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01/01/2013

Evangelho do dia e comentário





TEMPO DE NATAL




Oitava do Natal


Santa Maria, Mãe de Deus

Evangelho: Lc 2, 16-21

16 Foram a toda a pressa, e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. 17 Vendo isto, conheceram o que lhes tinha sido dito acerca deste Menino. 18 E todos os que ouviram, se admiraram das coisas que os pastores lhes diziam.19 Maria conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração. 20 Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, conforme lhes tinha sido dito. 21 Depois que se completaram os oito dias para ser circuncidado o Menino, deram-Lhe o nome de Jesus, como Lhe tinha chamado o anjo, antes que fosse concebido no ventre materno.

Comentário:

Que significa proclamar Maria “Mãe de Deus”? Significa reconhecer que Jesus, o fruto do seu seio, é o Filho de Deus, consubstancial ao Pai, que o gerou na eternidade (Credo). Um grande mistério, um mistério de amor! Ele, o Filho único do Pai (Jo 1,14), fez-se um entre nós. Desta forma, “a eternidade entrou no tempo” e a sucessão dos anos, dos séculos, dos milénios, não é uma viagem cega para o desconhecido, mas um caminho para Ele, plenitude do tempo (Ga 4,4) e ponto de chegada da história.
Honrando a Santíssima Virgem como Mãe de Deus, queremos igualmente sublinhar que Jesus, o Verbo eterno feito carne, é o verdadeiro "filho de Maria”. Ela transmitiu-lhe a plena humanidade, foi sua mãe e sua educadora, comunicando-lhe a doçura, a força delicada do seu temperamento e as riquezas da sua sensibilidade. Maravilhosa troca de dons: Maria que, enquanto criatura, é primeiro que tudo uma discípula de Cristo e ao mesmo tempo resgatada por Ele, foi escolhida como sua mãe para modelar a sua humanidade. Na relação entre Maria e Jesus realiza-se assim de maneira exemplar e sentido profundo do Natal: Deus fez-se semelhante a nós, para que nos tornemos, de certa forma, como Ele.

(João Paulo II)

Não deixes de rezar, eu escuto-te


Os santos, anormais?... Chegou a hora de acabar com esse preconceito! Havemos de ensinar, com a naturalidade sobrenatural da ascética cristã, que nem sequer os fenómenos místicos são anormais; têm a naturalidade própria desses fenómenos, tal como outros processos psíquicos ou fisiológicos têm a sua. (Sulco, 559)

Eu falo da vida interior de cristãos normais e correntes, que habitualmente se encontram em plena rua, ao ar livre; e que na rua, no trabalho, na família e nos momentos de diversão estão unidos a Jesus todo o dia. E o que é isto senão vida de oração contínua? Não é verdade que compreendeste a necessidade de ser alma de oração, numa intimidade com Deus que te leva a endeusar-te? (...)

A princípio custará. É preciso esforçarmo-nos por nos dirigir ao Senhor, por lhe agradecermos a sua piedade paternal e concreta para connosco. A pouco e pouco o amor de Deus torna-se palpável – embora isto não seja coisa de sentimentos – como uma estocada na alma. É Cristo que nos persegue amorosamente: Eis que estou à porta e chamo. Como anda a tua vida de oração? Não sentes às vezes, durante o dia, desejos de falar mais devagar com Ele? Não Lhe dizes: logo vou contar-te isto e aquilo; logo vou conversar sobre isso contigo?

Nos momentos dedicados expressamente a esse colóquio com o Senhor o coração expande-se, a vontade fortalece-se, a inteligência – ajudada pela graça – enche a realidade humana com a realidade sobrenatural. E, como fruto, sairão sempre propósitos claros, práticos, de melhorares a tua conduta, de tratares delicadamente, com caridade, todos os homens, de te empenhares a fundo – com o empenho dos bons desportistas – nesta luta cristã de amor e de paz.

A oração torna-se contínua como o bater do coração, como as pulsações. Sem essa presença de Deus não há vida contemplativa. E sem vida contemplativa de pouco vale trabalhar por Cristo, porque em vão se esforçam os que constroem se Deus não sustenta a casa. (Cristo que passa, 8)

Carta do Prelado do Opus Dei por ocasião do Ano da Fé. 12


É questão de fé

12. Vejo nestas palavras outra consideração, que queria propor-vos, perante a necessidade de nos empenharmos sem tréguas na tarefa da nova evangelização da sociedade. Primeiro que tudo, necessitamos de fé e esperança firmemente assumidas; quer dizer, caminhar em cada momento intimamente convencidos, com uma convicção que vem da intimidade com a Trindade, de que é possível mudar o rumo deste nosso mundo, dirigir todas as aCtividades humanas para a glória do Senhor e para a conversão das almas. Certamente não faltarão a luta, os sofrimentos, mas avançaremos in lætítia, com alegria e confiança, porque nos assiste a promessa divina: Pede-me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu possuirás os confins do mundo(Sl 2, 8).

Impressiona, volto a repetir, contemplar como os Apóstolos, sem outros meios que a fé em Cristo e animados por uma esperança segura e alegre, se dispersaram pela terra então conhecida e difundiram a doutrina cristã por toda a parte. S. Josemaria gostava de celebrar as suas festas e as daquelas santas mulheres que acompanharam Jesus durante a sua passagem pela terra! As figuras dos Apóstolos, de Maria Madalena, Lázaro, Marta e Maria, irmãs de Lázaro, entusiasmavam-no. De cada um, de cada uma, podemos aprender a crer mais, plenamente, em Jesus Cristo e a amá-Lo com a intensidade com que O amaram os que com Ele conviveram. Como nós, também eles se veriam com misérias e, apesar do escasso número em comparação com a população das nações conhecidas, espalharam a semente divina com o seu exemplo quotidiano e com a sua palavra reconfortante.

Lembro-me a força com que o nosso Padre, ao falar do apostolado num ambiente difícil, assegurava: «é questão de fé!» Sim, é questão de fé! Essa fé que, como assinala o Senhor no Evangelho, tem a capacidade de mover montanhas do seu lugar (cfr. Mt 17, 20) e de superar qualquer obstáculo; que é como os rios, que abrem caminho para o mar desde os cumes elevados (cfr. Sl 103/104, 10). Por isso pergunto­vos e pergunto-me: com que fé nos movemos à hora do apostolado, sabendo que é sempre hora? Estamos verdadeiramente convencidos de que, como escreve S. João, esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé(1 Jo 5, 4)? Actuamos em consequência? Enfrentamos os obstáculos que surgirem com espírito otimista, com moral de vitória? E, para isso, apoiamos cada actividade apostólica concreta com a oração e com o sacrifício? Damos testemunho da nossa fé, sem nos deixarmos atemorizar pelas dificuldades do ambiente?

Repitamos mais frequentemente ao Senhor: Creio! Vem em socorro da minha falta de fé! (Mc 9, 24). Esta petição do pai daquele filho lunático comovia muito profundamente S. Josemaria. Não nos conformemos com os nossos modos de implorar as virtudes teologais ao Senhor. S. Josemaria, consciente de que a fé é um dom sobrenatural que só Deus pode infundir e intensificar na alma, manifestava numa ocasião: «Todos os dias Lho repito, não uma vez, mas muitas (...). Dir-Lhe-ei algo que Lhe pediam os Apóstolos (...): adáuge nobis fidem! (Lc 17, 5), aumenta-nos a fé. E acrescento: spem, caritátem; aumenta-nos a fé, a esperança e a caridade» [20].

Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei
Nota: Publicação devidamente autorizada

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Notas:

[20] S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 7-IV-1974.

Tratado da bem-aventurança 28


Questão 4: Do necessário à bem-aventurança.



Art. 4 — Se a rectidão da vontade é necessária para a bem-aventurança.

(Infra, q. 5, a. 7, IV Cont. Gent., cap. XCII, Compend. Theol., cap. CLXVI).

O quarto discute-se assim. — Parece que a bem-aventurança não implica a rectidão da vontade.


1. — Pois, como já se disse (1), a bem-aventurança consiste na actividade do intelecto. Ora, para a perfeita operação deste não é necessária a rectidão da vontade, que torna os homens puros. Pois, diz Agostinho: Não aprovo o que disse na oração — Deus, que quiseste que só os puros conhecessem a verdade — porque se pode responder que muitos, embora não puros, conhecem muitas verdades (2). Logo, a bem-aventurança não implica a rectidão da vontade.

2. Demais. — O anterior não depende do posterior. Ora, a operação do intelecto é anterior à da vontade. Logo, a bem-aventurança, operação perfeita do intelecto, não depende da rectidão da vontade.

3. Demais. — O que se ordena a um fim já não é necessário, alcançando o fim, assim a nau, depois que se chegou ao porto. Ora, a rectidão da vontade, causada pela virtude, se ordena como para o fim, à bem-aventurança. Logo, alcançada esta, aquela já não é necessária.

Mas, em contrário, diz a Escritura (Mt 5, 8): Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus, e (Heb 12, 14): Segui a paz com todos, e a santidade, sem a qual ninguém verá o Deus.

A rectidão da vontade é necessária para a bem-aventurança, tanto antecedente como concomitante. — Antecedentemente, por que tal rectidão supõe a ordem devida em relação ao último fim. Ora, o fim está para o que se lhe ordena como a forma, para a matéria. Donde, como esta não pode conseguir aquela, se para ela não estiver disposta de certo modo, assim nada consegue o fim sem estar para ele ordenado de certo modo. E portanto ninguém pode chegar à bem-aventurança sem a rectidão da vontade. — E concomitantemente, porque, como já se disse (3), a bem-aventurança última consiste na visão da essência divina, que é a própria essência da bondade. Assim, à vontade de quem vê a essência de Deus tudo ama, por força, subordinadamente a Deus, como também à vontade de quem não lhe vê a essência tudo ama, necessariamente, sob a noção comum, de bem. Ora, é isto mesmo o que constitui a vontade reta. Donde, é manifesto que a bem-aventurança não pode existir sem tal vontade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Agostinho se refere ao conhecimento da verdade, que não é a própria essência da bondade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Todo acto da vontade é precedido por algum acto do intelecto. Há porém actos da vontade anteriores a actos do intelecto, pois, a vontade tende para o acto final do intelecto, que é a bem-aventurança. E portanto, a recta inclinação da vontade é pre-exigida para a bem-aventurança, assim como o movimento reto da seta à percussão do alvo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Nem tudo o que é ordenado a um fim cessa, alcançado o fim, mas somente aquilo que se inclui em a noção de imperfeição e de movimento. Donde, os meios conducentes ao movimento não são necessários, uma vez que se chegou ao fim. Mas a ordem devida, em relação ao fim, é necessária.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:

1. Q. 3 a. 4.
2. Retract.
3. Q. 3 a. 8.