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24/08/2014

Tratado da Graça 04

Art. 4 — Se o homem, sem a graça, só pelas suas faculdades naturais, pode cumprir os preceitos da lei.

(II Sent., dist. XXVIII, a. 3, De Verit., q. 24, a. 14, ad 1, 2, 7, Ad Rom., cap. II, lect III).

O quarto discute-se assim. — Parece que o homem, sem a graça, só pelas suas faculdades naturais, pode cumprir os preceitos da lei.

1. — Pois, diz o Apóstolo (Rm 2, 14): os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei. Ora, o que o homem faz naturalmente pode fazê-lo por si por si mesmo, sem a graça. Logo, sem esta pode cumprir os preceitos da lei.

2. Demais. — Jerónimo diz, que devem ser amaldiçoados os que dizem ser impossível o preceituado aos homens por Deus. Ora, é impossível, para o homem, o que ele não pode cumprir por si mesmo. Logo, por si mesmo, pode cumprir todos os preceitos da lei.

3. Demais. — De todos os preceitos da lei o maior é aquele (Mt 27, 37): Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração. Ora, este mandamento o homem pode cumpri-lo pelas suas faculdades naturais, amando a Deus sobre todas as coisas, como já dissemos (a. 3). Logo, pode cumprir todos os mandamentos da lei, sem a graça.

Mas, em contrário, Agostinho diz que é próprio da heresia dos Pelagianos crer que, sem a graça, o homem possa cumprir todos os mandamentos divinos.

Podemos cumprir os mandamentos da lei de dois modos. — Primeiro, quanto à substância das obras, quando praticamos actos de justiça, de fortaleza e das demais virtudes. E deste modo, o homem podia, no estado da natureza íntegra, cumprir todos os mandamentos da lei, de contrário, não poderia, nesse estado, deixar de pecar, pois o pecar não é senão transgredir os mandamentos divinos. Mas, no estado da natureza corrupta, não pode cumprir todos os mandamentos divinos, sem o auxílio da graça. — De outro modo, os mandamentos da lei podem ser cumpridos, não só quanto à substância das obras, mas também quanto ao modo de agir, i. é, praticando-as com caridade. E assim, nem no estado da natureza íntegra, nem no da corrupta, o homem pode cumprir, sem a graça, os mandamentos da lei. Por isso, Agostinho depois de ter dito, que sem a graça os homens não podem, absolutamente, fazer nenhum bem, acrescenta: a graça é necessária, não só para lhes dar a conhecer o que devem praticar, mas também para fazerem o de que foram informados, com amor. Além disso, precisam, em um outro estado, do auxílio da moção divina, para cumprirem os mandamentos, como dissemos (a. 2, a. 3).

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — No dizer de Agostinho, não devemos nos admirar de o Apóstolo dizer, que os gentios fazem naturalmente as coisas da lei, pois, o Espírito da graça obra em nós a instauração da imagem de Deus, segundo a qual fomos naturalmente criados.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O que podemos, com o auxílio divino, não nos é absolutamente impossível, conforme o Filósofo: o que podemos por meio dos amigos podemos de certo modo por nós mesmos. Por isso, no mesmo lugar, Jerónimo confessa que o nosso arbítrio é livre, no sentido de sempre precisamos do auxílio de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O homem não pode cumprir o  preceito do amor de Deus só pelas suas faculdades naturais, conforme as exigências da caridade, como do sobredito resulta (a. 3).

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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