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Evangelho diário e comentário

Tempo de Quaresma Semana I
Evangelho: Lc 11, 29-32

29 Concorrendo as multidões, começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado outro sinal, senão o sinal do profeta Jonas. 30 Porque, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, assim o Filho do Homem será um sinal para esta geração. 31 A rainha do meio-dia levantar-se-á no dia do juízo contra os homens desta geração, e condená-los-á, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; e aqui está Quem é mais do que Salomão. 32 Os ninivitas levantar-se-ão no dia do juízo contra esta geração, e condená-la-ão, porque fizeram penitência com a pregação de Jonas; e aqui está Quem é mais do que Jonas!

Comentário:

Não acredita quem quer porque a Fé vem de Deus e só Ele a pode dar.

O que temos a fazer é pedir com perseverante veemência que, Ele, queira e, depois, termos absoluta certeza que estamos dispostos  a receber essa mesma fé e vivê-la tenha ela os “custos” que tiver.

(ama, comentário sobre Lc, 11, 29 - 32 2013.10.14, 2013.10.13)

Leitura espiritual para Mar 12

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)

Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Evangelho: Lc 7, 24-50

24 Tendo partido os mensageiros de João, começou Jesus a dizer à multidão acerca de João: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? 25 Mas que fostes ver? Um homem vestido com roupas delicadas? Mas os que vestem roupas preciosas e vivem entre delícias estão nos palácios dos reis. 26 Que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo Eu, e mais ainda que profeta .27 Este é aquele de quem está escrito: “Eis que Eu envio o Meu mensageiro à Tua frente, o qual preparará o Teu caminho diante de Ti”. 28 Porque Eu vos digo: Entre os nascidos de mulher não há maior profeta que João Baptista; porém, o que é menor no reino de Deus é maior do que ele». 29 Todo o povo que O ouviu, mesmo os publicanos, deram glória a Deus, recebendo o baptismo de João. 30 Os fariseus, porém, e os doutores da lei frustraram o desígnio de Deus a respeito deles, não se fazendo baptizar por ele. 31 «A quem, pois, compararei os homens desta geração? A quem são semelhantes? 32 São semelhantes a essas crianças que estão sentadas na praça, e que falam umas para as outras, dizendo: Tocámos flauta e vós não dançastes; entoámos música triste, e não chorastes. 33 Porque veio João Baptista, que não come pão nem bebe vinho, e dizeis: está possesso do demónio. 34 Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: eis um glutão e um bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. 35 Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos». 36 Um dos fariseus pediu-Lhe que fosse comer com ele. Tendo entrado em casa do fariseu, pôs-Se à mesa.37 Uma mulher, que era pecadora na cidade, quando soube que Ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um frasco de alabastro cheio de perfume. 38 Colocando-se a Seus pés, por detrás d'Ele, começou a banhar-Lhe os pés com as lágrimas, e enxugava-os com os cabelos da sua cabeça, beijava-os, e ungia-os com o perfume. 39 Vendo isto, o fariseu que O tinha convidado, disse consigo: «Se este fosse profeta, com certeza saberia de que espécie é a mulher que O toca: uma pecadora». 40 Jesus então tomou a palavra e disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa a dizer-te». Ele disse: «Mestre, fala». 41 «Um credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos denários, o outro cinquenta. 42 Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles, pois, o amará mais?». 43 Simão respondeu: «Creio que aquele a quem perdoou mais». Jesus disse-lhe: «Julgaste bem». 44 Em seguida, voltando-Se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não Me deste água para os pés; ela com as suas lágrimas banhou os Meus pés, e enxugou-os com os seus cabelos. 45 Não Me deste o ósculo; porém ela, desde que entrou, não cessou de beijar os Meus pés. 46 Não ungiste a Minha cabeça com óleo, porém esta ungiu com perfume os Meus pés. 47 Pelo que te digo: São-lhe perdoados os seus muitos pecados porque muito amou. Mas, aquele a quem menos se perdoa, menos ama». 48 Depois disse à mulher: «São-te perdoados os pecados». 49 Os convidados começaram a dizer entre si: «Quem é Este que até perdoa pecados?». 50 Mas Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou; vai em paz!».



EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS
SOBRE
O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL

Capítulo III

O ANÚNCIO DO EVANGELHO

II. A homilia

Uma catequese querigmática e mistagógica

163. A educação e a catequese estão ao serviço deste crescimento. Já temos à disposição vários textos do Magistério e subsídios sobre a catequese, preparados pela Santa Sé e por diversos episcopados. Lembro a Exortação Apostólica Catechesi Tradendae (1979), o Directório Geral para a Catequese (1997) e outros documentos cujo conteúdo, sempre actual, não é necessário repetir aqui. Queria deter-me apenas nalgumas considerações que me parece oportuno evidenciar.

164. Voltámos a descobrir que também na catequese tem um papel fundamental o primeiro anúncio ou querigma, que deve ocupar o centro da actividade evangelizadora e de toda a tentativa de renovação eclesial. O querigma é trinitário. É o fogo do Espírito que se dá sob a forma de línguas e nos faz crer em Jesus Cristo, que, com a sua morte e ressurreição, nos revela e comunica a misericórdia infinita do Pai. Na boca do catequista, volta a ressoar sempre o primeiro anúncio: «Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar». Ao designar-se como «primeiro» este anúncio, não significa que o mesmo se situa no início e que, em seguida, se esquece ou substitui por outros conteúdos que o superam; é o primeiro em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma ou doutra, durante a catequese, em todas as suas etapas e momentos. 126 Por isso, também «o sacerdote, como a Igreja, deve crescer na consciência da sua permanente necessidade de ser evangelizado». 127

165. Não se deve pensar que, na catequese, o querigma é deixado de lado em favor duma formação supostamente mais «sólida». Nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio. Toda a formação cristã é, primariamente, o aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, fazendo carne, que nunca deixa de iluminar a tarefa catequética, e permite compreender adequadamente o sentido de qualquer tema que se desenvolve na catequese. É o anúncio que dá resposta ao anseio de infinito que existe em todo o coração humano. A centralidade do querigma requer certas características do anúncio que hoje são necessárias em toda a parte: que exprima o amor salvífico de Deus como prévio à obrigação moral e religiosa, que não imponha a verdade mas faça apelo à liberdade, que seja pautado pela alegria, o estímulo, a vitalidade e uma integralidade harmoniosa que não reduza a pregação a poucas doutrinas, por vezes mais filosóficas que evangélicas. Isto exige do evangelizador certas atitudes que ajudam a acolher melhor o anúncio: proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena.

166. Outra característica da catequese, que se desenvolveu nas últimas décadas, é a iniciação mistagógica, 128 que significa essencialmente duas coisas: a necessária progressividade da experiência formativa na qual intervém toda a comunidade e uma renovada valorização dos sinais litúrgicos da iniciação cristã. Muitos manuais e planificações ainda não se deixaram interpelar pela necessidade duma renovação mistagógica, que poderia assumir formas muito diferentes de acordo com o discernimento de cada comunidade educativa. O encontro catequético é um anúncio da Palavra e está centrado nela, mas precisa sempre duma ambientação adequada e duma motivação atraente, do uso de símbolos eloquentes, da sua inserção num amplo processo de crescimento e da integração de todas as dimensões da pessoa num caminho comunitário de escuta e resposta.

167. É bom que toda a catequese preste uma especial atenção à «via da beleza (via pulchritudinis)». 129 Anunciar Cristo significa mostrar que crer n’Ele e segui-Lo não é algo apenas verdadeiro e justo, mas também belo, capaz de cumular a vida dum novo esplendor e duma alegria profunda, mesmo no meio das provações. Nesta perspectiva, todas as expressões de verdadeira beleza podem ser reconhecidas como uma senda que ajuda a encontrar-se com o Senhor Jesus. Não se trata de fomentar um relativismo estético, 130 que pode obscurecer o vínculo indivisível entre verdade, bondade e beleza, mas de recuperar a estima da beleza para poder chegar ao coração do homem e fazer resplandecer nele a verdade e a bondade do Ressuscitado. Se nós, como diz Santo Agostinho, não amamos senão o que é belo, 131 o Filho feito homem, revelação da beleza infinita, é sumamente amável e atrai-nos para Si com laços de amor. Por isso, torna-se necessário que a formação na via pulchritudinis esteja inserida na transmissão da fé. É desejável que cada Igreja particular incentive o uso das artes na sua obra evangelizadora, em continuidade com a riqueza do passado, mas também na vastidão das suas múltiplas expressões actuais, a fim de transmitir a fé numa nova «linguagem parabólica». 132 É preciso ter a coragem de encontrar os novos sinais, os novos símbolos, uma nova carne para a transmissão da Palavra, as diversas formas de beleza que se manifestam em diferentes âmbitos culturais, incluindo aquelas modalidades não convencionais de beleza que podem ser pouco significativas para os evangelizadores, mas tornaram-se particularmente atraentes para os outros.

168. Relativamente à proposta moral da catequese, que convida a crescer na fidelidade ao estilo de vida do Evangelho, é oportuno indicar sempre o bem desejável, a proposta de vida, de maturidade, de realização, de fecundidade, sob cuja luz se pode entender a nossa denúncia dos males que a podem obscurecer. Mais do que como peritos em diagnósticos apocalípticos ou juízes sombrios que se comprazem em detectar qualquer perigo ou desvio, é bom que nos possam ver como mensageiros alegres de propostas altas, guardiões do bem e da beleza que resplandecem numa vida fiel ao Evangelho.

O acompanhamento pessoal dos processos de crescimento

169. Numa civilização paradoxalmente ferida pelo anonimato e, simultaneamente, obcecada com os detalhes da vida alheia, descaradamente doente de morbosa curiosidade, a Igreja tem necessidade de um olhar solidário para contemplar, comover-se e parar diante do outro, tantas vezes quantas forem necessárias. Neste mundo, os ministros ordenados e os outros agentes de pastoral podem tornar presente a fragrância da presença solidária de Jesus e o seu olhar pessoal. A Igreja deverá iniciar os seus membros – sacerdotes, religiosos e leigos – nesta «arte do acompanhamento», para que todos aprendam a descalçar sempre as sandálias diante da terra sagrada do outro (cf. Ex 3, 5). Devemos dar ao nosso caminhar o ritmo salutar da proximidade, com um olhar respeitoso e cheio de compaixão, mas que ao mesmo tempo cure, liberte e anime a amadurecer na vida cristã.

170. Embora possa soar óbvio, o acompanhamento espiritual deve conduzir cada vez mais para Deus, em quem podemos alcançar a verdadeira liberdade. Alguns crêem-se livres quando caminham à margem de Deus, sem se dar conta que ficam existencialmente órfãos, desamparados, sem um lar para onde possam sempre voltar. Deixam de ser peregrinos para se transformarem em errantes, que giram indefinidamente ao redor de si mesmos, sem chegar a lado nenhum. O acompanhamento seria contraproducente, caso se tornasse uma espécie de terapia que incentive esta reclusão das pessoas na sua imanência e deixe de ser uma peregrinação com Cristo para o Pai.

171. Hoje mais do que nunca precisamos de homens e mulheres que conheçam, a partir da sua experiência de acompanhamento, o modo de proceder onde reine a prudência, a capacidade de compreensão, a arte de esperar, a docilidade ao Espírito, para no meio de todos defender as ovelhas a nós confiadas dos lobos que tentam desgarrar o rebanho. Precisamos de nos exercitar na arte de escutar, que é mais do que ouvir. Escutar, na comunicação com o outro, é a capacidade do coração que torna possível a proximidade, sem a qual não existe um verdadeiro encontro espiritual. Escutar ajuda-nos a individuar o gesto e a palavra oportunos que nos desinstalam da cómoda condição de espectadores. Só a partir desta escuta respeitosa e compassiva é que se pode encontrar os caminhos para um crescimento genuíno, despertar o desejo do ideal cristão, o anseio de corresponder plenamente ao amor de Deus e o anelo de desenvolver o melhor de quanto Deus semeou na nossa própria vida. Mas sempre com a paciência de quem está ciente daquilo que ensinava São Tomás de Aquino: alguém pode ter a graça e a caridade, mas não praticar bem nenhuma das virtudes «por causa de algumas inclinações contrárias» que persistem. 133 Por outras palavras, as virtudes organizam-se sempre e necessariamente «in habitu», embora os condicionamentos possam dificultar as operações desses hábitos virtuosos. Por isso, faz falta «uma pedagogia que introduza a pessoa passo a passo até chegar à plena apropriação do mistério». 134 Para se chegar a um estado de maturidade, isto é, para que as pessoas sejam capazes de decisões verdadeiramente livres e responsáveis, é preciso dar tempo ao tempo, com uma paciência imensa. Como dizia o Beato Pedro Fabro: «O tempo é o mensageiro de Deus».

172. Quem acompanha sabe reconhecer que a situação de cada pessoa diante de Deus e a sua vida em graça são um mistério que ninguém pode conhecer plenamente a partir do exterior. O Evangelho propõe-nos que se corrija e ajude a crescer uma pessoa a partir do reconhecimento da maldade objectiva das suas acções (cf. Mt 18, 15), mas sem proferir juízos sobre a sua responsabilidade e culpabilidade (cf. Mt 7, 1; Lc 6, 37). Seja como for, um válido acompanhante não transige com os fatalismos nem com a pusilanimidade. Sempre convida a querer curar-se, a pegar no catre (cf. Mt 9, 6), a abraçar a cruz, a deixar tudo e partir sem cessar para anunciar o Evangelho. A experiência pessoal de nos deixarmos acompanhar e curar, conseguindo exprimir com plena sinceridade a nossa vida a quem nos acompanha, ensina-nos a ser pacientes e compreensivos com os outros e habilita-nos a encontrar as formas para despertar neles a confiança, a abertura e a vontade de crescer.

173. O acompanhamento espiritual autêntico começa sempre e prossegue no âmbito do serviço à missão evangelizadora. A relação de Paulo com Timóteo e Tito é exemplo deste acompanhamento e desta formação durante a acção apostólica. Ao mesmo tempo que lhes confia a missão de permanecer numa cidade concreta para «acabar de organizar o que ainda falta» (Tt 1, 5; cf. 1 Tm 1, 3-5), dá-lhes os critérios para a vida pessoal e a actividade pastoral. Isto é claramente distinto de todo o tipo de acompanhamento intimista, de auto-realização isolada. Os discípulos missionários acompanham discípulos missionários.

Ao redor da Palavra de Deus

174. Não é só a homilia que se deve alimentar da Palavra de Deus. Toda a evangelização está fundada sobre esta Palavra escutada, meditada, vivida, celebrada e testemunhada. A Sagrada Escritura é fonte da evangelização. Por isso, é preciso formar-se continuamente na escuta da Palavra. A Igreja não evangeliza, se não se deixa continuamente evangelizar. É indispensável que a Palavra de Deus «se torne cada vez mais o coração de toda a actividade eclesial». 135 A Palavra de Deus ouvida e celebrada, sobretudo na Eucaristia, alimenta e reforça interiormente os cristãos e torna-os capazes de um autêntico testemunho evangélico na vida diária. Superámos já a velha contraposição entre Palavra e Sacramento: a Palavra proclamada, viva e eficaz, prepara a recepção do Sacramento e, no Sacramento, essa Palavra alcança a sua máxima eficácia.

175. O estudo da Sagrada Escritura deve ser uma porta aberta para todos os crentes. 136 É fundamental que a Palavra revelada fecunde radicalmente a catequese e todos os esforços para transmitir a fé. 137 A evangelização requer a familiaridade com a Palavra de Deus, e isto exige que as dioceses, paróquias e todos os grupos católicos proponham um estudo sério e perseverante da Bíblia e promovam igualmente a sua leitura orante pessoal e comunitária. 138 Nós não procuramos Deus tacteando, nem precisamos de esperar que Ele nos dirija a palavra, porque realmente «Deus falou, já não é o grande desconhecido, mas mostrou-Se a Si mesmo». 139 Acolhamos o tesouro sublime da Palavra revelada!

Capítulo IV

A DIMENSÃO SOCIAL DA EVANGELIZAÇÃO

176. Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo. «Nenhuma definição parcial e fragmentada, porém, chegará a dar razão da realidade rica, complexa e dinâmica que é a evangelização, a não ser com o risco de a empobrecer e até mesmo de a mutilar». 140 Desejo agora partilhar as minhas preocupações relacionadas com a dimensão social da evangelização, precisamente porque, se esta dimensão não for devidamente explicitada, corre-se sempre o risco de desfigurar o sentido autêntico e integral da missão evangelizadora.

I. As repercussões comunitárias e sociais do querigma

177.O querigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade.

Confissão da fé e compromisso social

178. Confessar um Pai que ama infinitamente cada ser humano implica descobrir que «assim lhe confere uma dignidade infinita». 141 Confessar que o Filho de Deus assumiu a nossa carne humana significa que cada pessoa humana foi elevada até ao próprio coração de Deus. Confessar que Jesus deu o seu sangue por nós impede-nos de ter qualquer dúvida acerca do amor sem limites que enobrece todo o ser humano. A sua redenção tem um sentido social, porque «Deus, em Cristo, não redime somente a pessoa individual, mas também as relações sociais entre os homens». 142 Confessar que o Espírito Santo actua em todos implica reconhecer que Ele procura permear toda a situação humana e todos os vínculos sociais: «O Espírito Santo possui uma inventiva infinita, própria da mente divina, que sabe prover a desfazer os nós das vicissitudes humanas mais complexas e impenetráveis». 143 A evangelização procura colaborar também com esta acção libertadora do Espírito. O próprio mistério da Trindade nos recorda que somos criados à imagem desta comunhão divina, pelo que não podemos realizar-nos nem salvar-nos sozinhos. A partir do coração do Evangelho, reconhecemos a conexão íntima que existe entre evangelização e promoção humana, que se deve necessariamente exprimir e desenvolver em toda a acção evangelizadora. A aceitação do primeiro anúncio, que convida a deixar-se amar por Deus e a amá-Lo com o amor que Ele mesmo nos comunica, provoca na vida da pessoa e nas suas acções uma primeira e fundamental reacção: desejar, procurar e ter a peito o bem dos outros.

179. Este laço indissolúvel entre a recepção do anúncio salvífico e um efectivo amor fraterno exprime-se nalguns textos da Escritura, que convém considerar e meditar atentamente para tirar deles todas as consequências. É uma mensagem a que frequentemente nos habituamos e repetimos quase mecanicamente, mas sem nos assegurarmos de que tenha real incidência na nossa vida e nas nossas comunidades. Como é perigoso e prejudicial este habituar-se que nos leva a perder a maravilha, a fascinação, o entusiasmo de viver o Evangelho da fraternidade e da justiça! A Palavra de Deus ensina que, no irmão, está o prolongamento permanente da Encarnação para cada um de nós: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). O que fizermos aos outros, tem uma dimensão transcendente: «Com a medida com que medirdes, assim sereis medidos» (Mt 7, 2); e corresponde à misericórdia divina para connosco: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado (...). A medida que usardes com os outros será usada convosco» (Lc 6, 36-38). Nestes textos, exprime-se a absoluta prioridade da «saída de si próprio para o irmão», como um dos dois mandamentos principais que fundamentam toda a norma moral e como o sinal mais claro para discernir sobre o caminho de crescimento espiritual em resposta à doação absolutamente gratuita de Deus. Por isso mesmo, «também o serviço da caridade é uma dimensão constitutiva da missão da Igreja e expressão irrenunciável da sua própria essência». 144 Assim como a Igreja é missionária por natureza, também brota inevitavelmente dessa natureza a caridade efectiva para com o próximo, a compaixão que compreende, assiste e promove.

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Notas:
126 Cf. Propositio 9.
127 João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis (25 de Março de 1992), 26: AAS 84 (1992), 698.
128 Cf. Propositio 38.
129 Cf. Propositio 20.
130 Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre os meios de comunicação social Inter mirifica, 6.
131 Cf. De musica, VI, 13, 38: PL 32, 1183-1184; Confessiones, IV, 13, 20: PL 32, 701.
132 Bento XVI, Discurso no final da projecção do documentário «Arte e fé – via pulchritudinis» (25 de Outubro de 2012): L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 03/XI/2012), 4.
133 Summa theologiae I-II, q. 65, a. 3, ad 2: «propter aliquas dispositiones contrarias».
134 João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Asia (6 de Novembro de 1999), 20: AAS 92 (2000), 481.
135 Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini (30 de Setembro de 2010), 1: AAS 102 (2010), 682.
136 Cf. Propositio 11.
137 Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Revelação divina Dei Verbum, 21-22.
138 Cf. Bento XVI, Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini (30 de Setembro de 2010), 86-87: AAS 102 (2010), 757-760.
139 Bento XVI, Meditação durante a primeira Congregação Geral do Sínodo dos Bispos (8 de Outubro de 2012): AAS 104 (2012), 896.
140 Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 17: AAS 68 (1976), 17.
141 João Paulo II, Alocução aos Inválidos, antes do Angelus (Catedral de Osnabrück, Alemanha, 16 de Novembro de 1980): Insegnamenti III/2 (1980), 1232.
142 Pont. Conselho «Justiça e Paz»,Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 52.
143 João Paulo II, Catequese (Audiência Geral de 24 de Abril de 1991): Insegnamenti XIV/1 (1991), 856.
144 Bento XVI, Carta ap. em forma de motu proprio Intima Ecclesiae natura (11 de Novembro de 2012), proémio: AAS 104 (2012), 996.



Tratado dos vícios e pecados 27

Questão 75: Das causas dos pecados em geral.

Art. 2 ― Se o pecado tem causa interior.

O segundo discute-se assim. ― Parece que o pecado não tem causa interior.

1. ― Pois, o que é interior a um ser sempre lhe está presente. Portanto, se o pecado tivesse causa interior, o homem pecaria sempre, porque, posta a causa, resulta o efeito.

2. Demais. ― Nada pode ser causa de si mesmo. Ora, os movimentos interiores do homem é que constituem o pecado. Logo, não são causa deste.

3. Demais. ― O que é interior ao homem ou é natural ou é voluntário. Ora, o natural não pode ser causa do pecado, por este ser contrário à natureza, como diz Damasceno 1. E o voluntário, se for desordenado, já é pecado. Logo, nada de intrínseco pode ser causa do primeiro pecado.

Mas, em contrário, Agostinho diz que o voluntário é causa do pecado 2.

Como já dissemos (a. 1), devemos deduzir do próprio acto a causa em si do pecado. Ora, podemos distinguir a causa interior mediata e imediata do acto humano. A sua causa imediata é a razão e a vontade, pela qual o homem é dotado de livre arbítrio. A causa remota é a apreensão da parte sensitiva e também o apetite sensitivo. Pois, assim como pelo juízo da razão e de acordo com ela, a vontade move-se para o seu objecto, assim também pela apreensão do sentido, o apetite sensitivo se inclina para o ser, inclinação que às vezes arrasta a vontade e a razão, como a seguir se estabelecerá claramente (q. 77, a. 1). Donde, podemos assinalar uma dupla causa interior do pecado: a próxima, relativa à razão e à vontade, e a remota, concernente à imaginação ou ao apetite sensitivo.

Mas, como já se disse (a. 1), a causa do pecado é algum bom motivo aparente, mas, a que falta o motivo devido, i. é, a regra da razão ou da lei divina. Por onde, o próprio motivo, que é o bem aparente, depende da apreensão do sentido e do apetite; e, por outro lado, a ausência mesma da regra devida depende da razão, naturalmente levada à consideração dessa regra. A perfeição porém do acto voluntário pecaminoso, depende da vontade, pois o próprio acto da vontade, com as premissas supostas, já é pecaminoso.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O que é intrínseco, como potência natural, sempre está presente, ao passo que nem sempre o está o intrínseco como acto interior do apetite ou da virtude apreensiva. Ora, a própria potência da vontade é causa potencial do pecado, a qual porém se actualiza pelos movimentos precedentes, da parte sensitiva, primeiro, e, consequentemente, da razão. Pois, por isso mesmo que um objecto é proposto como desejável ao sentido, a razão, às vezes, cessa de considerar a regra devida, e então, a vontade pratica o acto pecaminoso. E portanto, como os movimentos precedentes nem sempre são actuais, também o pecado nem sempre há-de sê-lo.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Nem todos os movimentos interiores são da substância do pecado, consistente principalmente num acto da vontade, mas, uns precedem o pecado, e outros são-lhe consequentes.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A causa do pecado, como potência produtora do acto, é natural. E o movimento da parte sensitiva, donde resulta o pecado, às vezes também o é, como quando pecamos desejando a comida. Mas vem a ser pecado inatural, por lhe faltar a regra natural a que o homem, pela sua natureza, deve atender.


Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. Lib. IV Orthod. Fid., cap. XX.
2. De duabus anim. Cap. X.




Orar é falar com Deus. Mas de quê?

Escreveste-me: "Orar é falar com Deus. Mas de quê?". De quê?! D'Ele e de ti; alegrias, tristezas, êxitos e fracassos, ambições nobres, preocupações diárias..., fraquezas; e acções de graças e pedidos; e Amor e desagravo. Em duas palavras: conhecê-Lo e conhecer-te – ganhar intimidade! (Caminho, 91)

Uma oração ao Deus da minha vida. Se Deus é vida para nós, não deve causar-nos estranheza que a nossa existência de cristãos tenha de estar embebida de oração. Mas não penseis que a oração é um acto que se realiza e se abandona logo a seguir. O justo encontra na lei de Iavé a sua complacência e procura acomodar-se a essa lei durante o dia e durante a noite. Pela manhã penso em ti; e, durante a tarde, dirige-se a ti a minha oração como o incenso. Todo o dia pode ser tempo de oração: da noite à manhã e da manhã à noite. Mais ainda: como nos recorda a Escritura Santa, também o sono deve ser oração.

(...) A vida de oração tem de fundamentar-se, além disso, em pequenos espaços de tempo, dedicados exclusivamente a estar com Deus. São momentos de colóquio sem ruído de palavras, junto ao Sacrário sempre que possível, para agradecer ao Senhor essa espera – tão só! – desde há vinte séculos. A oração mental é diálogo com Deus, de coração a coração, em que intervém a alma toda: a inteligência e a imaginação, a memória e a vontade. Uma meditação que contribui a dar valor sobrenatural à nossa pobre vida humana, à nossa vida corrente e diária.

Graças a esses tempos de meditação, às orações vocais, às jaculatórias, saberemos converter a nossa jornada, com naturalidade e sem espectáculo, num contínuo louvor a Deus. Manter-nos-emos na sua presença, como os que estão enamorados dirigem continuamente o seu pensamento à pessoa que amam, e todas as nossas acções – inclusivamente as mais pequenas – encher-se-ão de eficácia espiritual.


Por isso, quando um cristão se lança por este caminho de intimidade ininterrupta com o Senhor – e é um caminho para todos, não uma senda para privilegiados – a vida interior cresce, segura e firme; e o homem empenha-se nessa luta, amável e exigente ao mesmo tempo, por realizar até ao fim a vontade de Deus. (Cristo que passa, 119)

Pequena agenda do cristão


Quarta-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

Propósito: Simplicidade e modéstia.

Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.

Lembrar-me: Do meu Anjo da Guarda.

Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu
interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente.
Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?