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29/11/2014

Tratado do verbo encarnado 44

Questão 7: Da graça de Cristo como um homem particular

Art. 3 — Se em Cristo existiu a fé.

O terceiro discute-se assim. — Parece que em Cristo existiu a fé.

1. — Pois, a fé é uma virtude mais nobre que as virtudes morais como a temperança e a liberalidade. Ora, estas virtudes existiram em Cristo, como se disse. Logo, com maior razão nele existiu a fé.

2. Demais. — Cristo não ensinou virtudes que não tinha, segundo a Escritura: Começou a jazer e a ensinar. Ora, de Cristo também diz o Apóstolo: Autor e consumador da fé. Logo, nele existiu por excelência a fé.

3. Demais. — Dos bem-aventurados se exclui toda imperfeição. Ora, os bem-aventurados tem a fé, pois, segundo o Apóstolo - A justiça de Deus se descobre nele de fé em fé - diz a Ciosa: A fé nas palavras e nos bens que esperamos torna-se a já nas próprias coisas e a visão clara. Logo, parece que também Cristo teve a fé, pois que nenhuma imperfeição nele existe.

Mas, em contrário, diz o Apóstolo: A fé é um argumento das coisas que não aparecem. Ora, para Cristo nada houve de não aparente, conforme lho disse Pedro: Tu conheces tudo. Logo, em Cristo não havia fé.

Como demonstramos na Segunda Parte, o objecto da fé é a realidade divina não vista. Ora, o hábito da virtude, como qualquer outro, especifica-se pelo seu objecto. E portanto suprimida essa condição — que a realidade divina não é vista, a fé fica excluída na sua essência. Ora, Cristo, desde o primeiro instante da sua concepção, viu plenamente a Deus em essência, como a seguir se verá. Logo, nele não podia existir a fé.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A fé é uma virtude mais nobre que as virtudes morais porque versa sobre matéria mais nobre, contudo implica uma certa deficiência relativamente a essa matéria, deficiência que em Cristo não existiu. Logo, nele não podia existir a fé, embora tivesse as virtudes morais, que por essência não implicam essa deficiência relativamente às suas matérias.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O mérito da fé consiste em assentirmos, por obediência a Deus, no que não vemos, segundo o Apóstolo: Para que se obedeça à fé em todas as gentes pelo seu nome. Ora, Cristo praticou plenissimamente a obediência para com Deus, segundo o Apóstolo: Feito obediente até à morte. E assim nada ensinou que fosse uma fonte de mérito que não o praticasse ele próprio de maneira mais excelente.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz a Glosa no mesmo lugar, pela fé cremos propriamente no que não vemos. E impropriamente se chama fé a que tem por objecto o que vemos, e só por certa semelhança, quanto à certeza ou a firmeza da adesão.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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