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31/08/2014

A oração: “conversa amorosa com Jesus"

Sempre entendi a oração do cristão como uma conversa amorosa com Jesus, que não se deve interromper nem sequer nos momentos em que fisicamente estamos longe do Sacrário, porque toda a nossa vida está feita de coplas de amor humano divinizado..., e podemos amar sempre. (Forja, 435)

Que não faltem no nosso dia alguns momentos dedicados especialmente a travar intimidade com Deus, elevando até Ele o nosso pensamento, sem que as palavras tenham necessidade de vir aos lábios, porque cantam no coração. Dediquemos a esta norma de piedade um tempo suficiente, a hora fixa, se possível. Ao lado do Sacrário, acompanhando Aquele que ali ficou por Amor. Se não houver outro remédio, em qualquer lugar, porque o nosso Deus está de modo inefável na nossa alma em graça. Aconselho-te, contudo, a que vás ao oratório sempre que possas. (...)

Cada um de vós, se quiser, pode encontrar o caminho que lhe for mais propício para este colóquio com Deus. Não me agrada falar de métodos nem de fórmulas, porque nunca fui amigo de espartilhar ninguém; tenho procurado animar todas as pessoas a aproximarem-se do Senhor, respeitando cada alma tal como ela é, com as suas próprias características. Pedi-lhe vós que meta os seus desígnios na nossa vida: e não apenas na nossa cabeça, mas no íntimo do nosso coração e em toda a nossa actividade externa. Garanto-vos que deste modo evitareis grande parte dos desgostos e das penas do egoísmo e sentir-vos-eis com força para propagar o bem à vossa volta. Quantas contrariedades desaparecem, quando interiormente nos colocamos muito próximos deste nosso Deus, que nunca nos abandona! Renova-se com diversos matizes esse amor de Jesus pelos seus, pelos doentes, pelos entrevados, quando pergunta: que se passa contigo? Comigo... E, logo a seguir, luz ou, pelo menos, aceitação e paz.


Ao convidar-te para fazeres essas confidências com o Mestre, refiro-me especialmente às tuas dificuldades pessoais, porque a maioria dos obstáculos para a nossa felicidade nascem de uma soberba mais ou menos oculta. Pensamos que temos um valor excepcional, qualidades extraordinárias. Mas, quando os outros não são da mesma opinião, sentimo-nos humilhados. É uma boa ocasião para recorrer à oração e para rectificar, com a certeza de que nunca é tarde para mudar a rota. Mas é muito conveniente iniciar essa mudança de rumo quanto antes. (Amigos de Deus, 249)

Temas para meditar 222



Alegria



A verdadeira alegria não aceita como definitivas nem determinantes as circunstâncias adversas.



(Francisco Fernández carvajal e pedro b. lópez Filhos de Deus DIEL Lda. 1996 nr. 172)

Tratado da Graça 11

Questão 110: Da graça de Deus quanto à sua essência.

Em seguida devemos tratar da graça de Deus, quanto à sua essência.

E nesta questão, discutem-se quatro artigos:
Art. 1 — Se a graça produz algum efeito na alma.
Art. 2 — Se a graça é uma qualidade da alma.
Art. 3 — Se a graça é o mesmo que a virtude.
Art. 4 — Se a graça está na essência da alma como no sujeito, ou em alguma das duas potências.

Art. 1 — Se a graça produz algum efeito na alma.

[II Sent., dist. XXVI, a. 1, III Cont. Gent., cap. CL, De Verit., q. XXVII, a. 1].

O primeiro discute-se assim. — Parece que a graça não produz nenhum efeito na alma.

1. — Pois, no mesmo sentido em que se diz que temos a graça de Deus, também se diz que temos a de uma pessoa qualquer, donde o dizer a Escritura (Gn 39, 21): O Senhor deu a José a graça na presença do carcereiro mor. Ora, quando se diz que alguém recebeu graça de outrem, isso nenhum efeito produz em quem a recebeu, mas, significa, que há uma certa aceitação em quem a dispensou. Logo, quando se diz, que o homem recebeu graça de Deus, isso nenhum efeito lhe produz na alma, significando apenas a aceitação divina.

2. Demais. — Como a alma vivifica o corpo, assim Deus, a alma, por isso, diz a Escritura (Dt 30, 20): Deus é a tua vida. Ora, a alma vivifica o corpo imediatamente. Logo, não há nenhum meio-termo entre Deus e a alma, e portanto, a graça não produz na alma nenhum efeito.

3. Demais. — Ao lugar da Escritura (Rm 1, 7) — Graça vos seja dada e paz — diz a Glosa: Graça, i. é, remissão dos pecados. Ora, a remissão dos pecados não produz nenhum efeito na alma, só fazendo com que Deus não impute o pecado, conforme a Escritura (Sl 31, 2): Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputou pecado. Logo, também a graça nada produz na alma.

Mas, em contrário. — A luz não produz nenhum efeito no objecto iluminado. Ora, a graça é uma luz da alma, e por isso diz Agostinho: A luz da verdade abandona o que prevaricou contra a lei, o qual, abandonado, se torna cego. Logo, a graça produz algum efeito na alma.

Conforme o modo comum de falar, a graça pode ser tomada em tríplice acepção. Primeiro, como amor de outrem, assim, costuma dizer-se que um soldado tem a graça do rei, para significar que o rei o tem na sua graça. Segundo, na acepção de um dom gratuitamente dado, e assim costumamos dizer: Faço-te esta graça. Terceiro, como recompensa de um benefício gratuitamente feito, e assim quando se diz que damos graças pelos benefícios. Ora, destas três acepções, a segunda depende da primeira, pois, do amor com que temos alguém em nossa graça, procede o que gratuitamente lhe fazemos. E da segunda procede a terceira, porque dos benefícios gratuitamente feitos procede a acção de graças.

Ora, quanto às duas últimas acepções, é manifesto, que a graça produz em quem a recebeu, primeiro, o próprio dom, gratuitamente feito, e segundo, reconhecimento desse dom. Mas na primeira acepção, é preciso fazer-se uma diferença entre a graça de Deus e a humana. Pois, como o bem da criatura procede da vontade divina, do amor de Deus, pelo qual quer o bem da criatura, há-de decorrer algum bem para esta. Ao passo que a vontade do homem se move pelo bem preexistente nas coisas, e por isso o seu amor não produz totalmente o bem do seu objecto, mas, ao contrário, o pressupõe, parcial ou totalmente. Donde é claro, que todo bem da criatura resulta de algum amor de Deus, sendo esse bem entretanto produzido e não, coexistente com o amor eterno. Ora, nessa diferença de bens se funda a do amor de Deus pela criatura. Assim, um é o amor comum, com que ama todas as coisas, que existem, no dizer da Escritura (Sb 11, 25), e, pelo qual, dá o ser natural às coisas criadas. Outro é o amor especial, pelo qual eleva a criatura racional a participar do bem divino, condição essa que lhe excede a natureza. E por esse amor dizemos que ela ama a Deus, absolutamente falando, porque por ele, Deus quer, absolutamente, o bem eterno da criatura, que é Ele próprio.

Assim, pois, quando se diz que o homem tem a graça de Deus, significa isso um dom sobrenatural, procedente de Deus para o homem. — Mas às vezes também se chama graça de Deus ao próprio e eterno amor divino, e nessa acepção é que se considera a graça da predestinação, pela qual Deus escolheu alguns, ou os predestinou, gratuitamente e não, por méritos deles. Tal é o que diz a Escritura (Ef 1, 5): Predestinou-nos para sermos seus filhos adoptivos em louvor e glória da sua graça.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Quando se diz, que alguém tem a graça de outrem, ou a de Deus, entende-se que há, no primeiro, algo de agradável ao segundo, ou a Deus, mas diferentemente. Pois, o que em alguém é agradável a outrem é pressuposto ao amor deste. Ao contrário, o que há no homem de agradável a Deus, já é causado pelo amor divino.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Deus é a vida da alma, a modo de causa eficiente, ao passo que a alma é a vida do corpo, a modo de causa formal. Ora, entre a matéria e a forma não há nenhum meio-termo, pois esta, por si mesma, informa a matéria ou o sujeito. Ao passo que o agente informa o sujeito, não pela sua substância, mas pela forma, que causa na matéria.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Agostinho diz: Quando disse que a graça consiste na remissão dos pecados e a paz, na reconciliação com Deus, isso não significa que a paz e a reconciliação não pertençam à graça geral, mas que, especialmente, a graça significa a remissão dos pecados. Logo, nem só a remissão dos pecados pertence à graça, mas também, muitos outros dons de Deus. Donde, a remissão dos pecados não se opera sem algum efeito divinamente causado em nós, como a seguir se demonstrará (q. 113, a. 2).

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evang.; Coment.; Leit. Esp. (Cong. Dout da Fé - Libertais conscientia)

Tempo comum XXII Semana

Evangelho: Mt 16, 21-27

21 Desde então começou Jesus a manifestar a Seus discípulos que devia ir a Jerusalém e padecer muitas coisas dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas, ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. 22 Tomando-O Pedro à parte, começou a repreendê-l'O, dizendo: «Deus tal não permita, Senhor; não Te sucederá isto». 23 Ele, voltando-Se para Pedro, disse-lhe: «Retira-te de Mim, Satanás! Tu serves-Me de escândalo, porque não tens a sabedoria das coisas de Deus, mas dos homens». 24 Então, Jesus disse aos Seus discípulos: «Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. 25 Porque quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a sua vida por amor de Mim, achá-la-á. 26 Pois, que aproveitará a um homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma? Ou que dará um homem em troca da sua alma? 27 Porque o Filho do Homem há-de vir na glória de Seu Pai com os Seus anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras.

Comentário:

A cruz talvez seja o símbolo mais usado e visto no mundo.

A Cruz de Cristo é o instrumento de Redenção da humanidade e, por isso mesmo, deve ser usado com reverência e autêntico amor.

Ela é, também, a “nossa cruz” porque nela estavam as faltas, os pecados de todos os homens de todos os tempos.

Comparar a nossa cruz pessoal, essa cruz que todos carregamos ao longo da vida, por pesada que seja é algo de bom e meritório porque, sabemo-lo muito bem por experiência própria, sozinhos dificilmente a suportamos.


(AMA, comentário sobre Mt 16, 24-28, 2014.05.26)

Leitura espiritual



Documentos do Magistério

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

INSTRUÇÃO
LIBERTATIS CONSCIENTIA
SOBRE A LIBERDADE CRISTÃ E A LIBERTAÇÃO

CAPÍTULO II

VOCAÇÃO DO HOMEM
A LIBERDADE E DRAMA DO PECADO

V. O pecado, fonte de divisão e de opressão

O pecado separação de Deus

Idolatria e desordem

39. A idolatria é uma forma extrema da desordem gerada pelo pecado. A substituição da adoração do Deus vivo pelo culto da criatura falseia as relações entre os homens e arrasta consigo diversas formas de opressão.

O desconhecimento culpável de Deus desencadeia as paixões, causas de desequilíbrio e de conflitos no íntimo do homem. Daí derivam inevitavelmente as desordens que afectam a esfera familiar e social: licenciosidade sexual, injustiça, homicídio. É assim que São Paulo descreve o mundo pagão, levado pela idolatria às piores aberrações que arruínam o indivíduo e a sociedade. 28

Já antes dele, os Profetas e os Sábios de Israel viam nas desgraças do povo um castigo do seu pecado de idolatria, e no «coração cheio de maldade» (Ec 9, 3),29 a fonte da escravidão radical do homem e das opressões que ele inflige aos seus semelhantes.

Desprezar Deus e voltar-se para as criaturas

40. A tradição cristã, nos Padres e Doutores da Igreja explicitou esta doutrina da Escritura acerca do pecado. Para ela, o pecado e desprezo de Deus (contemptus Dei). Ele comporta a vontade de fugir da relação de dependência do servidor para com seu senhor ou, mais ainda, do filho para com seu Pai. Pecando, o homem pretende livrar-se de Deus. Na realidade, torna-se escravo. Pois, ao recusar Deus, quebra o impulso da sua aspiração ao infinito e da sua vocação à participação da vida divina. É por isso que seu coração fica entregue à inquietação.

O homem pecador que recusa aderir a Deus, é conduzido, necessariamente, a ligar-se à criatura, de um modo falacioso e destruidor. Neste voltar-se para a criatura (conversio ad creaturam), ele concentra sobre essa o seu desejo insatisfeito de infinito. Mas os bens criados são limitados; por isso mesmo, o seu coração corre de um para outro, sempre em busca de uma paz impossível.

Na realidade, quando atribui às criaturas um peso de infinitude, o homem perde o sentido do seu ser criado. Pretende encontrar o seu centro e a sua unidade em si mesmo. O amor desordenado de si é a outra face do desprezo de Deus. O homem pretende, então, apoiar-se em si mesmo somente; quer realizar-se a si mesmo, bastando-se na sua própria imanência. 30

O ateísmo falsa emancipação da liberdade

41. Isto torna-se mais particularmente manifesto quando o pecador julga só poder afirmar a sua liberdade própria, quando explicitamente negar Deus. A dependência da criatura para com o Criador ou a da consciência moral com relação à lei divina seriam, para ele, intoleráveis servidões. O ateísmo é, pois, aos seus olhos, a verdadeira forma de emancipação e de libertação do homem, enquanto a religião ou mesmo o reconhecimento de uma lei moral seriam alienações. O homem quer, então, decidir soberanamente acerca do bem e do mal, ou acerca dos valores, e, com um mesmo movimento, rejeita ao mesmo tempo a ideia de Deus e a ideia de pecado. É através da audácia da transgressão que ele pretende tornar-se adulto e livre. Ele reivindica tal emancipação não apenas para si, mas para a humanidade inteira.

Pecado e estruturas de injustiça

42. Tornando-se seu próprio centro, o homem pecador tende a afirmar-se e a satisfazer seu desejo de infinito, servindo-se das coisas: riquezas, poderes e prazeres, em menosprezo dos outros homens que ele despoja injustamente e trata como objectos ou instrumentos. Assim, contribui, por sua parte, para a criação daquelas estruturas de exploração e de servidão que, por outro lado, ele pretende denunciar.

CAPÍTULO III

LIBERTAÇÃO E LIBERDADE CRISTÃ

Evangelho, liberdade e libertação

43. A história humana, marcada pela experiência do pecado, levar-nos-ia ao desespero, se Deus tivesse abandonado a sua criatura a ela própria. Mas as promessas divinas de libertação e o seu vitorioso cumprimento na morte e ressurreição de Cristo são o fundamento da «alegre esperança» na qual a comunidade cristã busca a força para agir resoluta e eficazmente ao serviço do amor, da justiça e da paz. O Evangelho é uma mensagem de liberdade e uma força de libertação  31 que realiza a esperança de Israel, fundada sobre a palavra dos Profetas. Esta apoiava-se na acção de Javé que, antes mesmo de intervir como «goél»,32 libertador, redentor, salvador do seu Povo, escolhera-o gratuitamente em Abraão. 33

I. A libertação no Antigo Testamento

O Êxodo e as intervenções libertadoras de Javé

44. No Antigo Testamento, a acção libertadora de Javé, que serve de modelo e referência a todas as outras, é o Êxodo do Egito, «casa de servidão». Se Deus arranca seu Povo de uma dura escravidão económica, política e cultural, é para fazer dele, através de Aliança do Sinai, «um reino de sacerdotes e uma nação santa» (Ex 19, 6). Deus quer ser adorado por homens livres. Todas as libertações ulteriores do Povo de Israel tendem a conduzi-lo a essa liberdade em plenitude que ele só pode encontrar na comunhão com o seu Deus.

O acontecimento principal e fundacional do Êxodo tem, portanto, um significado ao mesmo tempo religioso e político. Deus liberta o seu Povo, dá-lhe uma descendência, uma terra, uma lei, mas dentro de uma Aliança e para uma Aliança. Não se poderia, portanto, isolar o aspecto político, atribuindo-lhe um valor por si mesmo; é necessário considerá-lo à luz do desígnio de natureza religiosa no qual ele se integra. 34

A Lei de Deus

45. Em seu desígnio de salvação, Deus deu a sua Lei a Israel. Juntamente com os preceitos morais universais do Decálogo, ela continha também normas cultuais e civis, que deviam regulamentar a vida do povo escolhido por Deus para ser sua testemunha entre as nações.

O amor de Deus acima de todas as coisas 35 e do próximo como a si mesmo 36 já constitui o centro desse conjunto de leis. Mas a justiça, que deve presidir as relações entre os homens, e o direito, que é a sua expressão jurídica, pertencem também à trama mais característica da Lei bíblica. Os Códigos e a pregação dos Profetas, como também os Salmos, referem-se constantemente a ambas, unindo-as frequentemente. 37 É em tal contexto que deve ser apreciado o cuidado da Lei bíblica pelos pobres, os desprovidos, a viúva e o órfão: a eles é devida a justiça, segundo o ordenamento jurídico do Povo de Deus. 38 Já existem, portanto, o ideal e o esboço de uma sociedade centralizada no culto do Senhor e fundada na justiça e no direito animados pelo amor.

O ensinamento dos Profetas

45. Os Profetas não cessam de lembrar a Israel as exigências da Lei da Aliança. Eles denunciam no coração endurecido do homem a fonte das repetidas transgressões e anunciam uma Nova Aliança, na qual Deus transformará os corações, gravando neles a Lei do seu Espírito. 39

Anunciando e preparando essa nova era, denunciam com vigor a injustiça perpetrada contra os pobres; em favor destes, fazem-se porta-vozes de Deus. Javé é o supremo recurso dos pequeninos e dos oprimidos. Será missão do Messias defendê-los. 40

A situação do pobre é uma situação de injustiça contrária à Aliança. Por isso a Lei da Aliança protege-o com preceitos que reflectem a própria atitude de Deus ao libertar Israel da servidão do Egito. 41 A injustiça para com os pequeninos e os pobres é um grave pecado, que quebra a comunhão com Javé.

Os «pobres de Javé»

47. A partir de todas as formas de pobreza, de injustiça sofrida e de aflição, os «justos» e os «pobres de Javé», nos Salmos, fazem subir até Ele as suas súplicas. 42 Eles sofrem em seus corações pela servidão â que foi reduzido, por causa de seus pecados, o povo «de dura cerviz». Suportam a perseguição, o martírio e a morte, mas vivem na esperança da libertação. Acima de tudo, põem a sua confiança em Javé, a quem recomendam a própria causa. 43

Os «pobres de Javé» sabem que a comunhão com Ele 44 é o bem mais precioso, no qual o homem encontra a sua verdadeira liberdade. 45 Para eles, o mal mais trágico é a perda dessa comunhão. É por isso que o seu combate contra a injustiça assume o sentido mais profundo e a sua eficácia na vontade de ser libertados da servidão do pecado.

No limiar do Novo Testamento

48. No limiar do Novo Testamento, os «pobres de Javé» constituem as primícias de um «povo humilde e pobre», que vive na esperança da libertação de Israel. 46

Personificando essa esperança, Maria ultrapassa o limiar do Antigo Testamento. Ela anuncia com alegria o acontecimento messiânico e louva o Senhor que se prepara para libertar o seu Povo. 47 No seu hino de louvor à divina misericórdia, a humilde Virgem, para quem o povo dos pobres se volta espontaneamente e com tanta confiança, canta o mistério da salvação e a sua força de transformação. O senso da fé, tão vivo nos pequeninos, sabe reconhecer imediatamente toda a riqueza do Magnificat, ao mesmo tempo soteriológica e ética. 48

(cont)
(Revisão da versão portuguesa por ama)
____________________________________
Notas:
28 Cfr. Rm 1, 18-32.
29 Cfr. Jr 5, 23; 7,24; 17, 9; 18, 12.
30 Cfr. S. Agostinho, De civitate Dei, XIV, 28 (PL 41, 435; CSEL 40/2, 56-57; CCL 14/2, 451-452)
31 Cfr. Instr. Libertatis Nuntius, Premissas: AAS 76 (1984), 876.
32 Cfr. Is 41, 14; Jr 50, 34. «Goél»; essa palavra implica a ideia de um laço de parentesco entre aquele que liberta e aquele que é libertado; cfr. Lv 25, 25. 47-49; Rt 3, 12; 4, 1. «Padah» significa «adquirir para si»; cfr. Ex 3, 13; Dt 9, 26; 15, 15; Sl 130, 7-8.
33 Cfr. Gn 12, 1-3.
34 Cfr. Instr. Libertatis Nuntius, IV, 3: AAS 76 (1984), 882.
35 Cfr. Dt 6, 5.
36 Cfr. Lv 19, 18.
37 Cfr. Dt 1, 16-17; 16, 18-20; Jr 22, 3-15; 23, 5; Sl 33, 5; 72, 1; 99, 4.
38 Cfr. Ex 22, 20-23; Dt 24, 10-22.
39 Cfr. Jr 31, 31-34; Ez 36, 25-27.
40 Cfr. Is 11, 1-5; Sl 72, 4. 12-14; Instr. Libertatis Nuntius, IV, 6: AAS 76 (1984), 883.
41 Cfr. Ex 23, 9; Dt 24, 17-22.
42 Cfr. Sl 25; 31; 35; 55; Instr. Libertatis Nuntius, IV, 5: AAS 76 (1984), 883.
43 Cfr. Jr 11, 20; 20, 12.
44 Cfr. Sl 73, 26-28.
45 Cfr. Sl 16; 62; 84.
46 Cfr. Sf 3, 12-20; cfr. Instr. Libertatis Nuntius, IV, 5: AAS 76 (1984), 883.
47 Cfr. Lc 1, 46-55.
48 Cfr. Paulo VI, Exort. apost. Marialis Cultus, n. 37: AAS 66 (1974), 148-149.



Temas para meditar 221


Lealdade


Aceita os vínculos implícitos na sua adesão aos outros - amigos, chefes, familiares, instituições - de tal modo que reforça e protege ao longo do tempo, o conjunto de valores que representam.


Definição de Lealdade

Tratado da Graça 10

Questão 109

Art. 10 — Se o homem, constituído na graça, precisa do auxílio da mesma para perseverar.

(IIª-IIªe, q. 137 a. 4: II Sent., dist. XXIX, exposit litt., III Cont. Gent., cap. CLV, De Verit., q. 24, a. 13).

O décimo discute-se assim. — Parece que o homem constituído na graça não precisa do auxílio da mesma, para perseverar.

1. — Pois, a perseverança, como a continência, é algo menos que a virtude, como claramente o diz o Filósofo. Ora, o homem, uma vez justificado pela graça, não precisa do auxílio da mesma, para praticar a virtude. Logo, com maior razão, não precisa desse auxílio para perseverar.

2. Demais. — Todas as virtudes são infundadas simultaneamente. Ora, a perseverança é considerada uma virtude. Logo, a perseverança coexiste com a graça das outras virtudes infusas.

3. Demais. — Como diz o Apóstolo, o homem ganhou mais com o dom de Cristo, do que perdeu com o pecado de Adão. Ora, Adão recebera o dom de poder perseverar. Logo, com maior razão, pela graça de Cristo, obtemos o poder de perseverar. Portanto, não precisamos, para isso, de nenhuma graça.

Mas, em contrário, Agostinho diz: Porque pedimos a Deus a perseverança, se ele não a dá? Pois, é uma petição irrisória, desde que sabemos que ele não nos satisfaz o pedido, e que está em nosso poder esse dom mesmo, não recebido de Deus. Ora, a perseverança é pedida, mesmo pelos santificados pela graça, pois, isso está compreendido na oração — Santificado seja o vosso nome — como, no mesmo lugar Agostinho o confirma, citando as palavras de Cipriano. Logo, o homem, mesmo constituído em graça, precisa que Deus lhe dê a perseverança.

SA perseverança pode ser entendida em tríplice acepção. — Às vezes, significa um hábito do espírito, que fortifica o homem contra o ímpeto da tristeza, para que se não afaste da vida virtuosa. E assim, a perseverança está para a tristeza como a continência, para a concupiscência e o prazer, segundo o Filósofo. — Outras vezes, pode chamar-se perseverança a um hábito pelo qual o homem tem o propósito de perseverar no bem até o fim. — Ora, de ambos modos, a perseverança é infundida simultaneamente com a graça, assim como a continência e as demais virtudes.

Noutra acepção, chama-se perseverança à continuação no bem até o fim da vida. E para consegui-la, o homem, constituído na graça não precisa, por certo, de nenhuma outra graça habitual, mas, ao auxílio divino, que o dirige e protege contra o ímpeto das tentações, conforme resulta da questão precedente. Portanto, quem está justificado pela graça, há-de necessariamente pedir a Deus o referido dom da perseverança, para livrar-se do mal, até o fim da vida. Pois, a muitos é dada a graça, aos quais não é dado perseverar nela.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A objecção colhe, quanto à primeira acepção da perseverança. Assim como a segunda também colhe, no concernente à segunda acepção.

Donde se deduz a RESPOSTA À SEGUNDA OBJECÇÃO.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz Agostinho, o homem, no seu primeiro estado, recebeu o dom pelo qual poderia perseverar, não o recebeu, contudo, para que perseverasse. No estado presente, porém, pela graça de Cristo, muitos recebem o dom da graça, pelo qual podem perseverar, e além disso é-lhes concedido perseverarem. Portanto, o dom de Cristo é maior que o delito de Adão. E contudo, o homem podia, pelo dom da graça, perseverar mais facilmente, no estado de inocência, em que não havia nenhuma rebelião da carne contra o espírito, do que no estado presente, em que a restauração operada pela graça de Cristo, embora já começada, no espírito, ainda não se consumou na carne. O que se dará na prática, onde o homem, não só poderá perseverar, mas onde também não poderá pecar.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evang.; Coment.; Leit. Esp. (Cong. Dout da Fé - Libertais conscientia)

Tempo comum XXI Semana

Evangelho: Mt 25, 14-30

14 «Será também como um homem que, estando para empreender uma viagem, chamou os seus servos, e lhes entregou os seus bens. 15 Deu a um cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual segundo a sua capacidade, e partiu. 16 O que tinha recebido cinco talentos, logo em seguida, foi, negociou com eles, e ganhou outros cinco. 17 Do mesmo modo, o que tinha recebido dois, ganhou outros dois. 18 Mas o que tinha recebido um só, foi fazer uma cova na terra, e nela escondeu o dinheiro do seu senhor. 19 «Muito tempo depois, voltou o senhor daqueles servos e chamou-os a contas. 20 Aproximando-se o que tinha recebido cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo: “Senhor, entregaste-me cinco talentos, eis outros cinco que lucrei”. 21 Seu senhor disse-lhe: “Está bem, servo bom e fiel, já que foste fiel em poucas coisas, dar-te-ei a intendência de muitas; entra no gozo do teu senhor”. 22 Apresentou-se também o que tinha recebido dois talentos, e disse: “Senhor, entregaste-me dois talentos, eis que lucrei outros dois”. 23 Seu senhor disse-lhe: “Está bem, servo bom e fiel, já que foste fiel em poucas coisas, dar-te-ei a intendência de muitas; entra no gozo do teu senhor”. 24 «Apresentando-se também o que tinha recebido um só talento, disse: “Senhor, sei que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. 25 Tive receio e fui esconder o teu talento na terra; eis o que é teu”. 26 Então, o seu senhor disse-lhe: “Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei, e que recolho onde não espalhei. 27 Devias pois dar o meu dinheiro aos banqueiros e, à minha volta, eu teria recebido certamente com juro o que era meu. 28 Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos, 29 porque ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que tem. 30 E a esse servo inútil lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes”.

Comentário:

A honestidade pessoal não se resume em devolver intacto o que se recebeu mas em cumprir o mandato que foi expresso.
O Senhor daqueles servos não lhes mandou só guardar os talentos mas em fazê-los render o que, os dois primeiros fizeram e o terceiro não.
Quando não pomos em obra o que temos ou sabemos o que interessa?
Seremos como pobre avarento que passa privações para conservar o que tem e, esta, é uma imagem que não pode deixar de repugnar.

(ama, comentário sobre Mt 25, 14-30, 2012.09.01)

Leitura espiritual



Documentos do Magistério

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

INSTRUÇÃO
LIBERTATIS CONSCIENTIA
SOBRE A LIBERDADE CRISTÃ E A LIBERTAÇÃO

CAPÍTULO II

VOCAÇÃO DO HOMEM
A LIBERDADE E DRAMA DO PECADO

II. Liberdade e libertação

O apelo do Criador

28. Ao criar o homem livre, Deus imprimiu nele a sua imagem e semelhança. 17 O homem ouve o apelo do seu Criador, na inclinação e aspiração da sua natureza para o Bem, e mais ainda na Palavra da Revelação, que foi pronunciada de uma maneira perfeita em Cristo. Recebe, dessa forma, a revelação de que Deus o criou livre, para que ele pudesse, por graça, entrar em amizade com Ele e comungar de sua vida.

Uma liberdade participada

29. O homem não tem a sua origem na sua própria acção individual ou colectiva, mas no dom de Deus que o criou. Tal é a primeira confissão da nossa fé, que vem confirmar as mais elevadas intuições do pensamento humano.

A liberdade do homem é uma liberdade participada. A sua capacidade de se realizar não é, de forma alguma, suprimida pela sua dependência de Deus. É próprio do ateísmo, justamente, crer numa posição irredutível entre a causalidade de uma liberdade divina e a da liberdade do homem, como se a afirmação de Deus significasse a negação do homem, ou como se a sua intervenção na história tornasse vãs as tentativas deste último. Na realidade, é de Deus e com relação a Ele, que a liberdade humana adquire sentido e consistência.

A opção livre do homem

30. A história do homem desenrola-se a partir da natureza que ele recebeu de Deus, na livre realização dos fins para os quais o orientam e o impelem as inclinações dessa natureza e da graça divina.

Mas a liberdade do homem é finita e falível. O seu desejo pode voltar-se para um bem aparente: optando por um falso bem, falta à vocação da sua liberdade. O homem, por seu livre arbítrio, dispõe de si mesmo, realizando, dessa forma, a sua vocação régia de filho de Deus. «Pelo serviço de Deus, ele reina». 18 A autêntica liberdade é «serviço da justiça», enquanto, ao contrário, a escolha da desobediência e do mal é «escravidão do pecado». 19

Libertação temporal e liberdade

31. A partir dessa noção de liberdade, torna-se mais clara a dimensão da noção de liberdade temporal: trata-se do conjunto dos processos quem têm o objectivo de proporcionar e garantir as condições exigidas pelo exercício de uma liberdade humana autêntica.

Portanto, não é a libertação que, por si mesma, produz a liberdade do homem. O senso comum, confirmado pelo sentido cristão, sabe que, mesmo submetida a condicionamentos, a liberdade nem por isso é completamente destruída. Homens que sofrem terríveis coacções conseguem manifestar a sua liberdade e movimentar-se pela própria libertação. Um processo de libertação que atingir o seu termo pode apenas criar condições melhores para o exercício efectivo da liberdade. Da mesma forma, uma libertação que não levar em consideração a liberdade pessoal daqueles que por ela combatem, está de antemão condenada ao fracasso.

III. A liberdade e a sociedade humana

Os Direitos do Homem e as «liberdades»

32. Deus não criou o homem como um «ser solitário», mas o quis «ser social». 20 A vida social, portanto, não é algo de exterior ao homem: este não pode crescer e realizar a sua vocação senão em relação com os outros. O homem pertence a diversas comunidades, familiar, profissional, política, e é no seio destas que deve exercer a sua liberdade responsável. Uma ordem social justa oferece ao homem uma ajuda insubstituível para a realização da sua personalidade livre. Ao contrário, uma ordem social injusta é uma ameaça e um obstáculo que podem comprometer o seu destino.

Na esfera social, a liberdade exprime-se e realiza-se em acções, estruturas e instituições, graças às quais os homens se comunicam entre si e organizam a sua vida comum. O desenvolvimento de uma personalidade livre, que é um direito e um dever de todos, deve ser ajudado e não obstaculizado pela sociedade.

Trata-se de uma exigência de natureza moral, que encontrou a sua expressão na formulação dos Direitos do Homem. Entre eles, alguns têm por objecto o que se convencionou chamar «as liberdades», isto é, maneiras de se reconhecer a cada ser humano o seu carácter de pessoa responsável por ela mesma e pelo seu destino transcendente, como também de reconhecer a inviolabilidade da sua consciência. 21

Dimensões sociais do homem e glória de Deus

33. A dimensão social do ser humano assume ainda um outro significado: somente a pluralidade e a rica diversidade dos homens podem exprimir algo da riqueza infinita de Deus.

Enfim, essa dimensão é chamada a encontrar a sua realização no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Por isso, a vida social, na variedade das suas formas e na medida em que é conforme à lei divina, constitui um reflexo da glória de Deus no mundo. 22

IV. Liberdade do homem e domínio da natureza

Vocação do homem: «dominar» a natureza

34. Juntamente com a sua dimensão corporal, o homem tem necessidade dos recursos do mundo material para a sua realização pessoal e social. Nesta vocação de dominar a terra, submetendo-a ao seu serviço pelo trabalho, pode-se reconhecer um traço da imagem de Deus. 23 Mas a intervenção humana não é «criadora»; depara-se com uma natureza material que, como ela, tem a sua origem em Deus Criador e da qual o homem foi constituído «nobre e sábio guardião». 24

O homem, senhor de suas actividades

35. As transformações técnicas e económicas repercutem sobre a organização da vida social; não deixam de influir, numa certa medida, sobre a vida cultural e sobre a própria vida religiosa.

No entanto, pela sua liberdade, o homem permanece senhor da sua actividade. As grandes e rápidas transformações da época contemporânea apresentam-lhe um dramático desafio: o do domínio e controle, mediante a razão e a liberdade, sobre as forças que ele desencadeia ao serviço das verdadeiras finalidades humanas.

Descobertas científicas e progresso moral

36, Compete, pois, à liberdade bem orientada fazer com que as conquistas científicas e técnicas, a procura de sua eficácia, os produtos do trabalho e as próprias estruturas da organização económica e social, não sejam submetidos a projectos que os privem de suas finalidades humanas, fazendo-os voltarem-se contra o próprio homem.

A atividade científica e a actividade técnica comportam, cada uma, exigências específicas. Entretanto, só alcançam o seu significado e o seu valor propriamente humanos, quando subordinadas aos valores morais. Essas exigências devem ser respeitadas; mas querer atribuir-lhes uma autonomia absoluta e obrigatória, não conforme à natureza das coisas, é entrar em um caminho que leva à ruína a autêntica liberdade do homem.

V. O pecado, fonte de divisão e de opressão

O pecado separação de Deus

37. Deus chama o homem para a liberdade. Em cada homem é viva a vontade de ser livre. E, no entanto, tal vontade leva quase sempre à escravidão e à opressão. Qualquer empenho pela libertação e pela liberdade supõe, pois, que se tenha enfrentado esse dramático paradoxo.

O pecado do homem, isto é, a sua ruptura com Deus, é a razão radical das tragédias que marcam a história da liberdade. Para compreendê-lo, muitos de nossos contemporâneos deverão, primeiramente, redescobrir o sentido do pecado.

No anseio de liberdade do homem esconde-se a tentação de renegar a sua própria natureza. Na medida em que deseja querer tudo e tudo poder, esquecendo-se, assim, de que é finito e criado, ele pretende ser um deus. «Sereis como Deus» (Gn 3, 5). Essa palavra da serpente manifesta a essência da tentação do homem; ela comporta a perversão do sentido da sua própria liberdade. Tal é a natureza profunda do pecado: o homem separa-se da verdade, impondo-lhe a sua vontade. Querendo libertar-se de Deus e ser, ele mesmo, um deus, engana-se e se destrói. Aliena-se de si mesmo.

Neste querer ser deus e tudo submeter a seu prazer pessoal esconde-se uma perversão da própria ideia de Deus. Deus é amor e verdade na plenitude do dom recíproco das Pessoas divinas. O homem é chamado a ser como Deus, é verdade. Entretanto, ele torna-se semelhante a Deus não no arbitrário do seu querer, mas na medida em que reconhece a verdade e o amor como o princípio e a finalidade da sua liberdade.

O pecado, raiz das alienações humanas

38. Ao pecar, o homem mente a si mesmo e separa-se da sua verdade. Buscando a total autonomia e a auto-suficiência, nega Deus e nega-se a si mesmo. A alienação com relação à verdade do seu ser de criatura amada por Deus é a raiz de todas as outras alienações.

Negando, ou tentando negar Deus, seu Princípio e seu Fim, o homem altera profundamente a sua ordem e o seu equilíbrio interior, os da sociedade e até mesmo os da criação visível. 25

É em conexão com o pecado que a Escritura considera o conjunto das calamidades que oprimem o homem em seu ser individual e social.

Ela mostra como todo o curso da história mantém uma ligação misteriosa como agir do homem que, desde a origem, abusou da sua liberdade erguendo-se contra Deus e procurando alcançar os seus fins fora d’Ele. 26 No carácter penoso do trabalho e da maternidade, no domínio do homem sobre a mulher e na morte, o livro do Génesis indica as consequências do pecado original. Os homens privados da graça divina herdaram, dessa forma, uma natureza comum mortal, incapaz de se fixar no bem, e inclinada à cobiça. 27

(cont)

Revisão da versão portuguesa por ama)

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Notas:
17 Cfr. Gn 1, 26.
18 João Paulo II, Enc.  Redemptor Hominis, n. 21: AAS 71 (1979), 316.
19 Cfr. Rm 6, 6; 7, 23.
20 Cfr. Gn 2, 18. 23: «Não é bom que o homem esteja só»... «Esta sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne»: essas palavras da Escritura não contêm apenas uma significação com relação ao homem e à mulher; pode-se reconhecer nelas uma dimensão mais universal. Cfr. Lv 19, 18.
21 Cfr. João XXIII, Enc. Pacem in Terris, nn. 5-15: AAS 55 (1963), 259-265; João Paulo II, Carta ao Sr. K. Waldheim, Secretário geral das Nações Unidas, por ocasião do 30º aniversário da «Declaração universal dos direitos do homem »: AAS 71 (1979), 122; Discurso pontifício à O.N.U., n. 9: AAS 71 (1979), 1149.
22 Cfr. S. Agostinho, Ad Macedonium, II, 7-17 (PL 33, 669-673; CSEL 44, 437-447),
23 Cfr. Gn 1, 27-28.
24 Cfr. João Paulo II, Enc.  Redemptor Hominis, n. 15: AAS 71 (1979), 286.
25 Cfr. Const. past. Gaudium et Spes, n. 13, § 1.
26 Cfr. João Paulo II, Exort. apost. Reconciliatio et Poenitentia, n. 13: AAS 77 (1985), 208-211.
27 Cfr. Gn 3, 16-19; Rm 5, 12; 7, 14-24; Paulo VI, Sollemnis Professio Fidei, 30 de junho de 1968, n. 16: AAS 60 (1968), 439.