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25/11/2014

Tratado do verbo encarnado 40

Questão 6: Da ordem da assunção

Art. 5 — Se o Filho de Deus assumiu toda a natureza humana mediante as suas partes.

O quinto discute-se assim. — Parece que o Filho de Deus assumiu toda a natureza humana mediante as suas partes.

1 — Pois, diz Agostinho que a invisível e incomuntável Verdade assumiu, pelo espírito, a alma, pela alma, o corpo e assim todo o homem. Ora, o espírito, a alma e o corpo são partes de todo o homem. Logo, assumiu todo o homem mediante as suas partes.

2. Demais. — O Filho de Deus assumiu a carne mediante a alma, por ser mais semelhante a Deus a alma do que o corpo. Ora as partes da natureza humana, sendo mais simples, parece que são mais semelhantes ao ser simplicíssimo, que o todo. Logo, assumiu o todo mediante as partes.

Demais. — O todo resulta da união das partes. Ora, a união é entendida como o termo da assunção, ao passo que as partes se pre-inteligem à assunção. Logo, assumiu o todo, pelas partes.

Mas, em contrário, diz Damasceno: Em nosso Senhor Jesus Cristo não consideramos partes de partes, mas o que concorre proximamente à união, a saber, a divindade e a humanidade. Ora, a humanidade é um determinado todo, composto de alma e de corpo como de partes. Logo, o Filho de Deus assumiu as partes mediante o todo.

Quando nos referimos a um meio, na assunção da Encarnação, não designamos uma ordem temporal, porque foi simultânea a assunção do todo e das partes todas. Pois, como demonstramos, a alma e o corpo simultaneamente uniram-se uma ao outro para constituir a natureza humana no Verbo. E o que aí se designa é a ordem da natureza. Por onde, pelo que tem prioridade de natureza, é assumido o que vem em segundo lugar. Ora, a prioridade de natureza pode ser considerada a dupla luz relativamente ao agente e relativamente à matéria, pois, essas duas coisas preexistem à realidade. Assim, relativamente ao agente é primeiro, em sentido absoluto, o que lhe constitui a intenção primária, e, em sentido relativo, aquilo por onde lhe principia a acção. Quanto à matéria, é primeiro àquilo que primeiramente existe na transmutação dela. Ora, a ordem a que sobretudo devemos atender, na Encarnação, é a relativa ao agente, porque, como diz Agostinho, nessa matéria a razão total da obra é o poder do agente. Ora, como é manifesto, o completo vem antes do incompleto, na intenção do agente, e, por consequência, vem o todo antes das partes. Donde devemos concluir, que o Verbo de Deus assumiu as partes da natureza humana mediante o todo, Pois, assim como assumiu o corpo pela ordem que mantém para com a alma racional, assim, assumiu o corpo e a alma, pela ordem que mantêm para com a natureza humana.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — As palavras citadas nada mais dão a entender senão que o Verbo, assumindo as partes da natureza humana, assumiu toda a natureza humana. E assim, a assunção das partes tem prioridade, na ordem da operação, logicamente, mas não temporalmente. Mas a assunção da natureza tem prioridade na ordem da assunção, o que é ter prioridade absoluta, como se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Deus é simples que também é perfeitíssimo. Donde o  todo é mais semelhante a Deus que ser mais perfeito.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Na união pessoal é que se termina a assunção, mas não, na união da natureza, que resulta da união das partes.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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