era absolutamente inconveniente que Deus, a suma bondade, assumisse a malícia. Logo, não foi conveniente que o sumo espírito incriado assumisse um corpo.

4. Demais. — É inconveniente estar contido num ser mínimo o que excede os grandes, e que se aplique a coisas pequenas aquele a quem incumbe cuidado das grandes. Ora, toda a universidade das coisas não é suficiente a abranger a Deus, que exerce o governo de todo o mundo. Logo parece inconveniente esconder-se no corpinho de uma criança, a vagir, aquele em cuja comparação é nada o universo, e um tal, rei, abandonar tão longamente as suas moradas e transferir para um corpúsculo o governo de todo o mundo, como Volusiano escreve a Agostinho.

Mas, em contrário. — Parece convenientíssimo que as coisas invisíveis de Deus se manifestem pelas visíveis, pois, para tal foi feito todo o mundo, segundo as palavras do Apóstolo (Rom 1, 20) — As coisas invisíveis de Deus vêm-se consideradas pelas obras que foram feitas. Ora, como diz Damasceno, pelo mistério da encarnação manifesta-se ao mesmo tempo a bondade, a sabedoria, a justiça e o poder ou virtude de Deus. A bondade, pois não desprezou a fraqueza da sua própria criatura, a justiça porque não deu a outrem senão ao homem o poder de vencer o tirano, nem livrou o homem da morte pela violência, a sabedoria, porque deu a mais cabal solução a um problema dificílimo, o poder enfim ou a virtude infinita, pois nada há de maior ao facto de Deus se ter feito homem. Logo, foi conveniente Deus ter-se encarnado.

A cada coisa é conveniente o que lhe cabe segundo à essência da sua própria natureza, assim, convém ao homem raciocinar por ser de natureza racional. Ora, a natureza própria de Deus é a bondade, como está claro em Dionísio. Donde, tudo o que pertence essencialmente ao bem convém a Deus. Ora, pertence essencialmente ao bem comunicar-se aos outros, como está claro em Dionísio.Donde, pertence à essência do sumo bem comunicar-se de maneira suma à criatura. O que sobretudo se realiza por ter-se a si mesmo unido a natureza criada, de modo a fazer uma só pessoa dos três o Verbo, a alma e a carne como diz Agostinho. Donde, é manifesto que foi conveniente que Deus se tivesse encarnado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. O mistério da Encarnação não se realizou porque Deus tivesse, de certo modo, obtido uma mudança do seu estado para outro, em que não existia abeterno, mas, por se ter unido de um modo novo com a criatura, ou antes, a criatura a si: Pois, é conveniente que a criatura, mutável por natureza, não se apresente sempre do mesmo modo. Donde, assim como a criatura, que primeiro não existia, foi depois produzida, assim também, não estando desde o princípio unida a Deus, veio depois a ser-lhe unida.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Ser unida a Deus, na unidade de pessoa, não era conveniente à carne humana, pela condição da sua natureza, porque isso lhe sobrepujava a dignidade dela. Mas, foi conveniente a Deus, pela infinita excelência da sua bondade uni-la a si, para a salvação humana.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Qualquer outra condição, pela qual cada criatura difere do Criador, foi instituída pela sabedoria de Deus e ordenada à bondade divina. Pois, Deus pela sua bondade, sendo incriado, imutável e incorpóreo, produziu criaturas mutáveis e corpóreas, e semelhantemente o mal da pena foi introduzido pela justiça de Deus em vista da sua glória. Quanto ao mal da culpa, ele procede pelo afastamento da arte da sabedoria divina e da ordem da bondade divina. Donde, podia ser conveniente a Deus assumir a natureza criada, mutável, corpórea e sujeita à penalidade: mas não lhe era assumir o mal da culpa.

RESPOSTA À QUARTA. — Agostinho responde: A doutrina Cristã não ensina que Deus, por ter-se unido à carne humana, abandonou ou perdeu o exercício do governo universal, ou encerrou-o, como que comprimido nesse corpúsculo. Mas são esses pensamentos do homem, só capaz de cogitar no que é corpóreo, Pois, Deus é grande, não como uma mole, mas, pela sua virtude. Por isso, a grandeza da sua virtude não se comprimiu com a exiguidade local. Não é, portanto, incrível ao passo que o verbo transitório do homem, seja total e simultaneamente ouvido por muitos e por cada um, que o Verbo Deus, permanente, esteja total e simultaneamente em toda parte. Donde, não resulta nenhum inconveniente para Deus encarnado.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Jesus Cristo e a Igreja - 38

O que era o Sinédrio?

O Sinédrio era a Corte Suprema da lei judaica, com a missão de administrar a justiça interpretando e aplicando a Torá, quer oral quer escrita. Ao mesmo tempo, assumia a representação do povo judaico
perante a autoridade romana.
De acordo com uma antiga tradição tinha setenta e um membros, herdeiros – segundo se supunha – das tarefas desempenhadas pelos setenta anciãos que ajudavam Moisés na administração da justiça, junto com o próprio Moisés. Desenvolveu-se, integrando representantes da nobreza sacerdotal e das famílias mais notáveis, possivelmente durante período persa, isto é, a partir do século V-IV a.C. É mencionado pela primeira vez, embora com o nome gerosia (conselho de anciãos), no tempo do rei Antíoco III da Síria (223-187 a.C.). Com o nome de synedrion está testemunhado desde e reinado de Hircano II
(63-40 a.C.). Nesses momentos era presidido pelo monarca asmoneu, que também era sumo-sacerdote.

Herodes, o Grande, no começo do seu reinado mandou executar grande parte dos seus membros – quarenta e cinco, segundo Flávio Josefo (Antiquitates iudaicae 15, 6) – porque o conselho se tinha atrevido a recordar-lhe os limites em que devia levar a cabo seu poder. Substitui-os por personagens submissos aos seus desejos. Durante o seu reinado, e depois, no tempo de Arquelau, o Sinédrio teve pouca importância.
Na época dos governadores romanos – também na de Pôncio Pilatos – o Sinédrio exerceu de novo as suas funções judiciais, em processos civis e penais, dentro do território da Judeia. Nesses momentos as suas relações com a administração romana eram fluidas, e o relativo âmbito de autonomia que gozava está em consonância com a política
romana habitual nos territórios conquistados. Contudo, o mais provável é que nesses momentos a potestas gladii isto é, a capacidade de decretar uma sentença de morte, estaria reservada ao governador romano (praefectus) que, como era habitual nesses momentos, teria recebido do imperador amplos poderes judiciais, e entre eles essa potestade. Portanto, o Sinédrio embora pudesse decidir nas causas que lhe eram próprias, não podia condenar ninguém à morte.

A reunião dos seus membros durante a noite para interrogar Jesus não foi mais do que uma investigação preliminar para delinear as acusações que mereciam a pena capital e apresentá-las contra Jesus, na manhã seguinte, no processo perante o perfeito romano.

© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.


Reflectindo - 42

Desprendimento


Que as riquezas, a abundância, exigem um esforço de desprendimento, por vezes, muito grande, parece-me uma realidade.
Mas, a pobreza, a escassez de meios, não pedem, igualmente, um empenhamento sério para o conseguir?
Não primeiro caso é o desprendimento do que se tem; no segundo, trata-se de não estar preso ao que se gostaria de ter.
Neste caso, o oferecimento do sacrifício das privações, facilita à alma desprender-se; já no primeiro este esforço pode ser ajudado pelas acções de bem-fazer que a situação permite. Em ambos os casos, porém, a maior ‘ajuda’ virá das acções que o primeiro leve a cabo com a abundância que lhe permite fazer o bem e, o segundo, pela escassez que o ajuda a alcançar merecimentos.

(AMA, Comentário sobre Mc 10,17-27, 2010.05.24)


Evangelho diário, coment., leit. espiritual (Enc Iucunda semper expectatione)

Tempo comum XXIII Semana

Evangelho: Lc 11, 47-54

47 Ai de vós, que edificais sepulcros aos profetas, e foram vossos pais que lhes deram a morte! 48 Assim dais a conhecer que aprovais as obras de vossos pais; porque eles os mataram, e vós edificais os seus sepulcros. 49 Por isso disse a sabedoria de Deus: Mandar-lhes-ei profetas e apóstolos, e eles darão a morte a uns e perseguirão outros, 50 para que a esta geração se peça conta do sangue de todos os profetas, derramado desde o princípio do mundo, 51 desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo. Sim, Eu vos digo que será pedida conta disto a esta geração. 52 Ai de vós, doutores da lei, que usurpastes a chave da ciência, e nem entrastes vós, nem deixastes entrar os que queriam entrar!». 53 Dizendo-lhes estas coisas, os fariseus e doutores da lei começaram a insistir fortemente e a importuná-Lo com muitas perguntas, 54 armando-Lhe ciladas, e buscando ocasião de Lhe apanharem alguma palavra da boca para O acusarem.

Comentários:

As perguntas capciosas e mal-intencionadas não têm direito a resposta. Igualmente quando, quem pergunta, o faz não com a intenção – que em princípio poderia ser legítima – de saber, ser informado, esclarecer dúvidas, também não tem direito a obter qualquer resposta.

Ninguém poderá considerar-se insatisfeito ou, até, ofendido se a resposta que procura obter não lhe interessa para outra coisa que encontrar argumentos para contrariar quem responde.

(ama, comentário sobre Lc 11, 47-54, 2013.10.17)

Leitura espiritual


Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
IUCUNDA SEMPER EXPECTATIONE
DE SUA SANTIDADE
PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA



Veneráveis Irmãos,
Saúde e Bênção Apostólica.

Viva confiança no Rosário

1. Com alegre expectativa e com renovada confiança olhamos sempre a volta do mês de Outubro, porque, desde quando começamos a exortar os fiéis a consagrarem este mês à beatíssima Virgem, ele tem acarretado em toda parte uma poderosa floração do Rosário entre os católicos. Qual tenha sido o motivo das Nossas exortações, já mais de uma vez o expusemos. Visto que os tempos, prenunciadores de desgraças para a Igreja e para a sociedade, exigiam o auxílio poderoso de Deus, Nós achamos dever implorá-lo justamente mediante a intercessão de sua Mãe, e sobretudo com essa fórmula de oração cuja salutar eficácia o povo cristão pôde sempre experimentar.

Experimentou-a, com efeito, desde as origens do Rosário mariano, quer na defesa da santa fé contra os nefastos ataques dos hereges, quer no repor em honra aquelas virtudes que haviam sido sufocadas pela corrupção do mundo. Experimentou-a por uma série ininterrupta de benefícios, privados e públicos, cuja lembrança por toda parte foi imortalizada até mesmo com insignes instituições e monumentos. E também nos nossos tempos, trabalhados por múltiplas crises, folgamos reconhecer que justamente do Rosário têm provindo frutos salutares. Todavia, olhando em volta, Veneráveis Irmãos, vós mesmos vedes que ainda permanecem, e em parte agravados, os motivos para convidarmos, ainda este ano, os vossos fiéis a reavivarem o fervor das suas súplicas para com a Rainha do Céu.

2. Além disto, quanto mais fixamos o pensamento na íntima natureza do Rosário, tanto mais claramente se nos manifesta a sua excelência e utilidade. E por isto cresce em Nós o desejo e a esperança de que a Nossa recomendação seja tão eficaz que dê o mais amplo desenvolvimento a esta santíssima oração, difundindo-lhe sempre mais o conhecimento e a prática.

Confiança em Maria como mediadora

3. Para tal fim não evocaremos aqui os argumentos que, sob vários aspectos, expusemos sobre este mesmo assunto nos anos precedentes, mas, antes, apraz-nos considerar e expor como, de acordo com os divinos desígnios da Providência, o Rosário desperta no ânimo de quem reza uma suave confiança de ser atendido, e move a maternal piedade da Virgem bendita a corresponder a tal confiança com a ternura dos seus socorros.

4. O nosso suplicante recurso ao patrocínio de Maria funda-se no seu ofício de Mediadora da graça divina, ofício que ela - agradabilíssima a Deus pela sua dignidade e pelos seus méritos, e de longe superior em poder a todos os Santos - continuamente exerce por nós junto ao trono do Altíssimo. Ora, este seu ofício talvez por nenhum outro género de oração seja tão vivamente expresso como pelo Rosário, onde a parte tida pela Virgem na Redenção dos homens é posta tão em evidência que parece desenrolar-se agora ante o nosso olhar, e isto traz um singular proveito à piedade, seja na sucessiva contemplação dos sagrados mistérios, seja na recitação repetida das preces.

Nos mistérios gozosos

5. Primeiramente apresentam-se-nos os mistérios gozosos. O Filho eterno de Deus abaixa-se até aos homens, feito Ele próprio homem mas com o assentimento de Maria, "que o concebe do Espírito Santo". Daí ser João, por uma graça especial, "santificado" no seio materno e enriquecido de escolhidos dons "para preparar os caminhos do Senhor". Mas isto sucede em seguida à saudação de Maria, que, por divina inspiração, vai visitar sua parenta. Finalmente vem à luz o Cristo, "o esperado das nações", e vem à luz do seio da Virgem. Os pastores e os Magos, primícias da fé, dirigem-se com ânsia pressurosa ao seu berço, e "acham o Menino com Maria sua Mãe". Depois Ele quer ser levado em pessoa ao templo para se oferecer publicamente em holocausto a Deus Pai. Mas é por obra da Mãe que ali "é apresentado ao Senhor". É sempre ela que, na misteriosa perda do Filho, o procura com ansiosa solicitude e o reencontra com alegria imensa.

Nos mistérios dolorosos

6. No mesmo sentido falam os mistérios dolorosos. É verdade que Maria não está presente no horto de Getsémani, onde Jesus treme e está triste até à morte, e no pretório, onde é flagelado, coroado de espinhos, condenado à morte. Mas já desde tempo ela conhecera e vira claramente todas estas coisas. Com efeito, quando ela se ofereceu a Deus como escrava, para depois se tornar sua mãe, e quando no templo se consagrou inteiramente a Ele, juntamente com o Filho, já desde então, em virtude destes dois factos, ela se tornou participante da dolorosa expiação de Cristo, para vantagem do género humano. Não há, pois, dúvida alguma de que, mesmo por tal razão, durante as cruéis angústias e torturas do Filho ela experimentou no seu coração as mais agudas dores.

Aliás, na sua própria presença e sob seus olhos devia consumar-se aquele divino sacrifício para o qual, com o próprio leite, ela generosamente criara a vítima. Isto se contempla no último e mais comovente destes mistérios. "Estava junto à Cruz de Jesus Maria sua Mãe", a qual, movida por um imenso amor a nós, para nos ter como seus filhos ofereceu, ela mesma, seu Filho à justiça divina, e com Ele morreu no seu coração, traspassada pela espada da dor.

Nos mistérios gloriosos

7. Finalmente, nos mistérios gloriosos, que seguem os dolorosos, é mais copiosamente confirmado este mesmo misericordioso ofício da Virgem excelsa. Com tácita alegria ela saboreia a glória do Filho triunfante sobre a morte, segue-o depois com maternal afecto na sua volta à sede celeste. Mas, conquanto digna do Céu, ela é mantida na terra, como suprema consoladora e mestra da Igreja nascente, "ela penetrou, além de tudo o que se possa crer, nos profundos arcanos da sabedoria divina" (S. Bernardo, De Praerogativis B. M. V., n. 3).

E, pois que a obra santa da redenção dos homens não podia dizer-se completa antes da descida do Espírito Santo, prometido por Cristo, eis que a vemos lá naquele Cenáculo cheio de recordações, a orar-lhe, juntamente com os Apóstolos e em vantagem dos Apóstolos, com gemidos inenarráveis, a apressar para a Igreja a sabedoria do Espírito consolador, supremo dom de Cristo, tesouro que nunca lhe faltará. Porém em medida ainda mais cheia e perene ela poderá advogar a nossa causa quando tiver passado à vida imortal.

E, assim, deste vale de lágrimas vemo-la assunta à cidade santa de Jerusalém, por entre as festas dos coros angélicos, veneramo-la elevada acima da glória de todos os Santos, coroada de estrelas por seu divino Filho, sentada junto d'Ele, rainha e senhora do universo. Em todos estes mistérios, ó Veneráveis Irmãos, se tão bem se manifesta "o desígnio de Deus, desígnio de sabedoria e desígnio de misericórdia" (S. Bernardo, Sermo in Nativitate B. M. V., n. 6), não menos claramente brilhai ao mesmo tempo os grandíssimos benefícios da Virgem Mãe para connosco: benefícios que não podem deixar de nos encher de alegria, porque nos infundem a firme esperança de obtermos, pela mediação de Maria, a clemência e a misericórdia de Deus.

Nas orações vocais

8. Para este mesmo fim, em perfeita harmonia com os mistérios, tende a oração vocal. Procede, como é justo, a oração dominical dirigida ao Pai celeste. Em seguida, após haver invocado o mesmo Pai com a mais Pobre das orações, do trono da sua majestade a nossa suplicante volve-se para Maria, em obséquio à lembrada lei da sua, mediação e da sua intercessão, expressa por S. Bernardino de Sena com as seguintes palavras: "Toda graça que é comunicada a esta terra passa por três ordens sucessivas. De Deus é comunicada a Cristo, de Cristo à Virgem, e da Virgem a nós" (S. Bernardino de Sena, Sermo VI in Festis B. M. V., De Annunciatione, a. 1, c. 2).

E nós, na recitação do Rosário, passamos por todos os três graus desta escala, em diversa relação entre eles, porém mais longamente, e de certo modo com mais gosto, detemo-nos no último, repetindo por dez vezes a saudação angélica, como que para nos elevarmos com maior confiança aos outros graus, isto é, por meio de Cristo a Deus Padre.

Porquanto, se tornamos a repetir tantas vezes a mesma saudação a Maria, é para que a nossa oração, fraca e defeituosa, seja reforçada pela necessária confiança, confiança que surge em nós se pensarmos que Maria, mais do que rogar por nós, roga em nosso nome. Decerto as nossas vozes serão mais agradáveis e eficazes na presença de Deus se forem apoiadas pelos rogos da Virgem, à qual Ele mesmo dirige o amoroso convite: "Ressoe a tua voz ao meu ouvido, porque suave é a tua voz" (Cânt. 2, 14).

Por esta mesma razão, no Rosário nós tornamos tantas vezes a celebrar os seus gloriosos títulos de Mediadora. Em Maria saudamos aquela que "achou favor junto a Deus", aquela que foi por Ele, de modo singularíssimo, "cumulada de graça", para que tal superabundância se entornasse sobre todos os homens, aquela a quem o Senhor está unido pelo vínculo mais estreito que existir possa, aquela que, "bendita entre as mulheres", "só ela dissolveu a maldição e trouxe a bênção" (S. Tom., op. VIII, Sobre a Saudação Angélica, n. 8), ou seja o fruto bendito do seu seio, no qual "todas as nações são benditas", aquela, enfim, que invocamos como "Mãe de Deus".

Pois bem, em virtude de uma dignidade tão sublime, que coisa haverá que ela não possa pedir com segurança "para nós pecadores", e, por outro lado, que coisa haverá que não possamos esperar nós, em toda a vida e nas nossas extremas agonias?

9. Quem com toda diligência houver recitado estas orações e meditado com fé estes mistérios, não poderá deixar de admirar os desígnios divinos que uniram a Virgem Santíssima à salvação dos homens, e, com comovida confiança, desejará refugiar-se sob a sua protecção e no seu seio, repetindo a súplica de S. Bernardo: "Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que alguém que tenha recorrido à vossa protecção, implorado o vosso auxílio, invocado a vossa intercessão, tenha sido por vós desamparado".

O Rosário comove Maria em nosso favor

10. Porém a virtude que o Rosário tem de inspirar a confiança em quem o reza, possui-a também em mover à piedade para connosco o coração da Virgem. Quanto deve ser suave para ela ver-nos e escutar-nos, enquanto entrelaçamos em coroa pedidos para nós justíssimos e louvores para ela belíssimo! Assim rezando, nós desejamos e tributamos a Deus a glória que lhe é devida, procuramos unicamente o cumprimento dos seus acenos e da sua vontade, exaltamos a sua bondade e a sua munificência, chamando-lhe Pai e pedindo-lhe, embora indignos deles, os dons mais preciosos.

Com tudo isto Maria exulta imensamente, e, pela nossa piedade, de coração "magnifica o Senhor". Porque, quando nos dirigimos a Deus pela oração dominical, nós o suplicamos mediante uma oração digna d'Ele.

(cont.)

Revisão da versão portuguesa por ama