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06/12/2014

Tratado do verbo encarnado 51

Questão 7: Da graça de Cristo como um homem particular

Art. 5 — Se em Cristo existiam os dons.

O quinto discute-se assim. — Parece que em Cristo não existiam os dons.

1 — Pois, como geralmente se diz, os dons são conferidos como auxiliares das virtudes. Ora, o em si mesmo perfeito não precisa de auxílio externo. Logo, como Cristo tinha a perfeição das virtudes, nele não existiram os dons.

2. Demais. — Não pode a mesma pessoa conferir e receber os dons, pois, dá quem tem e recebe quem não tem. Ora, Cristo podia conferir dons, segundo a Escritura: Tornaste dons para os distribuíres aos homens. Logo, não podia receber os dons do Espírito Santo.

3. Demais. — São quatro os dons próprios da vida contemplativa, a saber: a sabedoria, a ciência, o intelecto e o conselho, o que pertence à prudência, enumerando por isso o Filósofo esses dons entre as virtudes intelectuais. Ora, Cristo tinha a contemplação do céu. Logo, não tinha os referidos dons.

Mas, em contrário, a Escritura: Lançaram mão de um só homem sete mulheres. Ao que diz a Glosa: Isto é, os sete dons do Espírito Santo, Cristo.

Como dissemos na Segunda Parte, os dons são propriamente umas certas perfeições das potências da alma, que lhes torna natural o serem movidas pelo Espírito Santo. Ora, como é manifesto, a alma de Cristo era perfeitissimamente movida pelo Espírito Santo, segundo o Evangelho: Cheio, pois, do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto. Donde, é manifesto que em Cristo existiam excelentissimamente os dons.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O perfeito na ordem da sua natureza necessita ser ajudado pelo que é de natureza superior, assim o homem, por mais perfeito que seja precisa de ser ajudado por Deus. E deste modo as virtudes precisam de ser fortificadas pelos dons, que aperfeiçoam as potências de alma, enquanto movidas pelo Espírito Santo.

RESPOSTA À SEGUNDA. Cristo não recebe e confere os dons do Espírito Santo, aos mesmos respeitos, mas, ele confere-os como Deus, e recebe-os como homem. Donde o dizer Gregório: O Espírito Santo não abandonou nunca a humanidade de Cristo, de cuja divindade procede.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Em Cristo não somente havia o conhecimento da pátria, mas também o da via, como a seguir se dirá. E contudo, mesmo na pátria, existem de certo modo os dons do Espírito Santo, como na Segunda Parte se estabeleceu.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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