Páginas

23/09/2014

Evang., Coment. Leit. Espiritual (Enc. Inscrutabili Dei consilio)

Tempo comum XXV Semana

Evangelho: Lc 8, 19-21

19 Foram ter com Ele Sua mãe e Seus irmãos, e não podiam aproximar-se d'Ele por causa da multidão. 20 Foram dizer-Lhe: «Tua mãe e Teus irmãos estão lá fora e querem ver-Te». 21 Ele respondeu-lhes: «Minha mãe e Meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática».

Comentário:

As “prioridades” de Jesus Cristo estão bem definidas: Servir a todos, convocar todos, chamar todos.

A família fica, então, em lugar secundário?

Não!

A família de Cristo – Ele próprio o diz – são todos os que procuram, em tudo, cumprir a Vontade de Deus.

(ama, comentário sobre Lc 8, 19-21, V Moura 2013.09.24)


Leitura espiritual


Documentos do Magistério

CARTA ENCÍCLICA
INSCRUTABILI DEI CONSILIO
DE SUA SANTIDADE O PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO, EM GRAÇA
E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE OS MALES DA SOCIEDADE MODERNA,
SUAS CAUSAS E SEUS REMÉDIOS

Veneráveis Irmãos,
Saudação e Bênção Apostólica.

INTRODUÇÃO

1. Apenas elevado, por um impenetrável desígnio de Deus, e sem o merecer, ao fastígio da Dignidade Apostólica, sentimo-Nos impelido por um vivo desejo e por uma espécie de necessidade a dirigir-Nos a Vós por carta, não somente para vos manifestar os sentimentos da Nossa profunda afeição, mas ainda para cumprir junto de Vós, chamados que fostes a compartilhar a Nossa solicitude, os deveres do cargo que Deus nos confiou, animando-vos a sustentar connosco os combates dos tempos actuais pela Igreja de Deus e pela salvação das almas.



I. OS MALES DA SOCIEDADE

2. Efectivamente, desde os primeiros instantes do Nosso Pontificado, o que se oferece aos Nossos olhares é o triste espetáculo dos males que de todas as partes acabrunham o género humano: é essa subversão geral das verdades supremas que são como que os fundamentos em que se apoia o estado da sociedade humana; é essa audácia dos espíritos que não podem suportar nenhuma autoridade legítima; é essa causa perpétua de dissensões de onde nascem as querelas intestinas e as guerras cruéis e sangrentas; é o desprezo das leis que regulam os costumes e protegem a justiça; é a insaciável cupidez das coisas que passam e o esquecimento das coisas eternas, levados ambos até esse furor insensato que por toda parte induz tantos infelizes a levarem sobre si mesmos, sem tremerem, mãos violentas; é a administração inconsiderada da fortuna pública, o esbanjamento, a malversação, como também a impudência dos que, cometendo as maiores espertezas, se esforçam por dar-se a aparência de defensores da pátria, da liberdade e de todos os direitos; é, enfim, essa espécie de peste mortal que, insinuando-se nos membros da sociedade humana, não deixa a esta repouso e lhe prepara novas revoluções e funestas catástrofes.

II. A CAUSA DESSES MALES

3. Ora, havemo-Nos convencido de que esses males têm a sua principal causa no desprezo e na rejeição dessa santa e augustíssima Autoridade da Igreja que governa o género humano em nome de Deus, e que é a salvaguarda e o apoio de toda autoridade legítima. Os inimigos da ordem pública, que perfeitamente o têm compreendido, pensaram que nada era mais próprio para subverter os fundamentos da sociedade do que atacar sem trégua a Igreja de Deus, do que torná-la odiosa e odiável por meio de vergonhosas calúnias, representando-a como inimiga da verdadeira civilização, do que enfraquecer-lhe a autoridade e a força por meio de feridas incessantemente renovadas, e do que derrubar o poder supremo do Pontífice romano, que é neste mundo o guarda e o defensor das regras eternas e imutáveis do bem e do justo.
Daí, pois, saíram essas leis subversivas da divina constituição da Igreja Católica, leis cuja promulgação na maioria dos países temos de deplorar; daí promanaram o desprezo do poder espiritual, e os entraves opostos ao exercício do ministério eclesiástico, e a dispersão das Ordens religiosas, e o confisco dos bens que serviam para sustentar os ministros da Igreja e os pobres; daí, ainda, o resultado de haverem sido subtraídas à salutar direcção da Igreja as instituições públicas consagradas à caridade e à beneficência; daí essa liberdade desenfreada de ensinar e de publicar tudo o que é mal, ao passo que, contrariamente, de toda maneira se viola e se oprime o direito da Igreja à instrução e à educação da juventude.
E outro não foi o fim que os homens se propuseram apoderando-se do Principado temporal que a Divina Providência havia longos séculos concedera ao Pontífice romano para que este livremente e sem peias pudesse, para a salvação eterna dos povos, usar do poder que Jesus Cristo lhe conferiu.

III. REMÉDIOS PARA OS MALES

4. Se relembramos, Veneráveis Irmãos, esses funestos e inúmeros males, não é para aumentar a tristeza que por si mesmo faz nascer em Vós tão deplorável estado de coisas; mas é por compreendermos que, à vista disso, reconhecereis qual é a gravidade da situação que reclama o Nosso ministério e o Nosso zelo, e com que solicitude devemos, nestes tempos inditosos, trabalhar para defender e garantir com todas as Nossas forças a Igreja de Cristo e a dignidade da Sé Apostólica atacada por tantas calúnias.

Caridade fraterna

5. Bem claro e evidente é, Veneráveis Irmãos, que à causa da civilização faltam fundamentos sólidos se ela não se apoia nos princípios eternos da verdade e nas leis imutáveis do direito e da justiça, se um amor sincero não une entre si as vontades dos homens e não regula felizmente a distinção e os motivos dos seus deveres mútuos. Ora, quem ousaria negá-lo? Não foi a Igreja quem, pregando o Evangelho entre as nações, fez brilhar a luz da verdade no meio dos povos selvagens e imbuídos de superstições vergonhosas, e quem os reconduziu ao conhecimento do divino Autor de todas as coisas e ao respeito de si mesmos?
Não foi a Igreja quem, fazendo desaparecer a calamidade da escravidão, revocou os homens à dignidade da sua nobilíssima natureza? Não foi ela quem, desfraldando sobre todas as plagas da terra o estandarte da Redenção, atraindo a si as ciências e as artes ou cobrindo-as com a sua proteção, por suas excelentes instituições de caridade, onde todas as misérias acham alívio, por suas fundações e pelos depósitos cuja guarda aceitou, em toda parte civilizou nos seus costumes privados e públicos o género humano, reergueu-o da sua miséria e formou-o, com toda sorte de desvelos, para um género de vida conforme à dignidade e à esperança humanas?
E agora, se um homem de espírito são comparar a época em que vivemos, tão hostil à Religião e à Igreja de Jesus Cristo, com aqueles tempos tão felizes em que a Igreja era honrada pelos povos como uma Mãe, convencer-se-á inteiramente de que a nossa época cheia de perturbações e destruições se precipita directa e rapidamente para a sua perda, e que aqueles tempos foram tanto mais florescentes em excelentes instituições, em tranquilidade da vida, em riqueza e em prosperidade, quanto mais submissos ao governo da Igreja e quanto mais observantes das suas leis se mostraram os povos.
E, se os bens numerosos que acabamos de relembrar e que deveram o seu nascimento ao ministério da Igreja e à sua influência salutar, são verdadeiramente obras e glórias da civilização humana, muitíssimo longe está, pois, que a Igreja de Jesus Cristo abomine a civilização e a repila, visto ser a si, pelo contrário, que ela crê caber inteiramente a honra de lhe haver sido a nutriz, a mestra e a mãe.

6. Bem mais: essa espécie de civilização que, pelo contrário, repugna às santas doutrinas e às leis da Igreja, não passa de uma falsa civilização e deve ser considerada como um vão nome sem realidade.
É esta uma verdade de que nos fornecem prova manifesta esses povos que não viram brilhar a luz do Evangelho; na vida deles podem ter-se vislumbrado algumas falsas aparências de educação mais cultivada, porém os verdadeiros e sólidos bens da civilização não prosperariam neles.

Respeito à autoridade da Igreja

7. Com efeito, não se deve considerar como civilização perfeita a que consiste em desprezar audaciosamente todo poder legítimo; e não se deve saudar com o nome de liberdade a que tem por cortejo vergonhoso e miserável a propagação desenfreada dos erros, o livre saciamento das cupidezes perversas, a impunidade dos crimes e dos malfeitores e a opressão dos melhores cidadãos de toda classe.
Esses são princípios erróneos, perversos e falsos; não poderiam, pois, certamente ter força para aperfeiçoar a natureza humana e fazê-la prosperar, pois o pecado torna os homens miseráveis (Prov 14, 34); pelo contrário, torna-se inevitável que após haverem corrompido as mentes e os corações, pelo seu próprio peso esses princípios lançam os povos em toda sorte de desgraças, que subvertem toda ordem legítima e conduzem assim, mais cedo ou mais tarde, a situação e a tranquilidade pública à sua última perda.

8. Ao contrário, se contemplarmos as obras do Pontificado Romano, que pode haver de mais iníquo do que negar quanto os Pontífices Romanos têm nobremente e bem merecido de toda a sociedade civil?
Os nossos predecessores, com efeito, querendo prover à felicidade dos povos, empreenderam lutas de todo género, suportaram rudes fadigas e nunca hesitaram em se expor a ásperas dificuldades; de olhos fitos no céu, não abaixaram a fronte ante as ameaças dos maus, nem cometeram a baixeza de se deixarem desviar do seu dever, fosse pelas lisonjas, fosse pelas promessas.
Foi esta Sé Apostólica quem apanhou os restos da antiga sociedade destruída e os reuniu juntos. Ela foi também o facho amigo que iluminou a civilização dos tempos cristãos; a âncora de salvação no meio das mais terríveis tempestades que tenham agitado a raça humana; o vínculo sagrado da concórdia que une entre si nações afastadas e costumes diversos; ela foi enfim o centro comum onde se vinha buscar tanto a doutrina da fé e da religião quanto os auspícios de paz e os conselhos dos atos a cumprir.
Que mais?
É uma glória dos Pontífices Romanos a de se haverem sempre e sem trégua oposto como uma muralha e um baluarte a que a sociedade humana tornasse a cair na superstição e na antiga barbárie.

(cont)
(revisão da versão portuguesa por ama)




Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.