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26/03/2014

Tratado dos vícios e pecados 40

Questão 77: Da causa do pecado por parte do apetite sensitivo: se a paixão da alma é causa do pecado.

Art. 8 ― Se o pecado provocado pela paixão pode ser mortal.

(De Malo., q. 3, a. 10)

O oitavo discute-se assim. ― Parece que o pecado provocado pela paixão não pode ser mortal.

1. Pois, o pecado venial separa-se do mortal, por contrariedade. Ora, o pecado por fraqueza é venial, por trazer em si a causa da vénia. Ora, sendo o pecado provocado pela paixão proveniente da fraqueza, resulta o não poder ser mortal.

2. Demais. ― A causa é mais forte que o efeito. Ora, a paixão não pode ser pecado mortal, por não poder este residir na sensualidade, como já se demonstrou (q. 74, a. 4). Logo, o pecado provocado pela paixão não pode ser mortal.

3. Demais ― A paixão desvia a razão, como do sobredito se colhe (a. 1, 2). Ora, a razão pode voltar-se para Deus ou dele afastar-se, e nisso consiste a essência do pecado mortal. Logo, o pecado provocado pela paixão pode ser mortal.

Mas, em contrário, diz o Apóstolo (Rm 7, 5): as paixões dos pecados obravam em nossos membros para darem fruto à morte. Ora, frutificar para a morte é próprio do pecado mortal. Logo, o pecado provocado pela paixão pode ser mortal.

O pecado mortal consiste, como dissemos (q. 72, a. 5), no afastamento de Deus, fim último, e esse afastamento provém da razão deliberativa, à qual também é próprio ordenar para o fim. Donde, só nos movimentos súbitos pode suceder que a inclinação da alma para um fim contrário ao fim último, não seja pecado mortal, por não ter podido intervir a razão deliberativa. Ora, não é subitamente que passamos da paixão ao acto pecaminoso, ou ao consentimento deliberado. Logo, a razão deliberativa pode intervir, pois, pode excluir ou, pelo menos, impedir a paixão, como já se disse (a. 7). Portanto, se não intervier, o pecado é mortal, daí o vermos muitos homicídios e adultérios serem cometidos por paixão.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Um pecado pode considerar-se venial de três modos. ― Primeiro quando tem uma causa de vénia, que o diminui. Assim, chama-se venial o pecado por fraqueza ou ignorância. ― Segundo, por um evento, assim, todo pecado pela penitência torna-se venial, i. é, consegue-se a vénia. ― Terceiro, genericamente, como a palavra ociosa. E, só nesta acepção, venial se opõe ao mortal. Ora, a objecção funda-se no primeiro sentido.

RESPOSTA À SEGUNDA OBJECÇÃO. ― A paixão é causa do pecado, quanto à conservação. Mas a aversão consecutiva acidentalmente à conversão, torna-o mortal, como já se disse (a. 6, ad 1). Logo, a objecção não colhe.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Nem sempre o acto da razão fica totalmente impedido pela paixão, e por isso resta-lhe sempre o livre arbítrio, para poder apartar-se de Deus ou voltar-se para ele. Se porém ficasse totalmente travado o uso da razão, já não haveria pecado, nem mortal nem venial.

Revisão da tradução portuguesa por ama





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