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13/01/2014

Tratado das virtudes em geral 67


Questão 67: Da duração das virtudes depois desta vida.
Art. 4 — Se a esperança perdura, depois da morte, no estado da glória.

(IIª. lIae, q. 18, a. 2 , II Sent., dist. XXVI, q. 2, a. 5, qª 2 , dist. XXXI, q. 2, a. 1, qª 2, De Virtut., q.4. a. 4).

O quarto discute-se assim. — Parece que a esperança perdura depois da morte, no estado da glória.

1. — Pois, a esperança aperfeiçoa, de modo mais nobre, o apetite humano, do que as virtudes morais. Ora, estas permanecem depois desta vida, como está claro em Agostinho 1. Logo, com maior razão a esperança.

2. Demais. — O temor opõe-se à esperança. Ora, ele perdura depois desta vida: nos bem-aventurados, o temor filial, que permanece sempre, nos condenados, o das penas. Logo, pela mesma razão, pode permanecer a esperança.

3. Demais. — Como a esperança, também o desejo tem por objecto o bem futuro. Ora, os bem-aventurados têm tal desejo, tanto em relação à glória do corpo, que as almas deles desejam, conforme diz Agostinho 2, como em relação à da alma, segundo a Escritura (Ecle 24, 29): Aqueles que me comem terão ainda fome, e os que, me bebem terão ainda sede, e ainda (1 Pd 1, 12): ao qual os mesmos anjos desejam ver. Logo, a esperança pode existir, nos bem-aventurados, depois desta vida.

Mas, em contrário, o Apóstolo diz (Rm 8, 24): o que qualquer vê, como o espera? Ora, os bem-aventurados vêm o objecto da esperança, que é Deus. Logo, não esperam.

Como já dissemos 3, o que por essência implica à imperfeição do sujeito não pode coexistir num sujeito perfeito pela perfeição oposta. Isso vê-se claramente no movimento que, implicando por essência a imperfeição do sujeito, pois, é o acto do existente em potência, como tal 4, cessa quando a potência se actualiza, assim, o que já se tornou branco não pode ainda embranquecer. Ora, a esperança implica um certo movimento para o que ainda não possuímos, como ficou claro pelo que acima dissemos da paixão da esperança 5. Portanto, quando possuirmos o que esperamos, i. é, a fruição devida, já não poderá existir a esperança.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A esperança é mais nobre do que as virtudes morais, por ser Deus o seu objecto. Ora, o acto dessas virtudes não repugna, como o acto da esperança, à perfeição da felicidade, senão talvez quanto à matéria, quanto à qual não perduram. Pois as virtudes morais não aperfeiçoam o apetite só no atinente ao objecto ainda não possuído, mas também no actualmente já possuído.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Há um duplo temor: o servil e o filial, como a seguir se dirá 6. Aquele é o da pena, e não poderá existir na glória, onde não existe nenhuma possibilidade de pena. Este comporta dois actos: temer a Deus, e neste ponto permanece, e temer a separação dele, e neste não permanece, pois separar-se de Deus implica o mal, e, no caso presente, não se pode temer nenhum mal, conforme a Escritura (Pr 1, 33): Gozaremos da abundância, sem receio de mal algum. Ora, o temor opõe-se à esperança, por oposição do bem e do mal, como já dissemos 7. E portanto, o temor que perdura na glória, não se opõe à esperança. Nos condenados porém pode haver o temor da pena mais do que, nos bem-aventurados, a esperança da glória, porque neles haverá sucessão de penas, o que implica a ideia de futuro, objecto do temor. Ao passo que na glória dos santos não há sucessão, pois é uma como participação da eternidade, sem pretérito nem futuro, mas só presente. E contudo também nos condenados não haverá temor, propriamente falando. Pois, como já dissemos8, o temor nunca existe sem alguma esperança de libertação, a qual nos danados, absolutamente não existirá, portanto, também neles não haverá temor, senão comumente falando, no sentido em que se chama temor a qualquer expectativa de mal futuro.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Quanto à glória da alma, os bem-aventurados não podem ter desejo, no concernente ao futuro, pela razão já exposta. Dizemos que eles têm fome e sede, para afastar a ideia de tédio. E pela mesma razão dizemos que os anjos têm desejo. No concernente porém à glória do corpo, pode por certo haver desejo nas almas dos santos, não porém, esperança, propriamente falando. Mas não, enquanto a esperança é uma virtude teologal, pois então o seu objecto é Deus e não, qualquer bem criado. Nem tomada em sentido comum, porque, nesse caso o seu objecto é o que é árduo, como já dissemos 9. Ora, o bem, cuja causa certa já possuímos, não tem para nós nada de árduo, por isso, propriamente falando, não dizemos que quem tem dinheiro espera poder possuir uma certa coisa, pois pode possuí-la imediatamente, comprando-a. E semelhantemente, os que já têm a glória da alma não podem, propriamente falando, esperar a glória do corpo, mas só desejá-la.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. XIV De Trinit. (cap. IX).
2. XII Super Genes. ad litt. (cap. XXXV).
3. Q. 67, a. 3.
4. III Physic. (lect. II).
5. Q. 40, a. 1, 2.
6. IIa IIae, q. 19, a. 2.
7. Q. 23, a. 2, q. 40, a. 1.
8. Q. 42, a. 2.
9. Q. 40, a. 1.


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