Páginas

08/10/2014

Evangelho diário e coment. Leit. Espiritual (Enc Principes pastorum (S. João XXIII)

Tempo comum XXII Semana

Evangelho: Lc 11, 1-4

1 Estando Ele a fazer oração em certo lugar, quando acabou, um dos Seus discípulos disse-Lhe: «Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos». 2 Ele respondeu-lhes: «Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Teu nome. Venha o Teu reino. 3 O pão nosso de cada dia dá-nos hoje 4 perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todos os que nos ofendem; e não nos deixes cair em tentação».
Comentário:

Tudo quanto o Pai-Nosso encerra é importante mas, atrevemo-nos a considerar como “chave” que abre o coração – o nosso e o de Deus – o último versículo: «perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todos os que nos ofendem».
Para ser perdoado é, pois fundamental, perdoar, não depois… mas antes…
(ama, comentário sobre Lc 11, 1-4, 2013.10.09)


Leitura espiritual



Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
PRINCEPS PASTORUM
DO SUMO PONTÍFICE PAPA JOÃO XXIII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS
E AOS OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE AS MISSÕES CATÓLICAS

Educação adaptada ao ambiente

14. Além disto, a Igreja, como bem sabeis, veneráveis irmãos, sempre exigiu que os seus sacerdotes sejam tornados aptos para seu ministério mediante uma educação intelectual sólida e completa.
Que de tanto sejam capazes os jovens de todas as raças e provenientes de todas as partes do mundo, isto nem sequer vale mais a pena lembrá-lo, tanto os factos e a experiência o demonstraram com evidência.
Obviamente, a formação do clero local deve ter na devida conta os factores ambientais próprios das várias regiões.
Para todos os candidatos ao sacerdócio vigora a sapientíssima norma segundo a qual eles não devem ser formados "num ambiente por demais arredio do mundo" [13], visto que desse modo, "quando forem para o meio da sociedade, encontrarão sérias dificuldades nas relações com o povo e com a classe culta, e daí sucederá, com frequência ou assumirem uma atitude errada e falsa para com os fiéis, ou considerarem desfavoravelmente a formação recebida". [14]
Eles deverão ser sacerdotes espiritualmente perfeitos, mas também, "gradual e prudentemente inseridos naquela parte do mundo" [15] que lhes coube por sorte, para que a iluminem com a verdade, a santifiquem com a graça de Cristo.
Para tal fim, também no que respeita ao regime de vida do seminário, convém insistir sobre o modo de viver local, não porém sem pôr a fruto todas aquelas facilidades de ordem técnica ou material que já agora são bem e património de todas as civilizações, enquanto representam um real progresso para um teor de vida mais elevado e para uma mais adequada salvaguarda das forças físicas.

Educação no senso de responsabilidade e no espírito de iniciativa

15. A formação do clero autóctone, dizia o nosso predecessor Bento XV, deve visar a torná-lo capaz de tomar em mãos, apenas isso for possível, o governo das novas Igrejas, e de guiar, com o ensino e com o ministério, os próprios compatrícios na trilha da salvação. [16]
Para tal fim, afigura-se-nos sumamente oportuno que todos aqueles que, ou alienígenas ou nativos, cuidam dessa formação, se empenhem conscienciosamente em desenvolver nos seus alunos o senso de responsabilidade e o espírito de iniciativa, [17] de modo que estes estejam em condições de assumir bem depressa e progressivamente todas as tarefas, mesmo as mais importantes, inerentes ao seu ministério, em perfeita concórdia com o clero alienígena, mas também em igual medida.
Esta será, com efeito, a prova da real eficácia da educação a eles ministrada, e constituirá o coroamento e o prémio melhor dos que para ela contribuíram.

Utilização dos valores locais.

16. Em vista justamente de uma formação intelectual que leve em conta as necessidades reais e da mentalidade de cada povo, esta Sé Apostólica sempre recomendou os estudos especiais de missiologia não só para o clero alienígena, como também para o clero nativo. Assim o nosso predecessor Bento XV, decretava a instituição do ensino de matérias missionárias no Pontifício ateneu Urbaniano "de Propaganda Fide", [18] e Pio XII salientava com satisfação a erecção do Instituto missionário científico no mesmo ateneu Urbaniano, "e a instituição, quer em Roma, quer noutros lugares, de faculdades e cátedras de missiologia". [19]
Por isto os programas dos seminários locais em terra de missão não deixarão de assegurar cursos de estudo nos vários ramos da missiologia e o ensino dos diversos conhecimentos e técnicas especialmente úteis para o ministério futuro do clero daquelas regiões.
Para tal fim prover-se-á a um ensino que, no espírito da mais pura e sólida tradição eclesiástica, saiba formar acuradamente o juízo dos sacerdotes sobre os valores culturais locais especialmente filosóficos e religiosos, na sua relação com o ensino e a religião cristã.
 "A Igreja Católica – disse o nosso imortal predecessor Pio XII – não despreza ou rejeita completamente o pensamento pagão, mas, antes, depois de o haver purificado de toda escória de erro, completa-o e aperfeiçoa-o com sabedoria cristã.
Assim igualmente ela acolheu o progresso no campo das ciências e das artes... e consagrou de alguma maneira os costumes particulares e as tradições antigas dos povos, as próprias festas pagãs, transformadas, serviram para celebrar as memórias dos mártires e os divinos mistérios". [20]
Nós mesmo já manifestamos o nosso pensamento sobre este assunto: "Em toda parte... onde autênticos valores de arte e de pensamento são suscetíveis de enriquecer a família humana, a Igreja está pronta a favorecer tais trabalhos do espírito.
Ela mesma, como sabeis, não se identifica com nenhuma cultura, nem mesmo com a cultura ocidental, à qual a sua história está estreitamente ligada.
Porque a sua missão pertence a uma outra ordem, à ordem da salvação religiosa do homem.
Porém a Igreja, tão rica de juventude que incessantemente se renova ao sopro do Espírito, está sempre disposta a reconhecer, antes a acolher, e mesmo animar, tudo aquilo que é de honra para a inteligência e para o coração humano nas outras partes do mundo, diverso desta bacia mediterrânea, que foi berço providencial do cristianismo". [21]

Penetração entre as classes cultas

17. Bem preparados e adestrados neste campo tão difícil e importante, no qual estão em condições de oferecer contributos bastante preciosos, os sacerdotes nativos poderão, sob a direcção dos seus Bispos, dar vida a movimentos de penetração mesmo entre as classes cultas, especialmente nas nações de antiga e alta cultura, a exemplo de famosos missionários, dos quais basta citar por todos o Pe. Matteo Ricci.
Com efeito, também ao clero nativo cabe a tarefa de "reduzir todo o intelecto ao obséquio de Cristo" (cf. 2 Cor 10,5), como dizia aquele incomparável missionário que foi S. Paulo, e assim "atrair a si, na pátria, a estima mesmo das personalidades e dos doutos". [22]
A seu juízo, os Bispos providenciem oportunamente no sentido de constituir, para as necessidades de uma ou mais regiões, centros de cultura, nos quais missionários alienígenas e sacerdotes nativos tenham meios de fazer frutificar o seu preparo intelectual e a sua experiência em beneficio da sociedade em que vivem por escolha ou por nascimento.
Neste campo é necessário também lembrar aquilo que o nosso imediato predecessor Pio XII sugeriu, isto é, que é dever dos féis "multiplicar e difundir a imprensa católica em todas as suas formas" [23], e preocupar-se outrossim com as "técnicas modernas de difusão e de cultura, sabida como é a importância de uma opinião pública formada e iluminada". [24]
Nem tudo se poderá fazer em toda parte, mas não se deve perder nenhuma boa ocasião para prover a estas reais e urgentes necessidades, mesmo se às vezes "quem semeia não é o mesmo que colhe" (Jo 4,37).

Cautelas nos empreendimentos de carácter social e assistencial

18. A difusão da verdade e da caridade de Cristo é a verdadeira missão da Igreja, que tem o dever de oferecer aos povos, "na medida máxima possível, as substanciais riquezas da sua doutrina e da sua vida, animadora de uma nova ordem social cristã". [25]
Por isto, nos territórios de missão, ela provê com toda a largueza possível também a iniciativas de carácter social e assistencial que são de sumo proveito para as comunidades cristãs e para os povos entre os quais elas vivem.
Tenha-se, todavia, o cuidado de não atravancar o apostolado missionário com um complexo de instituições de ordem puramente profana. Fique-se nos limites daqueles serviços indispensáveis de fácil manutenção e de uso fácil, cujo funcionamento possa o mais depressa possível ser posto nas mãos do pessoal local, e disponham-se as coisas de modo que ao pessoal propriamente missionário seja oferecida a possibilidade de dedicar as melhores energias ao ministério de ensino, de santificação e de salvação.

Formação no espírito de caridade universal

19. Se é verdade que, para um apostolado o mais amplamente frutífero, é de primária importância que o sacerdote nativo conheça e saiba com toda inteligência e prudência estimar os valores locais, com ainda maior razão ficará sendo verdade que para ele vale aquilo que o nosso imediato predecessor dizia de todos os fiéis: "As perspectivas universais da Igreja serão as perspectivas normais da sua vida cristã". [26]
Para tal fim, deverá o clero local ser não somente informado dos interesses e das vicissitudes da Igreja universal, mas também deverá ser educado numa íntima, universal respiração de caridade. S. João Crisóstomo dizia das celebrações litúrgicas cristãs: "Quando estamos no altar, oramos antes de tudo pelo mundo inteiro e pelos interesses coletivos [27], e Santo Agostinho lindamente afirmava: "Se queres amar Cristo, derrama a caridade por toda a terra, porque os membros de Cristo estão no mundo inteiro" .[28].

20. No desejo, justamente, de salvaguardar em toda a sua pureza este espírito católico que deve animar a obra dos missionários, o nosso predecessor Bento XV não hesitou em denunciar com expressões severas um perigo que podia fazer perder de vista as altíssimas finalidades do apostolado missionário e, assim, comprometer-lhe a eficácia: "Seria coisa bem triste se algum missionário se revelasse tão descuidado de sua dignidade que pensasse mais na pátria terrena do que na celeste, e se preocupasse excessivamente com dilatar o poder dela e lhe estender a glória. Este modo de agir constituiria um dano funestíssimo para o apostolado, e, no missionário, extinguiria todo impulso de caridade para com as almas e lhe diminuiria o prestígio na opinião do povo". [29]

21. O mesmo perigo poderia hoje repetir-se sob outras formas, pelo facto de em muitos territórios de missão se ir tornando geral a aspiração dos povos ao autogoverno e à independência, e a conquista das liberdades civis poder infelizmente acompanhar-se de excessos que absolutamente não estão em harmonia com os autênticos e profundos interesses espirituais da humanidade.

22. Estamos plenamente confiante de que o clero nativo, movido por sentimentos e por propósitos superiores em conformidade com as exigências universalistas da religião cristã, contribuirá outrossim para o bem real da própria nação.

23. "A Igreja de Deus é católica, e não é estrangeira, para nenhum povo ou nação", [30] dizia o mesmo nosso predecessor, e nenhuma Igreja local poderá exprimir a sua união vital com a Igreja universal se o seu clero e o seu povo se deixarem sugestionar pelo espírito particularista, por sentimentos de malevolência para com os outros povos, por um mal compreendido nacionalismo que destruiria a realidade dessa caridade universal que edifica a Igreja de Deus, a única verdadeiramente "católica".

 III. O LAICATO DAS MISSÕES

Os leigos na vida da Igreja

24. Insistindo sobre a necessidade de preparar com o maior zelo o advento do clero autóctone e de formá-lo adequadamente para sua finalidade, o nosso venerado predecessor Bento XV certamente não pretendeu excluir a importância, também fundamental, de um laicato nativo à altura da sua vocação cristã e empenhado no apostolado. Isso fê-lo expressamente e com todo o relevo o nosso imediato predecessor Pio XII, [31] que muitas vezes voltou sobre este assunto vital que, hoje mais do que nunca, se impõe à consideração e requer ser resolvido, em toda parte, na medida máxima possível.

25. O mesmo Pio XII – e isto redunda em seu singular mérito e louvor – com copiosa doutrina e renovados incitamentos advertiu e incentivou os leigos a assumirem solicitamente o seu lugar activo no campo do apostolado em colaboração com a hierarquia eclesiástica, com efeito, desde os primórdios da história cristã e em todas as épocas sucessivas, esta colaboração dos fiéis fez com que os Bispos e o clero pudessem eficazmente desenvolver a sua obra entre os povos, quer no campo propriamente religioso, quer no campo social.
Pode e deve isto verificar-se também nos nossos tempos, que, antes, revelam maiores necessidades, proporcionais a uma humanidade numericamente mais vasta e com exigências espirituais multiplicadas e complexas.
Aliás, onde quer que a Igreja é fundada, deve estar sempre presente e ativa com toda a sua estrutura orgânica, e portanto não somente com a hierarquia nas suas várias ordens, mas também com o laicato: e, portanto, é por meio do clero e dos leigos que ela deve necessariamente desenvolver a sua obra de salvação. [32]

(cont)

(revisão da versão portuguesa por ama)

_________________________________________
Notas:
[13] Pio XII, Exort. Apost. Menti Nostrae, AAS 42 (1950), p. 686.
[14] Ibid.
[15] Ibid. p. 687.
[16] Carta Apost. Maximum illud: AAS 11(1919), p. 445.
[17] Cf. Pio XII, Exort. Apost. Menti Nostrae: AAS 42(1950), p. 686.
[18] Carta Apost. Maximum illud: AAS 11(1919), p. 448.
[19] Carta enc. Evangelii praecones, AAS 43(1951), p. 500.
[20] Ibid. p. 522.
[21] Cf. Discurso aos participantes no II Congresso mundial dos escritores e artistas negros: L'Osservatore Romano,de 3 de abril de 1959, AAS 51(1959), p. 260.
[22] Pio XI, Carta enc. Rerum Ecclesiae: AAS 18(1926), p. 77.
[23]Carta enc. Fidei donum, AAS 49(1957), p. 233.
[24] Ibid.
[25] Ibid., p. 231.
[26] Ibid., p. 238.
[27] Hom. II in II Cor., PG, 61, 398.
[28]In Ep. Ioan. ad Parthos, tr 10, c. 5, PL, 35, 2060.
[29]Carta Apost. Maximum illud, AAS 11(1919), p. 446.
[30] Ibid. p. 445.
[31] Carta enc. Evangelii praecones, AAS 43(1951), p. 510ss.
[32] Cf. Pio XII, Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 200-201, Pio XI, Carta enc. Rerum Ecclesiae: AAS 18(1926), p. 78.





Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.