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18/05/2014

As sete palavras de Cristo na Cruz 18

Capítulo 3: O segundo fruto que se há-de colher da consideração da primeira Palavra dita por Cristo na Cruz 8

Mas, omitindo estas considerações, passemos revista aos muitos e grandes inconvenientes que sofrem aqueles homens que, apenas para escapar de uma sombra de desonra diante dos homens, estão obstinados a se vingar daqueles que lhes fizeram qualquer mal. Em primeiro lugar, agem como estultos ao preferir um mal maior a um menor. Pois é um princípio considerado certo em toda parte, e que nos foi declarado pelo Apóstolo nestas palavras: "Não façamos o mal para que venha o bem" 13. Segue-se que, por consequência, um mal maior não há de ser cometido para que se possa obter alguma compensação por um menor. Aquele que recebe a injúria, recebe o que é chamado de mal da injúria: aquele que se vinga de uma injúria, é culpável do que se chama de mal do crime. Ora, sem dúvida, a desgraça de cometer um crime é maior que a desgraça de ter de suportar a injúria, pois, ainda que a ofensa possa tornar um homem miserável, não necessariamente o torna mau. Um crime, no entanto, o faz, a um tempo, miserável e malvado. A injúria priva o homem do bem temporal, o crime o priva tanto do bem temporal como do eterno. Assim, um homem que remedia o mal de uma injúria cometendo um crime, é como um homem que corta uma parte dos seus pés para calçar sapatos menores, o que é um ato de total loucura. Ninguém comete tal insensatez em suas preocupações temporais, mas, no entanto, há alguns homens tão cegos a seus interesses reais, que não temem ofender mortalmente a Deus para escapar daquilo que tem aparência de desgraça, e para manter um semblante de honra aos olhos dos homens. Caem, pois, sob o desagrado e a ira de Deus, e, a menos que se corrijam a tempo e façam penitência, terão que suportar a desgraça e o tormento eterno, e perderão a honra sem fim de habitarem no céu. Acrescente-se a isto que realizam um ato dos mais agradáveis ao diabo e seus anjos, que urgem a este homem fazer algo de injusto a aquele outro, com o propósito de semear a discórdia e a inimizade no mundo. E cada um deve refletir com calma quão desgraçado não é quem agrada o inimigo mais feroz da raça humana e desagrada o Cristo. Ademais, se sucede que o homem injuriado que ambiciona vingança fira mortalmente a seu inimigo, e o mate, é ele ignominiosamente executado por assassinato, e toda a sua propriedade é confiscada pelo Estado, ou, ao menos, é forçado ao exílio, e tanto ele como sua família viverão uma existência miserável. Assim é como o diabo joga e como se ri daqueles que escolhem antes se aprisionar com as ataduras da falsa honra, que se fazerem servos e amigos de Cristo, o melhor dos Reis, e serem reconhecidos como herdeiros de reino mais vasto e mais durável. Por isso, posto que o homem insensato, apesar do mandamento de Cristo, se nega a reconciliar-se com seus inimigos, e se expõe ao desastre total, todos os que são sábios escutarão a doutrina que Cristo, o Senhor de tudo, nos ensinou no Evangelho com suas palavras, e na Cruz com suas obras.

são roberto belarmino

(Tradução: Permanência, revisão ama).

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Notas:
13. Rm 3,8.


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