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01/04/2014

Tratado dos vícios e pecados 46

Questão 79: Das causas exteriores do pecado, e primeiro por parte de Deus.

Art. 2 — Se Deus é causa do acto pecaminoso.

(II Sent., dist. XXXVII, q. 2, a. 2; De Malo. q. 3, a. 2).

O segundo discute-se assim. — Parece que Deus não é causa do acto pecaminoso.

1. — Pois, como diz Agostinho o acto pecaminoso não é uma realidade. Ora, Toda realidade é causada por Deus. Logo, o acto pecaminoso não o causa Deus.

2. Demais. — Por ser causa do acto pecaminoso dizemos ser o homem causa do pecado; pois ninguém pratica o mal intencionalmente, como diz Dionísio. Ora, Deus não é causa do pecado, segundo já se disse. Logo, não é causa do acto pecaminoso.

3. Demais. — Certos actos são especificamente maus e pecaminosos, como do sobredito se colhe. Ora, a causa de um efeito é também o que a este convém especificamente. Logo, se Deus fosse causa do acto pecaminoso, sê-lo-ia também do pecado. Ora, tal não é verdade, como já se demonstrou. Logo, Deus não é causa do acto pecaminoso.

Mas, em contrário. — O acto do pecado é do livre arbítrio. Ora, a vontade de Deus é causa de todos os movimentos, como diz Agostinho. Logo, a vontade de Deus é causa do acto pecaminoso.

Como realidade e como acto, que é, o acto pecaminoso procede de Deus. — Pois, toda realidade, seja de que modo for, há-­de necessariamente derivar do primeiro ser, como diz claramente Dionísio. — Ora, toda ação só é causada por um ser actual, porque nada age senão como actual. Ora, todo ser actual depende do primeiro acto, que é Deus, como de causa essencialmente actual. Donde se conclui ser Deus a causa de toda acção como tal.

Mas, pecado significa deficiência no ser e no acto; e esta procede de uma causa criada, que é o livre arbítrio, desviado da ordem do primeiro agente, Deus. Donde tal deficiência não se atribui a Deus como a causa, mas ao livre arbítrio. Assim como o defeito de coxear reduz-se à tíbia curva, como à causa, e não à virtude motora, que, contudo é causa do movimento no coxear. E a esta luz, Deus é causa do acto do pecado, não porém do pecado, por não ser causa da deficiência do acto.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — No lugar aduzido Agostinho entende pela realidade a realidade pura é simples, i. é, a substância. Ora, em tal sentido o acto pecaminoso não é uma realidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Do homem, como causa, depende não só o seu acto, mas também, sua própria deficiência, por não se sujeitar a quem devia sujeitar-se, embora não tenha principalmente essa intenção. Logo, o homem é causa do pecado. Deus porém é causa do acto, mas de modo a não ser, de maneira nenhuma, causa da deficiência concomitante ao acto. Logo, não é causa do pecado.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como dissemos, o acto e o hábito não se especificam pela própria privação, na qual consiste a essência do mal; mas por algum objecto conexo com essa privação. E assim, a própria deficiência, considerada não proveniente de Deus, pertence consequentemente à espécie do acto, e não como diferença específica.

Revisão da tradução portuguesa por ama





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