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03/02/2014

Tratado dos dons do Espírito Santo 16


Questão 70: Dos frutos do Espírito Santo.


Art. 4 — Se os frutos do Espírito Santo contrariam as obras da carne, que o Apóstolo enumera.


(Ad. Galat., cap. V. Lect VI).

O quarto discute-se assim. — Parece que os frutos do Espírito Santo não contrariam as obras da carne, que o Apóstolo enumera.

1. — Pois, os contrários pertencem ao mesmo género. Ora, as obras da carne não se chamam frutos. Logo, os frutos do Espírito Santo não as contrariam.

2. Demais. — A unidade é contrária à unidade. Ora, o Apóstolo enumera mais obras da carne que frutos do Espírito Santo. Logo, os frutos do Espírito e as obras da carne não se contrariam.

3. Demais. — Entre os frutos do Espírito Santo enumera-se em primeiro lugar a caridade, a alegria e a paz, a que não correspondem as obras da carne enumeradas em primeiro lugar, a saber, a fornicação, a imundícia e a impudicícia. Logo, os frutos do Espírito Santo não contrariam as obras da carne.

Mas, em contrário, o Apóstolo diz no mesmo lugar (Gl 5, 17): a carne deseja contra o espírito e o espírito contra a carne.

As obras da carne e os frutos do Espírito Santo podem ser considerados em dois sentidos. — Primeiro, de um modo geral, e então os frutos do Espírito Santo são contrários às obras da carne. Pois, o Espírito Santo move o coração humano ao que é racional, ou antes, supra-racional, ao passo que o apetite da carne que é sensitivo, arrasta para os bens sensíveis, inferiores ao homem. Donde, assim como os movimentos para cima e para baixo são contrários, na ordem da natureza, assim, nas obras humanas, as obras da carne são contrárias aos frutos do Espírito.

De outro modo, podemos considerar os frutos enumerados e as obras da carne, em particular. E assim, não é necessário que cada um daqueles se contraponha a cada uma destas, pois, como já se disse 1, o Apóstolo não pretende enumerar todas as obras espirituais nem todas as carnais. — Contudo, fazendo uma certa adaptação, Agostinho contrapõe a cada obra, cada fruto. Assim, à fornicação, que é o amor pela satisfação da sensualidade fora do legítimo conúbio, opõe-se a caridade pela qual a alma se une com Deus, na qual também consiste a verdadeira castidade. As imundícias que são perturbações oriundas da fornicação, opõe-se a alegria da tranquilidade. A servidão dos ídolos, que faz guerra contra o Evangelho de Deus, opõe-se à paz. Aos venefícios, inimizades e contenções, animosidades, emulações e dissensões opõem-se: a longanimidade, para suportar os males dos homens entre os quais vivemos, a benignidade, para curá-los, a bondade, para perdoá-los. Às heresias opõe-se a fé, à inveja, a mansidão, à embriaguez e à intemperança no comer, a continência 2.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O procedente da árvore, contra a natureza da mesma, não se lhe considera fruto, mas corrupção. Ora, como as obras virtuosas são co-naturais, e as viciosas, contrárias à razão, as primeiras chamam-se frutos, e não as segundas.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O bem só existe de um modo, e o mal de muitos, como diz Dionísio 3. Por isso, a uma mesma virtude se opõem muitos vícios, não sendo pois, de admirar se se enumeram mais obras da carne do que frutos do Espírito Santo.

RESPOSTA À QUARTA. — Resulta clara do que foi dito.

Revisão da tradução portuguesa por ama

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Notas:
1. Q. 70, a. 3, ad 4.
2. Super. Epist. ad Galatas.
3. De divin. Nom. (lect. XXII).


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