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30/03/2014

Tratado dos vícios e pecados 44

Questão 78: Da causa do pecado, por parte da vontade, chamada malícia.

Art. 4 — Se quem peca por malícia intencional peca mais gravemente que quem peca por paixão.

(II Sent., dist. XLIII, a. 4; De Malo, q. 3, a. 13; VII Ethic., lect. VIII).

O quarto discute-se assim. — Parece que quem peca por malícia intencional não peca mais gravemente que quem peca por paixão.

1. — Pois, a ignorância isenta do pecado, total ou parcialmente. Ora, a ignorância de quem peca por malícia intencional é maior que a de quem peca por paixão. Pois, quem peca por malícia intencional procede assim por ignorância do princípio, que é a maior de todas, como diz o Filósofo. Pois aprecia mal o fim, princípio das obras. Logo, é mais isento de pecado quem peca por malícia intencional que quem peca por paixão.

2. Demais. — Quanto maior for o impulso com que pecamos tanto menor será o pecado, como o demonstra quem a ele se entrega por maior ímpeto de paixão. Ora, quem peca por malícia intencional é levado pelo hábito, cujo impulso é mais forte que o da paixão. Logo, quem peca por hábito peca menos que quem peca por paixão.

3. Demais. — Pecar por malícia intencional é pecar elegendo o mal. Ora, quem peca por paixão também elege o mal. Logo, não peca menos que quem peca por malícia intencional.

Mas, em contrário, o pecado cometido de propósito, merece pena mais grave, conforme a Escritura (Jó 34): Feriu-os como ímpios à vista de todos, os que como de propósito se afastaram dele. Ora, a pena só aumenta pela gravidade da culpa. Logo, o pecado agrava-se quando proposital e por malícia intencional.

O pecado por malícia intencional é mais grave que o passional, por tríplice razão. — Primeiro porque, residindo o pecado principalmente na vontade, quanto mais o acto deste lhe for próprio a ela, tanto mais grave é ele, em igualdade de circunstâncias. Ora, quando pecamos por malícia intencional, o acto pecaminoso é mais próprio da vontade, que por si mesma o busca, que quando pecamos por paixão, pois neste caso a vontade é levada a pecar por um princípio extrínseco. Donde, o pecado, pelo próprio facto de ser procedente da malícia, agrava-se, e tanto mais quanto mais veemente for a malícia. E pelo que procede da paixão, tanto mais diminui, quanto mais veemente ela for.

Segundo porque a paixão inclinante a pecar se desvanece rapidamente, e então logo tornamos ao bom propósito, arrependendo-nos do pecado. Ao contrário, o hábito inclinante ao pecado por malícia é um defeito permanente, e portanto, quem peca por malícia peca mais diuturnamente. E por isso o Filósofo compara o intemperante, que peca por malícia, ao enfermo que sofre continuamente, e o incontinente, que peca por paixão, ao que sofre intermitentemente.

Terceiro porque quem peca por malícia intencional está mal disposto quanto ao próprio fim, que é o princípio na ordem da acção. E assim, a sua deficiência é mais perigosa que a de quem peca por paixão, cujo propósito tende para um bom fim, embora tal propósito fique momentaneamente travado pela paixão. Ora, a deficiência do princípio é sempre péssima. Donde é manifesto, que o pecado por malícia é mais grave que o passional.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A ignorância da eleição, onde a objecção se funda, nem isenta do pecado nem o diminui, como já se disse. Portanto, nem a tal ignorância maior torna menor o pecado.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O impulso proveniente da paixão vem de uma como deficiência exterior, relativa à vontade, ao passo que, pelo hábito, a vontade se inclina quase por um princípio interior. Portanto, não há semelhança de razões.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Uma coisa é pecarmos elegendo e outra, por eleição. Porque, nessa tal pessoa, não é a eleição o princípio primeiro do pecado, mas é levado pela paixão a eleger o que não elegeria se desta estivesse isento. Mas, quem peca por malícia intencional elege o mal em si mesmo, do modo já dito. E portanto a sua eleição é o princípio do pecado, sendo por isso considerado como pecando por eleição.


Revisão da tradução portuguesa por ama





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