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06/11/2014

Tratado do verbo encarnado 21

Questão 3: Da união relativamente à pessoa que assumiu

Art. 4 — Se uma Pessoa pode assumir a natureza criada, sem a assumir outra.

O quarto discute-se assim. — Parece que uma Pessoa não pode assumir a natureza, sem a assumir outra.

1. — Pois, as obras da Trindade são indivisas, como diz Agostinho. Ora, como a essência das três Pessoas é só uma, assim também uma só a operação. Ora, assumir é uma determinada operação. Logo, não pode convir a uma Pessoa divina sem que o convenha a outra.

2. Demais. — Assim como falamos da pessoa incarnada do Filho, assim, da natureza: pois, toda a natureza divina se encarnou numa das suas hipóstases, como diz Damasceno. Ora, a natureza é comum às três Pessoas. Logo, também a assunção.

3. Demais. — Assim como a natureza humana em Cristo foi assumida por Deus, assim também pela graça, os homens são assumidos por ele, segundo o Apóstolo: Deus o recebeu por seu. Ora, esta assunção pertence comumente a todas as Pessoas. Logo, também a primeira.

Mas, em contrário, Dionísio diz que o mistério da Encarnação pertence à teologia descritiva, pela qual se introduz a distinção das Pessoas divinas.

Como dissemos, a assunção implica duas coisas: o acto de quem assume e o termo da assunção. Ora, o acto de quem assume procede da virtude divina, comum às três Pessoas, mas o termo da assunção é a pessoa, como se disse. Logo, o que implica uma acção, na assunção, é comum às três Pessoas, mas o que implica a ideia de termo convém de modo a uma Pessoa, que não convém às outras. Pois, as três Pessoas fizeram com que a natureza humana se unisse à Pessoa do Filho.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A objecção colhe quanto à operação. E a conclusão seria consequente se importasse só essa operação sem o termo, que é a Pessoa.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Dizemos que a natureza se encarnou e que assumiu, em razão da Pessoa na qual se terminou a união, como se disse, não porém enquanto comum às três Pessoas, Pois dizemos que toda a natureza divina se encarnou, não por se ter encarnado em todas as Pessoas, mas por não faltar nenhuma das perfeições divinas à natureza da Pessoa encarnada.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A assunção feita pela graça da adopção termina numa determinada participação da natureza divina, por assimilação com a bondade dela, conforme a Escritura. Para que sejais feitos participantes, etc. E essa assunção é comum às três Pessoas, tanto quanto ao princípio, como ao termo. Mas, a assunção feita pela graça da união é comum quanto ao princípio, mas não quanto ao termo, como se disse.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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