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01/01/2013

Tratado da bem-aventurança 28


Questão 4: Do necessário à bem-aventurança.



Art. 4 — Se a rectidão da vontade é necessária para a bem-aventurança.

(Infra, q. 5, a. 7, IV Cont. Gent., cap. XCII, Compend. Theol., cap. CLXVI).

O quarto discute-se assim. — Parece que a bem-aventurança não implica a rectidão da vontade.


1. — Pois, como já se disse (1), a bem-aventurança consiste na actividade do intelecto. Ora, para a perfeita operação deste não é necessária a rectidão da vontade, que torna os homens puros. Pois, diz Agostinho: Não aprovo o que disse na oração — Deus, que quiseste que só os puros conhecessem a verdade — porque se pode responder que muitos, embora não puros, conhecem muitas verdades (2). Logo, a bem-aventurança não implica a rectidão da vontade.

2. Demais. — O anterior não depende do posterior. Ora, a operação do intelecto é anterior à da vontade. Logo, a bem-aventurança, operação perfeita do intelecto, não depende da rectidão da vontade.

3. Demais. — O que se ordena a um fim já não é necessário, alcançando o fim, assim a nau, depois que se chegou ao porto. Ora, a rectidão da vontade, causada pela virtude, se ordena como para o fim, à bem-aventurança. Logo, alcançada esta, aquela já não é necessária.

Mas, em contrário, diz a Escritura (Mt 5, 8): Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus, e (Heb 12, 14): Segui a paz com todos, e a santidade, sem a qual ninguém verá o Deus.

A rectidão da vontade é necessária para a bem-aventurança, tanto antecedente como concomitante. — Antecedentemente, por que tal rectidão supõe a ordem devida em relação ao último fim. Ora, o fim está para o que se lhe ordena como a forma, para a matéria. Donde, como esta não pode conseguir aquela, se para ela não estiver disposta de certo modo, assim nada consegue o fim sem estar para ele ordenado de certo modo. E portanto ninguém pode chegar à bem-aventurança sem a rectidão da vontade. — E concomitantemente, porque, como já se disse (3), a bem-aventurança última consiste na visão da essência divina, que é a própria essência da bondade. Assim, à vontade de quem vê a essência de Deus tudo ama, por força, subordinadamente a Deus, como também à vontade de quem não lhe vê a essência tudo ama, necessariamente, sob a noção comum, de bem. Ora, é isto mesmo o que constitui a vontade reta. Donde, é manifesto que a bem-aventurança não pode existir sem tal vontade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Agostinho se refere ao conhecimento da verdade, que não é a própria essência da bondade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Todo acto da vontade é precedido por algum acto do intelecto. Há porém actos da vontade anteriores a actos do intelecto, pois, a vontade tende para o acto final do intelecto, que é a bem-aventurança. E portanto, a recta inclinação da vontade é pre-exigida para a bem-aventurança, assim como o movimento reto da seta à percussão do alvo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Nem tudo o que é ordenado a um fim cessa, alcançado o fim, mas somente aquilo que se inclui em a noção de imperfeição e de movimento. Donde, os meios conducentes ao movimento não são necessários, uma vez que se chegou ao fim. Mas a ordem devida, em relação ao fim, é necessária.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:

1. Q. 3 a. 4.
2. Retract.
3. Q. 3 a. 8.

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