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15/11/2014

Tratado do verbo encarnado 30

Questão 4: Da união relativamente ao assumido

Art. 5 — Se o Filho de Deus devia ter assumido a natureza humana em todos os indivíduos.

O quinto discute-se assim. — Parece que o Filho de Deus devia ter assumido a natureza humana em todos os indivíduos.

1. — Pois, o primário e em si mesmo assumido foi a natureza humana. Ora, o conveniente a uma natureza em si mesma o é também a tudo o existente nessa mesma natureza. Logo, era conveniente que a natureza humana fosse assumida pelo Verbo de Deus em todos os seus supostos.

2. Demais. — A Encarnação divina procedeu da caridade divina, donde o dizer o Evangelho: Assim amou Deus ao mundo, que lhe deu o seu Filho unigénito. Ora, a caridade leva-nos a nos darmos aos amigos o quanto possível. Ora era possível ao Filho de Deus ter assumido várias naturezas humanas, como se disse, e todas pela mesma razão. Logo, fora conveniente que o Filho de Deus assumisse a natureza humana em todos os seus supostos.

3. Demais. — Um agente perito pratica os seus actos pela via mais breve possível. Ora, teria sido uma via mais breve se todos os homens tivessem sido assumidos à filiação natural, do que, por um Filho natural, muitos terem recebido a adopção de filhos, como diz o Apóstolo. Logo, a natureza humana devia ter sido assumida pelo Filho de Deus em todos os seus supostos.

Mas, em contrário, diz Damasceno, que o Filho de Deus não assumiu a natureza humana considerada especificamente, nem, pois, lhe assumiu todas as hipóstases.

Não era conveniente que a natureza humana fosse assumida pelo Verbo em todos os seus supostos. — Primeiro, porque desapareceria assim a multidão dos supostos da natureza humana, que lhe é conatural. Pois, não se devendo considerar, na natureza assumida, outro suposto além da Pessoa assumente, como se disse, se não existisse a natureza humana senão assumida, resultaria a existência de um só suposto da natureza humana, a saber, a Pessoa assumente. — Segundo, porque tal seria contra a dignidade do Filho de Deus encarnado, enquanto é o primogénito entre muitos irmãos, segundo a natureza humana, assim como é o primogénito de toda a criatura, segundo a natureza divina. E teriam então todos os homens a mesma dignidade. — Terceiro, porque era conveniente que, assim como um suposto divino se encarnou, assim assumisse uma só natureza humana, para haver, de ambos os lados, unidade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Ser assumida convém à natureza humana como tal, isto é, porque não lhe convém em razão da pessoa, assim como convém à natureza divina assumir em razão da pessoa. Pois, não lhe convém em si mesma, como lhe pertencendo aos princípios essenciais, ou como uma propriedade natural sua, por cujo modo conviria a todos os seus supostos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O amor de Deus pelos homens manifesta-se não só na mesma assunção da natureza humana, mas sobretudo pelos seus sofrimentos, na natureza humana, pelos outros homens, segundo o Apóstolo: Mas Deus faz brilhar a sua caridade em nós, porque, ainda quando eramos pecadores, morreu Cristo por nós. O que não teria lugar se tivesse assumido a natureza humana em todos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — É por causa da brevidade da via que o agente perito toma, que não faz por muitos meios o que pode suficientemente fazer por um só. Por isso, foi convenientíssimo que por um só homem todos os outros fossem salvos.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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