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04/03/2014

Tratado dos vícios e pecados 26

Questão 74: Do sujeito dos pecados.

Art. 4 ― Se na sensualidade pode haver pecado mortal.

(II Sent., dist. XXIV; q. 3, a. 2, ad 3; De Verit., q. 25, a. 5; De Malo, q. 7, a. 6; Quodl. IV, q. 11, a. 1)

O quarto discute-se assim. ― Parece que na sensualidade pode haver pecado mortal.

1. ― Pois, o acto é conhecido pelo seu objecto. Ora, podemos pecar mortalmente em relação aos objectos da sensualidade, assim, relativamente aos prazeres da carne. Logo, um acto da sensualidade pode ser pecado mortal, que portanto, pode existir na sensualidade.

2. Demais. ― O pecado mortal é contrário à virtude. Ora, esta pode existir na sensualidade, pois, a temperança e a fortaleza são virtudes das partes irracionais, como diz o Filósofo 1. Logo, na sensualidade pode haver pecado mortal, pois é natural dos contrários coexistirem no mesmo sujeito.

3. Demais. ― O pecado venial é uma disposição para o mortal. Ora, a disposição e o hábito coexistem no mesmo sujeito. Mas, existindo o pecado venial na sensualidade, como já se disse, nela também pode existir o mortal.

Mas, em contrário, diz Agostinho 2, e está na Glosa da Escritura, o movimento desordenado da concupiscência, i. é, o pecado da sensualidade, pode existir também nos que estão em graça 3, nos quais, entretanto, não existe pecado mortal. Logo, o movimento desordenado da sensualidade não é pecado mortal.

Assim como a desordem corruptora do princípio da vida corpórea causa a morte do corpo, assim a que corrompe o princípio da vida espiritual, que é o fim último, causa a morte espiritual do pecado mortal, como já dissemos (q. 72, a. 5). Ora, ordenar alguma coisa para o fim não pertence à sensualidade, mas só à razão. Por outro lado, o afastar-se do fim também só pertence a quem pode ordenar para ele. Logo, o pecado mortal não pode existir na sensualidade, mas, só na razão.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O acto da sensualidade pode concorrer para o pecado mortal, mas o acto deste não é mortal pelo que há nele de sensualidade, senão pelo que tem de racional, pois, à razão compete ordenar para o fim. Donde, o pecado mortal não se atribui à sensualidade mas à razão.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O acto virtuoso não o é completamente só pelo que há nele de sensualidade, mas antes, pelo que contém de razão e de virtude, à qual é próprio o escolher, pois, o acto da virtude moral não existe sem a eleição. Donde e sempre, esse acto, moralmente virtuoso, que aperfeiçoa a potência apetitiva, é acompanhado do acto da prudência, que aperfeiçoa a potência racional. E o mesmo se dá também com o pecado mortal, como já dissemos.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A disposição mantém tríplice relação com o sujeito disposto. Às vezes, ambos se identificam e coexistem no mesmo sujeito, assim, dizemos que a ciência incoada é a disposição para a ciência perfeita. Outras vezes, coexistem no mesmo sujeito, mas não se identificam, assim, o calor é a disposição para a forma ígnea. Outras vezes enfim nem se identificam, nem coexistem no mesmo sujeito, como se dá com coisas que se ordenam umas para as outras, de modo a ser um meio para se chegar à outra, assim, a bondade da imaginação é uma disposição para a ciência, existente no intelecto. Ora, deste modo, o pecado venial, existente na sensualidade, pode ser uma disposição para o pecado mortal, residente na razão.

Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. III Ethic. (lect. XIX).
2. I Retract. (cap. XXIII).
3. Rm 7, 14.






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