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22/02/2014

Tratado dos vícios e pecados 19


Questão 73: Da relação dos pecados entre si.

Art. 4 ― Se a gravidade dos pecados difere da dignidade das virtudes a que se opõem, de modo que à maior virtude se oponha maior pecado.

(IIa IIae, q. 20, a. 3; De Malo, q. 2, a. 10)

O quarto discute-se assim. ― Parece que a gravidade dos pecados não difere pela dignidade das virtudes a que se opõem, de modo que à maior virtude se oponha o maior pecado.

1. ― Pois, segundo a Escritura (Pr 15, 5), na justiça abundante há uma grandíssima força. Ora, como diz o Senhor (Mt 5, 20ss), a justiça abundante coíbe a ira, menor pecado que o homicídio, coibido por uma justiça menor. Logo, à maior virtude opõe-se o mínimo vício.

2. Demais. ― Aristóteles diz, que a virtude versa sobre o difícil e o bem 1, donde se conclui que a virtude maior versa sobre maior dificuldade. Ora, falharmos no mais difícil é menor pecado que falharmos no menos difícil. Logo, à maior virtude opõe-se o menor pecado.

3. Demais. ― A caridade é maior virtude que a fé e a esperança, como diz a Escritura (1 Cor 13, 13). Ora, o ódio, oposto à caridade, é menor pecado que a infidelidade ou o desespero, opostos à fé e à esperança. Logo, à maior virtude opõe-se o menor pecado.

Mas, em contrário, o Filósofo diz, que o péssimo é o contrário do óptimo 2. Ora, na ordem moral, o óptimo é a máxima virtude, e o péssimo, o mais grave pecado. Logo, este se opõe àquela.

Um pecado opõe-se a uma virtude de dois modos. ― Principal e directamente, e tal dá-se em relação ao mesmo objecto, pois os contrários têm-no idêntico. E assim, necessariamente à maior virtude opõe-se o pecado mais grave. Pois, no objecto funda-se tanto a maior gravidade do pecado, como a maior dignidade da virtude, porque um e outro se especificam pelo objecto, como do sobredito claramente resulta (q. 60, a. 5; q. 72, a. 1). Donde e necessariamente, a maior virtude é contrariada de modo directo pelo maior pecado, como o que dele dista no máximo grau, no mesmo género.

De outro modo, podemos considerar a oposição entre a virtude e o pecado, no atinente à extensão da virtude que o coíbe. Pois, quanto maior for a virtude, tanto mais nos afastará do pecado contrário, de maneira que o coibirá não só a ele, mas ainda, o que a ele induz. E assim, é manifesto que quanto maior for uma virtude, tanto menores serão os pecados por ela coibidos, do mesmo modo que, quanto melhor for a saúde, tanto menores moléstias excluirá. E portanto, à maior virtude se opõe o menor pecado, quanto ao efeito.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― A objecção colhe no referente à oposição fundada na coibição do pecado, pois, assim também a justiça abundante coíbe menores pecados.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― A maior virtude, versando sobre um bem mais difícil, é contrariada directamente por um pecado cujo objecto é mal mais difícil. Pois, de lado a lado, descobrimos uma certa eminência, por mostrar-se a vontade mais inclinada ao bem ou ao mal, não se deixando vencer pela dificuldade.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― A caridade não é um amor qualquer, mas o de Deus. Donde, qualquer ódio não se lhe opõe directamente, senão só o ódio de Deus, o gravíssimo dos pecados.

Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. II Ethic. (lect. III).
2. VIII Ethic. (lect. X).





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