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04/11/2014

Tratado do verbo encarnado 19

Questão 3: Da união relativamente à pessoa que assumiu

Art. 2 — Se à natureza divina convém assumir.

O segundo discute-se assim. — Parece que à natureza divina não convém o assumir.

1 — Pois, como se disse, assumir é como tomar para si (ad se sumere). Ora, a natureza divina não tomou para si a natureza humana, pois, não se fez a união na natureza, mas na pessoa, como se disse. Logo, à natureza divina não cabe assumir a natureza humana.

2. Demais. — A natureza divina é comum às três Pessoas. Se, pois, à natureza convém o assumir, segue-se que convém às três Pessoas. E assim, o Pai assumiu a natureza humana, como o Filho - O que é erróneo.

3. Demais. — Assumir é agir. Ora, agir convém à pessoa, não à natureza, que antes exprime o princípio pelo qual o agente age. Logo, assumir não convém à natureza.

Mas, em contrário, Agostinho diz: Aquela natureza que é sempre. gerada do Pai, isto é, que foi pela geração eterna recebida do Pai, recebeu a nossa natureza, sem pecado.

Como dissemos, a palavra assunção abrange duas coisas - o princípio e o termo da acção. Ora, ser princípio da assunção convém à natureza divina em si mesma, pois, pelo seu poder se lhe realizou a assunção. Mas, ser termo da assunção não convém a essa natureza em si mesma, mas, em razão da Pessoa na qual a consideramos. Donde, primária e apropriadamente, dizemos que a Pessoa assume, mas, secundariamente podemos dizer que também a natureza assumiu a natureza à sua Pessoa. E também deste modo dizemos que a natureza se encarnou, não por se ter convertido em carne, mas por ter assumido a natureza da carne. Donde o dizer Damasceno. Afirmamos que a natureza de Deus se encarnou, segundo os santos Atanásio e. Cirilo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O pronome se é recíproco e se refere ao mesmo suposto. Ora, a natureza divina não difere, pelo suposto, da Pessoa do Verbo. Donde, por ter a natureza do Verbo assumido a natureza humana à sua Pessoa, dizemos que a assumiu a si. Mas, embora o Pai assuma a natureza humana à Pessoa do Verbo, nem por isso a assume a si, pois, não é o mesmo o suposto do Pai e do Verbo. Donde, não se pode propriamente dizer que o Pai assume a natureza humana.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O conveniente à natureza humana em si mesma convém às três Pessoas, assim a bondade, a sabedoria e atributos semelhantes. Mas assumir convém-lhe em razão da Pessoa do Verbo, como se disse. Por isso só a essa Pessoa convém.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Assim como em Deus se identificam o seu ser e o princípio deste, assim também, o que faz e o princípio da sua acção, pois, todo ser age enquanto ser. Donde, a natureza divina é o princípio do agir de Deus e é o próprio Deus agente.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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