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12/03/2014

Tratado dos vícios e pecados 27

Questão 75: Das causas dos pecados em geral.

Art. 2 ― Se o pecado tem causa interior.

O segundo discute-se assim. ― Parece que o pecado não tem causa interior.

1. ― Pois, o que é interior a um ser sempre lhe está presente. Portanto, se o pecado tivesse causa interior, o homem pecaria sempre, porque, posta a causa, resulta o efeito.

2. Demais. ― Nada pode ser causa de si mesmo. Ora, os movimentos interiores do homem é que constituem o pecado. Logo, não são causa deste.

3. Demais. ― O que é interior ao homem ou é natural ou é voluntário. Ora, o natural não pode ser causa do pecado, por este ser contrário à natureza, como diz Damasceno 1. E o voluntário, se for desordenado, já é pecado. Logo, nada de intrínseco pode ser causa do primeiro pecado.

Mas, em contrário, Agostinho diz que o voluntário é causa do pecado 2.

Como já dissemos (a. 1), devemos deduzir do próprio acto a causa em si do pecado. Ora, podemos distinguir a causa interior mediata e imediata do acto humano. A sua causa imediata é a razão e a vontade, pela qual o homem é dotado de livre arbítrio. A causa remota é a apreensão da parte sensitiva e também o apetite sensitivo. Pois, assim como pelo juízo da razão e de acordo com ela, a vontade move-se para o seu objecto, assim também pela apreensão do sentido, o apetite sensitivo se inclina para o ser, inclinação que às vezes arrasta a vontade e a razão, como a seguir se estabelecerá claramente (q. 77, a. 1). Donde, podemos assinalar uma dupla causa interior do pecado: a próxima, relativa à razão e à vontade, e a remota, concernente à imaginação ou ao apetite sensitivo.

Mas, como já se disse (a. 1), a causa do pecado é algum bom motivo aparente, mas, a que falta o motivo devido, i. é, a regra da razão ou da lei divina. Por onde, o próprio motivo, que é o bem aparente, depende da apreensão do sentido e do apetite; e, por outro lado, a ausência mesma da regra devida depende da razão, naturalmente levada à consideração dessa regra. A perfeição porém do acto voluntário pecaminoso, depende da vontade, pois o próprio acto da vontade, com as premissas supostas, já é pecaminoso.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O que é intrínseco, como potência natural, sempre está presente, ao passo que nem sempre o está o intrínseco como acto interior do apetite ou da virtude apreensiva. Ora, a própria potência da vontade é causa potencial do pecado, a qual porém se actualiza pelos movimentos precedentes, da parte sensitiva, primeiro, e, consequentemente, da razão. Pois, por isso mesmo que um objecto é proposto como desejável ao sentido, a razão, às vezes, cessa de considerar a regra devida, e então, a vontade pratica o acto pecaminoso. E portanto, como os movimentos precedentes nem sempre são actuais, também o pecado nem sempre há-de sê-lo.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Nem todos os movimentos interiores são da substância do pecado, consistente principalmente num acto da vontade, mas, uns precedem o pecado, e outros são-lhe consequentes.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A causa do pecado, como potência produtora do acto, é natural. E o movimento da parte sensitiva, donde resulta o pecado, às vezes também o é, como quando pecamos desejando a comida. Mas vem a ser pecado inatural, por lhe faltar a regra natural a que o homem, pela sua natureza, deve atender.


Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. Lib. IV Orthod. Fid., cap. XX.
2. De duabus anim. Cap. X.




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