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11/05/2014

As sete palavras de Cristo na Cruz 11

Capítulo 2: O primeiro fruto que se há-de colher da consideração da primeira Palavra dita por Cristo na Cruz 3

Mas da consideração da Humanidade de Cristo ascendamos à consideração de Sua Divindade. Grande foi a caridade de Cristo como homem para com seus verdugos, mas maior foi a caridade de Cristo como Deus, e do Pai, e do Espírito Santo, no dia último, para com toda a humanidade, que fora culpada de actos de inimizade para com seu Criador, e que, se tivesse sido capaz, o teria expulsado do céu, pregado a uma cruz, e assassinado. Quem pode conceber a caridade que Deus tem para com tão ingratas e malvadas criaturas? Deus não poupou os anjos quando pecaram, nem lhes deu tempo para arrepender-se; com frequência, todavia, suporta pacientemente o homem pecador, blasfemos, e aqueles que se enrolam no estandarte do demônio, Seu inimigo, e não só os suporta mas também os alimenta e cria, e até os alenta e sustém, porque “n’Ele vivemos, e nos movemos, e existimos” 4, como diz o Apóstolo. Tampouco preserva somente o justo e bom, mas igualmente o homem ingrato e malvado, como Nosso Senhor nos diz no Evangelho segundo São Lucas. Tampouco nosso Bom Senhor meramente alimenta e cria, alenta e sustém seus inimigos, senão que amiúde acumula seus favores sobre eles, dando-lhes talentos, tornando-os honrosos, e os eleva a tronos temporais, enquanto lhes aguarda pacientemente o regresso da senda da iniquidade e perdição.

E, não nos ocupando aqui de várias características da caridade que Deus sente pelos homens malvados, os inimigos de sua Divina Majestade, cada uma das quais requereria um volume se as tratássemos singularmente, limitar-nos-emos agora àquela singular bondade de Cristo que estamos tratando. Pois “Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito”? 5. O mundo é o inimigo de Deus, porque “todo o mundo está sob o [jugo do espírito] maligno” 6, como nos diz São João. E, “se alguém ama o mundo, não há nele o amor do Pai” 7, como torna a dizer adiante. São Tiago escreve: “Portanto, todo aquele que quiser ser amigo deste século constitui-se inimigo de Deus” e “a amizade deste mundo é inimiga de Deus” 8. Deus, portanto, ao amar este mundo, mostra seu amor a seu inimigo com a intenção de fazê-lo amigo seu. Com este propósito enviou seu Filho, “Príncipe da Paz’ 9, para que por seu intermédio o mundo possa ser reconciliado com Deus. Por isso, ao nascer Cristo, os anjos cantaram: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra” 10. Assim, Deus amou o mundo, seu inimigo, e deu o primeiro passo para a paz, dando seu Filho, que pode trazer a reconciliação sofrendo a pena devida a seu inimigo. O mundo não recebeu Cristo, acresceu sua culpa, rebelou-se diante do único Mediador, e Deus inspirou a este Mediador pagar o mal com o bem orando por seus perseguidores. Orou e “foi atendido pela sua reverência” 11. Deus esperou pacientemente o progresso que teriam os Apóstolos por sua pregação na conversão do mundo. Aqueles que tiverem feito penitência têm o perdão. Àqueles que não se tiverem arrependido após tão paciente tolerância, extermina-os o juízo final de Deus. Portanto, desta primeira palavra de Cristo aprendemos, em verdade, que a caridade de Deus Pai — que “amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho Unigénito, para que todo o que crê n’Ele não pereça, mas tenha vida eterna” 12 — ultrapassa todo e qualquer conhecimento. 

são roberto belarmino

(Tradução: Permanência, revisão ama).

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Notas:
4.Atos 17,28.
5.Jo 3,16.
6.1Jo 5,19.
7.1Jo 2,15.
8.Tg 4,4.
9.Is 2,6.
10.Lc 2,14.
11.Hb 5,7.
12.Jo 3,16.


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