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02/11/2014

Tratado do verbo encarnado 17

Questão 2: Do modo da união do Verbo Encarnado

Art. 12 — Se a graça da união era natural ao homem Cristo.

O duodécimo discute-se a graça da união não era natural ao homem Cristo.

1. — Pois, a união da Encarnação não se fez na natureza, mas na pessoa, como se disse. Ora, um movimento designa-se pelo seu termo. Logo, essa graça deve ser considerada, antes, pessoal que natural.

2. Demais. — A graça divide-se da natureza por oposição, assim como o que é gratuito, procedente de Deus, se distingue do natural, procedente de um princípio intrínseco. Ora, de coisas que se dividem por oposição, uma não tira da outra a sua denominação. Logo, a graça de Cristo não lhe é natural.

3. Demais. — Chama-se natural ao que é segundo a natureza. Ora, a graça da união não é natural a Cristo pela sua natureza divina, porque então conviria também às outras pessoas. Nem lhe é natural pela sua natureza humana, porque então conviria a todos os homens, que são da mesma natureza que ele. Logo, parece que de nenhum modo a Graça da união é natural a Cristo.

Mas, em contrário, Agostinho diz: Por ter assumido a natureza humana a graça mesma de algum modo se tornou natural a esse homem, e nenhum pecado o poderia privar dela.

Segundo o Filósofo, num sentido chama-se natureza a própria natividade, noutro, a essência de um ser. Donde, natural pode ter significado duplo. Num, é o resultado dos princípios essenciais de um ser, assim, é natural ao fogo ser levado para o alto. Noutro, dizemos natural ao homem o que ele tem pela sua natividade, segundo aquilo do Apóstolo: Éramos por natureza filhos da ira. E noutro lugar da Escritura: A sua nação é malvada e a malícia é-lhes natural. Logo, a graça de Cristo, quer a de união, quer a habitual, não pode chamar-se natural, quase causada nele pelos princípios da natureza humana, embora possa chamar-se natural, quase proveniente à natureza humana de Cristo, pela causalidade da sua natureza divina. Mas dissemos que ambas essas graças são naturais a Cristo, por as ter desde a sua natividade, pois, desde o início da sua concepção a natureza humana esteve unida à pessoa divina, e a sua alma tinha a plenitude do dom da graça.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Embora a união não se tivesse feito na natureza, foi contudo causada pelo poder da natureza divina, que é verdadeiramente a natureza de Cristo. E também convinha a Cristo desde o princípio da sua natividade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — As expressões — graça e natural — não têm sentido idêntico. Mas, chama-se graça ao que não provém do mérito, e natural, ao que provém da virtude da natureza divina, para a humanidade de Cristo, desde o seu nascimento.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A graça da união não é natural a Cristo segundo a sua natureza humana, quase causada dos princípios dessa natureza. Donde, não é necessário que convenha a todos os homens. Mas é-lhe natural segundo a natureza humana, por causa da propriedade da sua natividade, isto é, foi concebido do Espírito Santo de modo que fosse naturalmente Filho de Deus e do homem. Mas, segundo a natureza divina é-lhe natural, enquanto a natureza divina é o princípio activo dessa graça. E isto convém à toda a Trindade, isto é, ser o princípio activo dessa graça.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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