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10/03/2014

Pequena agenda do cristão



Segunda-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

Propósito: Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me: Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista o Papa e vivifique santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Tua Igreja na Tua fortaleza.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame: Cumpri o propósito  que me propus ontem?


Evangelho diário e comentário

Tempo de Quaresma Semana I
Evangelho: Mt 25, 31-46

31 «Quando, pois, vier o Filho do Homem na Sua majestade, e todos os anjos com Ele, então Se sentará sobre o trono de Sua majestade. 32 Todas as nações serão congregadas diante d'Ele, e separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, 33 e porá as ovelhas à sua direita, e os cabritos à esquerda. 34 «Dirá então o Rei aos que estiverem à Sua direita: “Vinde, benditos de Meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde a criação do mundo, 35 porque tive fome, e Me destes de comer; tive sede, e Me destes de beber; era peregrino, e Me recolhestes; 36 nu, e Me vestistes; enfermo, e Me visitastes; estava na prisão, e fostes ver-Me”. 37 Então, os justos Lhe responderão: “Senhor, quando é que nós Te vimos faminto, e Te demos de comer; com sede, e Te demos de beber? 38 Quando Te vimos peregrino, e Te recolhemos; nu, e Te vestimos? 39 Ou quando Te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-Te?”. 40 O Rei, respondendo, lhes dirá: “Em verdade vos digo que todas as vezes que vós fizestes isto a um destes Meus irmãos mais pequenos, a Mim o fizestes”. 41 Em seguida, dirá aos que estiverem à esquerda: “Apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, que foi preparado para o demónio e para os seus anjos; 42 porque tive fome, e não Me destes de comer; tive sede, e não Me destes de beber; 43 era peregrino, e não Me recolhestes; estava nu, e não Me vestistes; enfermo e na prisão, e não Me visitastes”. 44 Então, eles também responderão: “Senhor, quando é que nós Te vimos faminto ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não Te assistimos?”. 45 E lhes responderá: “Em verdade vos digo: Todas as vezes que o não fizestes a um destes mais pequenos, foi a Mim que não o fizestes”. 46 E esses irão para o suplício eterno; e os justos para a vida eterna».
Comentário:
É extraordinário verificar como o Senhor se “ contenta” com tão pouco que nem um simples copo de água deixa sem recompensa!

Com Ele revê-se nos pobres e marginalizados da vida e da sociedade que vivem com carências tremendas muitas vezes muito para além do mínimo a que um ser humano tem direito sem que a sua dignidade intrínseca seja severamente ofendida.

Não podemos, evidentemente, socorrer a todos – pobres sempre os tereis convosco, disse o Senhor – mas, e aquele que está ali, ao nosso lado, com quem nos cruzamos nos caminhos da vida, sim… esse mesmo a quem, muitas vezes fingimos que não vemos…

Não podemos fazer nada?!!!

Sim… evidentemente que podemos, se não for possível dar da nossa carteira – o quer seria muito útil – sê-lo-á sempre dar do nosso coração, o que será muito conveniente.

(ama, comentário sobre Mt 25, 31-46, 2013.02.18)

Leitura espiritual para Mar 10

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)

Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Evangelho: Lc 6, 27-49

27 «Mas digo-vos a vós, que Me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; 28 abençoai os que vos amaldiçoam, orai pelos que vos caluniam. 29 Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. Ao que te tirar o manto, não o impeças de levar também a túnica. 30 Dá a todo aquele que te pede; e ao que leva o que é teu, não lho tornes a pedir. 31 O que quereis que vos façam os homens, fazei-o vós também a eles. 32 Se amais os que vos amam, que mérito tendes? Porque os pecadores também amam quem os ama. 33 Se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que mérito tendes? Os pecadores também fazem o mesmo. 34 Se emprestardes àqueles de quem esperais receber, que mérito tendes? Os pecadores também emprestam aos pecadores, para que se lhes faça outro tanto. 35 Vós, porém, amai os vossos inimigos; fazei bem e emprestai sem daí esperardes nada; e será grande a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, que é bom para com os ingratos e os maus. 36 Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. 37 Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; 38 dai e dar-se-vos-á. Uma medida boa, cheia, recalcada e a transbordar vos será lançada nas dobras do vosso vestido. Porque, com a mesma medida com que medirdes para os outros, será medido para vós». 39 Dizia-lhes também esta comparação: «Pode, porventura, um cego guiar outro cego? Não cairão ambos nalguma cova? 40 O discípulo não é mais que o mestre; mas todo o discípulo será perfeito, se for como o seu mestre. 41 «Porque vês tu a palha no olho do teu irmão, e não notas a trave que tens no teu? 42 Ou como podes tu dizer a teu irmão: “Deixa, irmão, que eu tire do teu olho a palha”, não vendo tu mesmo a trave que tens no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e depois verás bem para tirar a palha do olho de teu irmão. 43 Porque não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. 44 Porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto; pois nem se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos. 45 O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; o homem mau, do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala da abundância do coração. 46 «Porque Me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que Eu vos digo? 47 Todo aquele que vem a Mim, ouve as Minhas palavras, e as põe em prática, vou mostrar-vos a quem é semelhante. 48 É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou profundamente e pôs os alicerces sobre a rocha. Vindo uma inundação, investiu a torrente contra aquela casa e não pôde movê-la, porque estava bem edificada. 49 Mas quem ouve e não pratica, é semelhante a um homem que edificou a sua casa sobre a terra, sem alicerces. Investiu a torrente contra ela, e logo caiu, e foi grande a ruína daquela casa».




EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS
SOBRE
O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL

Capítulo III

O ANÚNCIO DO EVANGELHO
                    
II. A homilia

135. Consideremos agora a pregação dentro da Liturgia, que requer uma séria avaliação por parte dos Pastores. Deter-me-ei particularmente, e até com certa meticulosidade, na homilia e sua preparação, porque são muitas as reclamações relacionadas com este ministério importante, e não podemos fechar os ouvidos. A homilia é o ponto de comparação para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um Pastor com o seu povo. De facto, sabemos que os fiéis lhe dão muita importância; e, muitas vezes, tanto eles como os próprios ministros ordenados sofrem: uns a ouvir e os outros a pregar. É triste que assim seja. A homilia pode ser, realmente, uma experiência intensa e feliz do Espírito, um consolador encontro com a Palavra, uma fonte constante de renovação e crescimento.

136. Renovemos a nossa confiança na pregação, que se funda na convicção de que é Deus que deseja alcançar os outros através do pregador e de que Ele mostra o seu poder através da palavra humana. São Paulo fala vigorosamente sobre a necessidade de pregar, porque o Senhor quis chegar aos outros por meio também da nossa palavra (cf. Rm 10, 14-17). Com a palavra, Nosso Senhor conquistou o coração da gente. De todas as partes, vinham para O ouvir (cf. Mc 1, 45). Ficavam maravilhados, «bebendo» os seus ensinamentos (cf. Mc 6, 2). Sentiam que lhes falava como quem tem autoridade (cf. Mc 1, 27). E os Apóstolos, que Jesus estabelecera «para estarem com Ele e para os enviar a pregar» (Mc 3, 14), atraíram para o seio da Igreja todos os povos com a palavra (cf. Mc 16, 15.20).

O contexto litúrgico

137. Agora é oportuno recordar que «a proclamação litúrgica da Palavra de Deus, principalmente no contexto da assembleia eucarística, não é tanto um momento de meditação e de catequese, como sobretudo o diálogo de Deus com o seu povo, no qual se proclamam as maravilhas da salvação e se propõem continuamente as exigências da Aliança». 112 Reveste-se de um valor especial a homilia, derivado do seu contexto eucarístico, que supera toda a catequese por ser o momento mais alto do diálogo entre Deus e o seu povo, antes da comunhão sacramental. A homilia é um retomar este diálogo que já está estabelecido entre o Senhor e o seu povo. Aquele que prega deve conhecer o coração da sua comunidade para identificar onde está vivo e ardente o desejo de Deus e também onde é que este diálogo de amor foi sufocado ou não pôde dar fruto.

138. A homilia não pode ser um espectáculo de divertimento, não corresponde à lógica dos recursos mediáticos, mas deve dar fervor e significado à celebração. É um género peculiar, já que se trata de uma pregação no quadro duma celebração litúrgica; por conseguinte, deve ser breve e evitar que se pareça com uma conferência ou uma lição. O pregador pode até ser capaz de manter vivo o interesse das pessoas por uma hora, mas assim a sua palavra torna-se mais importante que a celebração da fé. Se a homilia se prolonga demasiado, lesa duas características da celebração litúrgica: a harmonia entre as suas partes e o seu ritmo. Quando a pregação se realiza no contexto da Liturgia, incorpora-se como parte da oferenda que se entrega ao Pai e como mediação da graça que Cristo derrama na celebração. Este mesmo contexto exige que a pregação oriente a assembleia, e também o pregador, para uma comunhão com Cristo na Eucaristia, que transforme a vida. Isto requer que a palavra do pregador não ocupe um lugar excessivo, para que o Senhor brilhe mais que o ministro.

A conversa da mãe

139. Dissemos que o povo de Deus, pela acção constante do Espírito nele, se evangeliza continuamente a si mesmo. Que implicações têm esta convicção para o pregador? Lembra-nos que a Igreja é mãe e prega ao povo como uma mãe fala ao seu filho, sabendo que o filho tem confiança de que tudo o que se lhe ensina é para seu bem, porque se sente amado. Além disso, a boa mãe sabe reconhecer tudo o que Deus semeou no seu filho, escuta as suas preocupações e aprende com ele. O espírito de amor que reina numa família guia tanto a mãe como o filho nos seus diálogos, nos quais se ensina e aprende, se corrige e valoriza o que é bom; assim deve acontecer também na homilia. O Espírito que inspirou os Evangelhos e actua no povo de Deus, inspira também como se deve escutar a fé do povo e como se deve pregar em cada Eucaristia. Portanto a pregação cristã encontra, no coração da cultura do povo, um manancial de água viva tanto para saber o que se deve dizer como para encontrar o modo mais apropriado para o dizer. Assim como todos gostamos que nos falem na nossa língua materna, assim também, na fé, gostamos que nos falem em termos da «cultura materna», em termos do idioma materno (cf. 2 Mac 7, 21.27), e o coração dispõe-se a ouvir melhor. Esta linguagem é uma tonalidade que transmite coragem, inspiração, força, impulso.

140. Este âmbito materno-eclesial, onde se desenrola o diálogo do Senhor com o seu povo, deve ser encarecido e cultivado através da proximidade cordial do pregador, do tom caloroso da sua voz, da mansidão do estilo das suas frases, da alegria dos seus gestos. Mesmo que às vezes a homilia seja um pouco maçante, se houver este espírito materno-eclesial, será sempre fecunda, tal como os conselhos maçantes duma mãe, com o passar do tempo, dão fruto no coração dos filhos.

141. Ficamos admirados com os recursos empregues pelo Senhor para dialogar com o seu povo, revelar o seu mistério a todos, cativar a gente comum com ensinamentos tão elevados e exigentes. Creio que o segredo de Jesus esteja escondido naquele seu olhar o povo mais além das suas fraquezas e quedas: «Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino» (Lc 12, 32); Jesus prega com este espírito. Transbordando de alegria no Espírito, bendiz o Pai por Lhe atrair os pequeninos: «Bendigo-Te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos» (Lc 10, 21). O Senhor compraz-Se verdadeiramente em dialogar com o seu povo, e compete ao pregador fazer sentir este gosto do Senhor ao seu povo.

Palavras que abrasam os corações

142. Um diálogo é muito mais do que a comunicação duma verdade. Realiza-se pelo prazer de falar e pelo bem concreto que se comunica através das palavras entre aqueles que se amam. É um bem que não consiste em coisas, mas nas próprias pessoas que mutuamente se dão no diálogo. A pregação puramente moralista ou doutrinadora e também a que se transforma numa lição de exegese reduzem esta comunicação entre os corações que se verifica na homilia e que deve ter um carácter quase sacramental: «A fé surge da pregação, e a pregação surge pela palavra de Cristo» (Rm 10, 17). Na homilia, a verdade anda de mãos dadas com a beleza e o bem. Não se trata de verdades abstractas ou de silogismos frios, porque se comunica também a beleza das imagens que o Senhor utilizava para incentivar a prática do bem. A memória do povo fiel, como a de Maria, deve ficar transbordante das maravilhas de Deus. O seu coração, esperançado na prática alegre e possível do amor que lhe foi anunciado, sente que toda a palavra na Escritura, antes de ser exigência, é dom.

143. O desafio duma pregação inculturada consiste em transmitir a síntese da mensagem evangélica, e não ideias ou valores soltos. Onde está a tua síntese, ali está o teu coração. A diferença entre fazer luz com sínteses e o fazê-lo com ideias soltas é a mesma que há entre o ardor do coração e o tédio. O pregador tem a belíssima e difícil missão de unir os corações que se amam: o do Senhor e os do seu povo. O diálogo entre Deus e o seu povo reforça ainda mais a aliança entre ambos e estreita o vínculo da caridade. Durante o tempo da homilia, os corações dos crentes fazem silêncio e deixam-No falar a Ele. O Senhor e o seu povo falam-se de mil e uma maneiras directamente, sem intermediários, mas, na homilia, querem que alguém sirva de instrumento e exprima os sentimentos, de modo que, depois, cada um possa escolher como continuar a sua conversa. A palavra é, essencialmente, mediadora e necessita não só dos dois dialogantes mas também de um pregador que a represente como tal, convencido de que «não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos vossos servos, por amor de Jesus» (2 Cor 4, 5).

144. Falar com o coração implica mantê-lo não só ardente, mas também iluminado pela integridade da Revelação e pelo caminho que essa Palavra percorreu no coração da Igreja e do nosso povo fiel ao longo da sua história. A identidade cristã, que é aquele abraço baptismal que o Pai nos deu em pequeninos, faz-nos anelar, como fi-lhos pródigos – e predilectos em Maria –, pelo outro abraço, o do Pai misericordioso que nos espera na glória. Fazer com que o nosso povo se sinta, de certo modo, no meio destes dois abraços é a tarefa difícil, mas bela, de quem prega o Evangelho.

III. A preparação da pregação

145. A preparação da pregação é uma tarefa tão importante que convém dedicar-lhe um tempo longo de estudo, oração, reflexão e criatividade pastoral. Com muita amizade, quero deter-me a propor um itinerário de preparação da homilia. Trata-se de indicações que, para alguns, poderão parecer óbvias, mas considero oportuno sugeri-las para recordar a necessidade de dedicar um tempo privilegiado a este precioso ministério. Alguns párocos sustentam frequentemente que isto não é possível por causa de tantas incumbências que devem desempenhar; todavia atrevo-me a pedir que todas as semanas se dedique a esta tarefa um tempo pessoal e comunitário suficientemente longo, mesmo que se tenha de dar menos tempo a outras tarefas também importantes. A confiança no Espírito Santo que actua na pregação não é meramente passiva, mas activa e criativa. Implica oferecer-se como instrumento (cf. Rm 12, 1), com todas as próprias capacidades, para que possam ser utilizadas por Deus. Um pregador que não se prepara não é «espiritual»: é desonesto e irresponsável quanto aos dons que recebeu.

O culto da verdade

146. O primeiro passo, depois de invocar o Espírito Santo, é prestar toda a atenção ao texto bíblico, que deve ser o fundamento da pregação. Quando alguém se detém procurando compreender qual é a mensagem dum texto, exerce o «culto da verdade». 113 É a humildade do coração que reconhece que a Palavra sempre nos transcende, que somos, «não os árbitros nem os proprietários, mas os depositários, os arautos e os servidores». 114 Esta atitude de humilde e deslumbrada veneração da Palavra exprime-se detendo-se a estudá-la com o máximo cuidado e com um santo temor de a manipular. Para se poder interpretar um texto bíblico, faz falta paciência, pôr de parte toda a ansiedade e atribuir-lhe tempo, interesse e dedicação gratuita. Há que pôr de lado qualquer preocupação que nos inquiete, para entrar noutro âmbito de serena atenção. Não vale a pena dedicar-se a ler um texto bíblico, se aquilo que se quer obter são resultados rápidos, fáceis ou imediatos. Por isso, a preparação da pregação requer amor. Uma pessoa só dedica um tempo gratuito e sem pressa às coisas ou às pessoas que ama; e aqui trata-se de amar a Deus, que quis falar. A partir deste amor, uma pessoa pode deter-se todo o tempo que for necessário, com a atitude dum discípulo: «Fala, Senhor; o teu servo escuta» (1 Sam 3, 9).

147. Em primeiro lugar, convém estarmos seguros de compreender adequadamente o significado das palavras que lemos. Quero insistir em algo que parece evidente, mas que nem sempre é tido em conta: o texto bíblico, que estudamos, tem dois ou três mil anos, a sua linguagem é muito diferente da que usamos agora. Por mais que nos pareça termos entendido as palavras, que estão traduzidas na nossa língua, isso não significa que compreendemos correctamente tudo o que o escritor sagrado queria exprimir. São conhecidos os vários recursos que proporciona a análise literária: prestar atenção às palavras que se repetem ou evidenciam, reconhecer a estrutura e o dinamismo próprio dum texto, considerar o lugar que ocupam os personagens, etc. Mas o objectivo não é o de compreender todos os pequenos detalhes dum texto; o mais importante é descobrir qual é a mensagem principal, a mensagem que confere estrutura e unidade ao texto. Se o pregador não faz este esforço, é possível que também a sua pregação não tenha unidade nem ordem; o seu discurso será apenas uma súmula de várias ideias desarticuladas que não conseguirão mobilizar os outros. A mensagem central é aquela que o autor quis primariamente transmitir, o que implica identificar não só uma ideia mas também o efeito que esse autor quis produzir. Se um texto foi escrito para consolar, não deveria ser utilizado para corrigir erros; se foi escrito para exortar, não deveria ser utilizado para instruir; se foi escrito para ensinar algo sobre Deus, não deveria ser utilizado para explicar várias opiniões teológicas; se foi escrito para levar ao louvor ou ao serviço missionário, não o utilizemos para informar sobre as últimas notícias.

148. É verdade que, para se entender adequadamente o sentido da mensagem central dum texto, é preciso colocá-lo em ligação com o ensinamento da Bíblia inteira, transmitida pela Igreja. Este é um princípio importante da interpretação bíblica, que tem em conta que o Espírito Santo não inspirou só uma parte, mas a Bíblia inteira, e que, nalgumas questões, o povo cresceu na sua compreensão da vontade de Deus a partir da experiência vivida. Assim se evitam interpretações equivocadas ou parciais, que contradizem outros ensinamentos da mesma Escritura. Mas isto não significa enfraquecer a acentuação própria e específica do texto que se deve pregar. Um dos defeitos duma pregação enfadonha e ineficaz é precisamente não poder transmitir a força própria do texto que foi proclamado.

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Notas:
112 João Paulo II, Carta ap. Dies Domini (31 de Maio de 1998), 41: AAS 90 (1998), 738-739.
113 Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi (8 de Dezembro de 1975), 78: AAS 68 (1976), 71.
114 Ibid., 78: o. c., 71.



Tratado dos vícios e pecados 26

Questão 74: Do sujeito dos pecados.

Art. 10 – Se na razão superior, como tal, i. é, enquanto contempla as razões eternas, pode haver pecado venial.

(II Sent., dist. XXIV, q. 6, a. 5; De Verit., q. 15, a. 5; De Malo, q. 7, a. 5)

O décimo discute-se assim. ― Parece que na razão superior, como tal, i. é, enquanto contemplativa das razões eternas, não pode haver pecado venial.

1. ― Pois, o acto da potência não vem a ser deficiente senão porque se comporta desordenadamente em relação ao seu objecto. Ora, o objecto da razão superior são as razões eternas, das quais não é possível afastar-se sem pecado mortal. Logo, na razão superior, como tal, não pode haver pecado venial.

2. Demais. ― Sendo a razão uma potência deliberativa, o seu acto é sempre acompanhado de deliberação. Ora, todo acto deliberadamente desordenado, relativo às coisas de Deus, é pecado mortal. Logo, na razão superior como tal não há nunca pecado venial.

3. Demais. ― Às vezes acontece que o pecado sub-reptício é venial. É mortal, ao contrário, o que implica deliberação, porque a razão deliberante se apoia num bem maior, agindo contra o qual peca mais gravemente. Assim, se a razão, consentindo deliberadamente num acto deleitável desordenado e contrário à lei de Deus, pecará mais gravemente do que se considerar que esse acto só é contrário a uma virtude moral. Ora, a razão superior não pode apoiar-se em nada mais elevado do que o seu objecto. Logo, se a moção sub-reptícia não for pecado mortal, nem o fará tal a deliberação superveniente, o que é evidentemente falso. Logo, na razão superior, como tal, não pode haver pecado venial.

Mas, em contrário. ―A moção sub-reptícia de infidelidade é pecado venial. Ora, é próprio da razão superior como tal. Logo, nela, como tal, pode haver pecado venial.

A razão superior é levada, de um modo, para o seu objecto, e, de outro, para os objectos das potências inferiores, dirigidas por ela. ― Ora, não é levada para os objectos dessas potências, senão na medida em que consulta, sobre eles, as razões eternas. Portanto não é levado para eles senão por deliberação. Ora, o consentimento deliberado no pecado genericamente mortal, constitui pecado mortal. Logo, a razão superior peca sempre mortalmente, se forem pecados mortais os actos das potências inferiores em que consente.

Por outro lado, ela é capaz de dois actos, relativamente ao seu objecto próprio, a saber: a simples intuição, e a deliberação, pela qual, mesmo relativamente ao seu objecto próprio, consulta as razões eternas. Ora, por simples intuição, ela é suscetível a uma moção desordenada relativa às coisas divinas, assim, quando nos sobrevém uma súbita moção de infidelidade. E embora esta seja genericamente, pecado mortal, contudo a seu súbito consentimento é só venial. Porque se não há pecado mortal senão contra a lei de Deus, pode contudo uma verdade de fé aparecer subitamente à razão sob um aspecto diferente, antes de, no caso, ser ou poder ser consultada a razão eterna, i. é, a lei de Deus. Assim, se tivermos o súbito pensamento de ser impossível na ordem natural a ressurreição dos mortos, e subitamente rejeitá-la antes de ter tempo de deliberar que nos foi transmitida, para nela crermos, pela lei divina. Se porém, depois dessa deliberação, permanecer a moção de infidelidade, haverá pecado mortal. E portanto, em relação ao seu objecto próprio, a razão superior pode, nos movimentos súbitos, pecar venialmente, ou mesmo mortalmente, por consentimento deliberado, embora o pecado seja, no seu género, mortal. No atinente, porém, às potências inferiores, peca sempre mortalmente, quanto ao pecado genericamente mortal, mas não quanto aos genericamente veniais.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O pecado contra as razões eternas, embora só genericamente mortal, pode contudo ser venial, por causa da imperfeição da moção súbita, como já se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Na ordem dos actos, a razão a que pertence a deliberação pertence também a simples intuição daquilo de que a deliberação procede, assim como também, na ordem especulativa, pertence à razão formar tanto os silogismos como as proposições. E portanto, a razão também pode ser susceptível de movimentos súbitos.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Um mesmo objecto pode ser susceptível de considerações diversas, dos quais seja um superior ao outro. Assim, Deus pode ser considerado, ou enquanto cognoscível pela razão humana, ou enquanto ensinado pela revelação divina, que é consideração mais alta. E portanto, embora o objecto da razão superior seja algo de altíssimo, por natureza, pode contudo ser reduzido a uma consideração mais alta. E por esta razão, aquilo que, no movimento súbito, não era pecado mortal, vem a sê-lo, pela deliberação redutora a uma consideração mais alta, como ficou exposto.                               

Revisão da tradução portuguesa por ama

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Diálogos apostólicos 6

Reservando a privacidade e sob este título genérico de ‘Diálogos apostólicos’ publicam-se alguns diálogos, recados e excertos de conversas a respeito da Melhoria Pessoal e da Vida Interior.

Que possam ter utilidade na reflexão sobre situações talvez bastante comuns a quem envereda por estes caminhos.

Renova a alegria de lutar

Em certos momentos angustia-te um princípio de desânimo, que mata todo o teu entusiasmo, e que mal consegues vencer à força de actos de esperança. Não importa; é a melhor hora de pedir mais graça a Deus, e avante! Renova a alegria de lutar, ainda que percas uma escaramuça. (Sulco, 77)

Com monótona cadência sai da boca de muitos o ritornello já tão vulgar, de que a esperança é a última coisa que se perde; como se a esperança fosse um apoio para continuarmos a deambular sem complicações, sem inquietações de consciência; ou como se fosse um expediente que permite adiar sine die a oportuna rectificação do procedimento, a luta para alcançar metas nobres e, sobretudo, o fim supremo de nos unirmos com Deus.


Eu diria que esse é o caminho para confundir a esperança com a comodidade. No fundo, não há ânsias de conseguir um verdadeiro bem, nem espiritual, nem material legítimo; a mais alta pretensão de alguns reduz-se a evitar o que poderia alterar a tranquilidade – aparente – de uma existência medíocre. Com uma alma tímida, acanhada, preguiçosa, a criatura enche-se de egoísmos subtis e conforma-se com o facto de os dias, os anos decorrerem sine spe nec metu, sem aspirações que exijam esforço, sem os perigos da peleja: o que importa é evitar o risco do desaire e das lágrimas. Que longe se está de obter uma coisa, se se malogrou o desejo de a possuir, por temor das exigências que a sua conquista comporta! (Amigos de Deus, n. 207)