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16/02/2014

Tratado dos vícios e pecados 13


Questão 72: Da distinção entre os pecados


Art. 7 ― Se o pecado se divide acertadamente em pecado por pensamentos, palavras e obras.




O sétimo discute-se assim. ― Parece que o pecado não se divide acertadamente em pecado por pensamentos, palavras e obras.

1. ― Pois, Agostinho 1 estabelece três graus de pecado. O primeiro, quando o sentido carnal é atraído por alguma sedução, e é o pecado de pensamento, o segundo, quando nos contentamos com o só deleite do pensamento, o terceiro, quando o consentimento estatui o que devemos fazer. Ora, estes três graus respeitam o pecado de pensamento. Logo, não é acertado considerá-lo como um género de pecado.

2. Demais. ― Gregório 2 distingue quatro graus do pecado. O primeiro é a culpa latente no coração, o segundo, a sua manifestação externa, o terceiro, quando é corroborada pelo costume, o quarto, quando chegamos até a presunção da divina misericórdia, ou ao desespero. Ora, nestes quatro graus não se distingue o pecado por obras do por palavras e acrescentam-se dois outros graus. Logo, a primeira divisão não é acertada.

3. Demais. ― Não pode haver pecado por palavras ou obras, antes de haver o de intenção. Logo, tais pecados não diferem especificamente, e portanto não se devem dividir uns por oposição aos outros.

Mas, em contrário, diz Jerónimo 3: São três os delitos gerais a que o género humano está sujeito, pois pecamos por pensamento, palavras ou obras.

Dois seres podem diferir especificamente de dois modos. Ou por constituírem ambos uma espécie completa, e assim o cavalo e o boi diferem especificamente. Ou porque, numa geração ou movimento, consideram-se espécies diversas, em graus diversos. Assim, a edificação é a produção completa da casa, ao passo que a colocação dos fundamentos e a erecção das paredes são espécies incompletas, como claramente se vê no Filósofo 4. E o mesmo se pode dizer da geração dos animais.

Assim, pois essa tríplice divisão dos pecados por pensamentos, palavras e obras, ― não constitui espécies completas diversas, porquanto, sendo a obra a consumação do pecado, o pecado por obra é o que encerra a espécie completa. Mas, a primeira incoação dele é-lhe como a base, no pensamento, o seu segundo grau é constituído pela palavra, enquanto prorrompemos facilmente na manifestação do conceito pensado, o terceiro grau, por fim, está na consumação da obra. Donde, esses três pecados diferem segundo graus diversos. É porém claro, que pertencem a uma mesma espécie perfeita de pecado, como procedentes do mesmo motivo. Assim, o iracundo, ardendo pela vindita, turba-se-lhe primeiro o pensamento, depois, prorrompe em palavras contumeliosas, e, em terceiro lugar, chega aos factos injuriosos. E o mesmo se dá com a luxúria e com qualquer outro pecado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Todo pecado de pensamento é por essência oculto. E por isto, considera-se um só grau, distinto, contudo, em três outros, a saber: o pensamento, o prazer e o consentimento.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Os pecados por palavra e por obra convêm na manifestação, e por isso Gregório os compreende no mesmo grau. Jerónimo porém os distingue, porque no pecado por palavras só a manifestação é a principalmente intencionada, ao passo que o pecado por obra, é principalmente o complemento do conceito interior da mente, sendo a manifestação uma consequência. Quanto ao costume e ao desespero, são graus consequentes à espécie perfeita do pecado, assim como a adolescência e a juventude, ao desenvolvimento perfeito do homem.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Os pecados por pensamento e por palavras não se distinguem do pecado por obras, quando coexistentes com este, mas entre si distinguem-se quando existentes isoladamente. Assim como uma parte do movimento não se distingue da sua totalidade, quando o movimento é contínuo, mas só quando se detém no meio.

Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. XII De Trinit., cap. XII.
2. IV Moral. (cap. XXVII).
3. Super Ezech. (XLIII, 23).
4. X Ethic. (lect. V).





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