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14/02/2014

Leitura espiritual para Fev 14

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. 
O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mc 11, 27-33; 12, 1-12

27 Voltaram a Jerusalém. E, andando Jesus pelo templo, aproximaram-se d'Ele os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos, 28 e disseram-Lhe: «Com que autoridade fazes Tu estas coisas? E quem Te deu o direito de as fazer?». 29 Jesus disse-lhes: «Eu também vos farei uma pergunta; respondei-Me e Eu vos direi com que autoridade faço estas coisas. 30 O baptismo de João era do céu ou dos homens? Respondei-Me». 31 Mas eles discorriam entre si: «Se respondermos que era do céu, Ele dirá: “Porque razão, então, não crestes nele?”. 32 Responderemos que é dos homens?...». Temiam o povo, porque todos tinham a João como um verdadeiro profeta. 33 Então responderam a Jesus: «Não sabemos». E Jesus disse-lhes: «Pois nem Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas».
12 1 E começou a falar-lhes por parábolas: «Um homem plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar, edificou uma torre e arrendou-a a uns vinhateiros, e ausentou-se daquele país. 2 Chegado o tempo, enviou aos vinhateiros um servo para receber deles a sua parte dos frutos da vinha. 3 Mas eles, apanhando-o, bateram-lhe, e mandaram-no embora de mãos vazias. 4 Enviou-lhes de novo outro servo, e também a este o feriram na cabeça, e o carregaram de injúrias. 5 Enviou de novo outro, e mataram-no. Assim fizeram a muitos outros, dos quais bateram nuns e mataram outros. 6 «Tendo ainda um filho muito amado, também o enviou por último, dizendo: “Respeitarão o meu filho”. 7 Porém, aqueles vinhateiros disseram uns para os outros: “Este é o herdeiro, vinde, matêmo-lo e será nossa a herança”. 8 Pegaram nele, mataram-no, e lançaram-no fora da vinha. 9 «Que fará, pois, o senhor da vinha? Virá, exterminará os vinhateiros e dará a vinha a outros. 10 Vós nunca lestes este passo da Escritura: “A pedra que fora rejeitada pelos que edificavam, tornou-se pedra angular. 11 Pelo Senhor foi feito isto, e é coisa maravilhosa aos nossos olhos”». 12 Procuravam apoderar-se d'Ele, mas temeram o povo. Tinham compreendido bem que dissera esta parábola contra eles. E, deixando-O, retiraram-se.



JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR

Iniciação à Cristologia


    O concílio III de Constantinopla (ano 681).

Quando mudou a situação politico-religiosa do império convocou-se um concílio ecuménico. Este concílio, sexto ecuménico y III de Constantinopla, condenou o monotelismo e o monoergismo, e definiu solenemente que se «dão n’Ele (Cristo) duas vontades naturais e duas operações naturais, sem divisão, sem mudança, sem separação, sem confusão»[1]

    Em Constantinopla ficou claro que não é suficiente a confissão da integridade da natureza humana de Cristo se se a considerar só como elemento passivo e inerte nas mãos do Verbo, como uma simples fachada humana do Filho de Deus.

    Este concílio também ensinou que essas duas vontades e operações de Cristo não se contrapõem, mas que se dão unidas: o humano está sujeito e segue o divino.

2. A vontade humana de Cristo

a) A existência de uma vontade humana de Cristo

    O Verbo assumiu uma natureza humana perfeita; e a vontade livre pertence, e de modo essencial, á integridade e perfeição da natureza. Portanto, Jesus tem uma vontade racional humana, a faculdade que inclina para o bem conhecida por inteligência.

Certamente que a pessoa é «quem» quer e actua, mas fá-lo segundo a forma e poder da sua natureza.
Portanto, Jesus Cristo é quem quer segundo cada uma das suas naturezas: tem um querer divino comum com o pai e o Espírito Santo, próprio da natureza divina; e tem outro querer humano, próprio da sua assumida natureza humana, que não partilha com o Pai ou o Espírito Santo.

    Os monoteletistas pensavam que a humanidade de Cristo era um instrumento do Verbo que era unicamente movido pela divindade e não se determinava por si mesmo.
E enganavam-se, porque a humanidade de Jesus Cristo é um instrumento racional e livre, não inerte ou inanimado, que se move segundo o sue próprio modo de ser: move-se pela sua própria vontade humana a seguir o querer divino[2]
b) A liberdade humana de Cristo

    A liberdade humana de Cristo aparece explicitamente assinalada em alguns textos do Novo Testamento.
Por exemplo, quando diz: «Dou a minha vida para tomá-la de novo. Ninguém ma tira, mas sou eu que a dou livremente. Tenho poder para a dar e tenho poder para a recuperar» (Jo 10,17-18; cf. Mc 3,13).

A existência de uma liberdade humana também é assinalada implicitamente quando se afirma que Jesus obedeceu a seu pai, ou que se ofereceu por nós em sacrifício (cf. Ef 5,2), ou que mereceu por mós (cf. Flp 2,5-11); e sem liberdade não é possível obedecer nem merecer.

    O Magistério da Igreja também ensinou expressamente a voluntariedade e a liberdade com que Cristo se entregou por nós[3].

    Ora bem, que Cristo fosse livre não significa que pudesse pecar, pois a liberdade não consiste em poder eleger o bem ou o mal.
Assim como o erro não aperfeiçoa a inteligência nem é conforme a ela, eleger o mal ou pecar não aperfeiçoa a vontade nem é conforme a ela, ainda que mostre que o homem é livre. A liberdade consiste no modo que a vontade tem de querer o bem: em querer o bem por si mesma e não arrastada por nenhum outro factor interno ou externo.

Como diz São Tomás: «Livre é o que é causa de si mesmo»[4].

c) A sua livre obediência à vontade do Pai. Em Jesus Cristo não houve oposição entre a vontade humana e a divina

    O III concílio de Constantinopla confessa que a vontade humana de Cristo sempre «segue a sua vontade divina sem lhe fazer resistência ou oposição, mas sim, pelo contrário, está sempre subordinada a esta vontade omnipotente»[5].

Efectivamente, a Sagrada Escritura assinala que a vontade humana de Jesus não é outra que cumprir o querer divino: «Baixei do céu não para fazer a minha vontade mas sim a vontade d’Aquele que me enviou» (Jo 6,38).
Já desde o momento de entrar neste mundo diz: «Eis-me aqui que venho (…) para fazer, oh Deus!, a tua vontade» (Heb 10,7).
Viveu sempre da vontade do Pai (cf. Jo 4,34; 5,30), e foi obediente até à morte, e morte de cruz (cf. Flp 2,8). Precisamente por esta obediência livre de Jesus todos somos justificados (cf. Rom 5,19).

    Ainda que o III concílio de Constantinopla afirme que em Jesus Cristo não houve oposição entre a vontade humana e a divina, à primeira vista parece que houve, pelo menos no episódio da oração no horto de Getsemani, quando Jesus diz: «Não se cumpra a minha vontade, mas a tua» (Mt 26,39).

    Para entender esta passagem, é necessário explicar que a sua inclinação natural ou que a sua sensibilidade (a que às vezes também chamamos «vontade»[6]) podiam apetecer algum bem diferente do querer divino, mas estavam inteiramente submetidas a ele pelo acto livre da vontade racional (que é a faculdade que chamamos propriamente «vontade humana»).
Isto é manifesto quando se diz que não se faça «a minha vontade» (a vontade como inclinação natural e sensível), «mas faça-se» este é o acto da vontade como eleição livre e racional). «a tua» (a vontade divina) (cf. Mt 26,39).

    Assim pois, «Cristo possui duas vontades (…) não opostas, mas cooperantes, de forma que o Verbo feito carne, na sua obediência ao Pai, tenha querido humanamente tudo o decidiu divinamente com o Pai e o Espírito Santo para nossa salvação»[7].

3. As acções humanas de Jesus Cristo

a) A existência de uma operação humana em Cristo

    Já dissemos que o monoergismo propugnava uma só operação em Cristo, que chamava teándrica (divino-humana); de modo que a sua humanidade seria um instrumento passivo sem uma acção própria, como uma marioneta da divindade.
E foi condenado no III concílio de Constantinopla que confessou «duas operações naturais sem divisão, sem comutação, sem separação, sem confusão, no mesmo nosso Senhor Jesus Cristo, nosso verdadeiro Deus, isto é, uma operação divina e outra operação humana»[8].

    Já o tinha dito São Leão Magno a propósito do monofisismo:

«Uma e outra natureza operam, com comunicação da outra, o que é próprio dela: quer dizer, que o Verbo obra o que pertence ao Verbo e carne executa o que toca à carne»[9].

    A razão é que ainda que as acções sejam das pessoas, são-no segundo o princípio dessas operações. «E a natureza é o princípio da operação. Por isso em Cristo não há uma só operação por ser um único sujeito, mas duas operações porque são duas as naturezas.

Enquanto na Santíssima Trindade, pelo contrário, não há mais que uma só operação (e não três) por causa da unidade da natureza»[10].

    A natureza humana de Cristo tem a sua própria forma e virtude pelas quais actua do modo que lhe é próprio: sente, conhece, quer livremente, etc. Daí que a natureza humana tenha a sua própria operação diferente da operação divina.

b) O poder próprio, natural e sobrenatural, das acções de Cristo homem

    Qual é o poder e alcance das acções próprias de Cristo homem? Digamos em primeiro lugar que a sua natureza humana, como a de todo o homem, tem poder para realizar todas as acções humanas naturais: para conhecer, querer, falar, caminhar, etc.
    Mas também, como todo o homem em estado de graça, tem o poder para realizar obras sobrenaturais: trata-se de um poder participado pelo Espírito Santo, mas outorgado ao homem para que este possa realizar por si mesmo obras sobrenaturais; p. ex. amar a Deus e ao próximo, orar, obedecer ou merecer. Jesus, como homem cheio de graça e de verdade, tinha a capacidade sobrenatural de revelar o Pai e ensinar-nos as palavras de Deus, assim como de merecer por todos os homens e satisfazer por todo o género humano.
    Tão importante é esta capacidade sobrenatural, que sem ela não poderíamos afirmar a realidade da obra redentora que Jesus levou a cabo por meio dessas acções.
    É de notar que todas estas acções naturais e sobrenaturais na humanidade assumida na unidade de pessoa pelo Filho de Deus são «próprias» da segunda pessoa da Trindade: não são acções comuns com o Pai e o Espírito Santo.

c) O mérito das acções humanas próprias de Cristo

    A condescendência divina é tal que nos prometeu dar os bens divinos em modo de uma retribuição pelas boas acções que realizemos em estado de graça e seguindo as inspirações do Espírito Santo, pois torna-se mais digno para o homem ter esses bens por si mesmo, como devidos a alguém, que recebê-los por pura dádiva.

    Como as acções humanas de Cristo eram livres e nasciam do imenso amor ao Pai que o Espírito Santo tinha infundido na sua alma, todas elas eram meritórias, quer dizer, eram dignas de alcançar o fim ao qual as tinha ordenado o desígnio divino.

    Assim pois, Cristo, antes da sua Ressurreição, mereceu para si mesmo aqueles bens que ainda não possuía, como eram a perfeita glorificação e exaltação da sua humanidade. Isto é o que a Escritura manifesta quando diz: «humilhou-se a si mesmo fazendo-se obediente até à morte, e morte de cruz. E por isso Deus o exaltou» (Flp 2,9).

    E Cristo também mereceu para nós a salvação. Ainda que, em princípio, o mérito – o título para o prémio – olha só à retribuição da pessoa que realizou determinada obra, todavia, a fé ensina-nos que Cristo mereceu a graça para todos os homens, pois a este fim estava ordenada a Encarnação do Verbo.
Mais adiante, ao estudar a Paixão de Cristo, veremos melhor este ponto.

d) As acções humanas de Cristo enquanto são instrumento da divindade

    A humanidade de Cristo, além do poder próprio que possui pela natureza ou pela graça, tem a capacidade, como toda a criatura, de que Deus se sirva dela como instrumento para levar a cabo obras acima do poder da sua natureza.
    Assim na ordem física a divindade serviu-se de alguns gestos e palavras humanas de Jesus para produzir milagres, que são acções admiráveis que superam a capacidade da natureza humana e facilitam a fé dos testemunhos, tais como dar a vista aos cegos, curar leprosos e paralíticos, ou ressuscitar mortos.

    A teologia conservou o nome de teándricas, mas num claro sentido diferente do monoergismo, para estas acções humanas de Cristo enquanto servem de instrumento à divindade para realizar obras próprias da omnipotência divina. Mas neste caso trata-se de duas operações naturais coordenadas para produzir esse efeito, não se trata de uma só operação confusa, mistura de ambas[11]. Por exemplo, na cura milagrosa de um cego há uma acção própria da natureza divina (dar-lhe a vista) que se serve da acção própria da natureza humana de Jesus (das suas palavras e do gesto de lhe ungir os olhos).

    E igualmente na ordem espiritual, mais importante, a divindade serviu-se do seu querer humano e das suas palavras para perdoar os pecados (cf. Mt 9,6). Ainda assim a escritura diz-nos que a sua humanidade participa do poder de comunicar aos homens a vida eterna (cf. Jo 17,2), que é uma acção própria de Deus. E igualmente as acções de Cristo são instrumento da divindade para comunicar a graça a todos os homens.

    Em todas estas acções a causa eficiente principal é a natureza e o poder divino do Verbo, que tem em comum com o Pai e o Espírito Santo; e a humanidade de Cristo é a causa instrumental.

Portanto, estas acções não são próprias e exclusivas do Verbo, pois nelas também intervêm as outras pessoas divinas; p. ex. as três pessoas divinas comunicam a salvação aos homens tornando-os partícipes da obra redentora de Cristo mediante os sacramentos.

(continua)




[1] CONC. III DE CONSTANTINOPLA, DS 556.
[2] Cf. S. Th. III, 18,1, ad 2; III, 20,1.
[3] Cf. DS, 423, 502.
[4] SÃO TOMÁS DE AQUINO, De Veritate, q. 24, a. 1; cf. S. Th. III,18,4.
[5] CONC. III DE CONSTANTINOPLA, DS, 556.
[6] V. g.: Dizemos de alguém que «fez a sua vontade», referimo-nos a que fez o que lhe apetecia naturalmente ou guiando-se simplesmente pela sua inclinação sensível.
[7] CCE, 475; cf. CONC. III DE CONSTANTINOPLA, DS, 556-559.
[8] CONC. III DE CONSTANTINOPLA, DS, 557.
[9] S. LEÃO MAGNO, DS, 294.
[10] S. TOMÁS DE AQUINO, Compendium theologiae, cap. 212, n. 419; cf. S.Th. III,19,2, ad 3-4.
[11] Cf. CONC. LATERANENSE, ano 649, DS, 515.

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