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31/12/2013

Tratado das virtudes em geral 31


Questão 61: Da distinção entre as virtudes cardeais.
Art. 1 — Se as virtudes morais devem chamar-se cardeais ou principais.

(Infra, q. 66, a. 4, III Sent., dist. XXXIII, q. 2, a. 1, qa 2, De Virtut., q. 1, a. 12, ad 24, q. 5, a. 1)

O primeiro discute-se assim. — Parece que as virtudes morais não devem chamar-se cardeais ou principais.

1. — Pois, coisas que se dividem por oposição existem simultaneamente por natureza, como diz Aristóteles 1, e, portanto, uma não é a principal em relação às outras. Ora, todas as virtudes se dividem, genericamente, por oposição. Logo, nenhumas devem ser as principais entre elas.

2. Demais. — O fim é mais principal que os meios. Ora, as virtudes teologais versam sobre o fim e as morais sobre os meios. Logo, não são estas que se devem chamar principais ou cardeais mas, aquelas.

3. Demais. — O que é por essência é mais principal do que o que é por participação. Ora, as virtudes intelectuais pertencem por essência à parte racional, e as morais, só por participação, como já se disse 2. Logo, as principais não são as virtudes morais, mas as intelectuais.

Mas, em contrário, Ambrósio expondo o lugar — bem-aventurados os pobres de espírito — diz: Sabemos que são quatro as virtudes cardeais, a saber: a temperança, a justiça, a prudência, a fortaleza 3. Ora, estas são virtudes morais. Logo, as virtudes morais são cardeais.

Quando falamos simplesmente das virtudes, entendemos falar da virtude humana. Ora esta, como já dissemos 4, implica a noção perfeita de virtude, que exige a rectidão do apetite, pois, ela não somente dá a faculdade de bem agir, mas também causa o bom uso da obra. Chama-se porém virtude, na acepção imperfeita da palavra, a que não exige a rectidão do apetite, porque só dá a faculdade de bem agir, sem causar o bom uso da obra. Ora, é certo que o perfeito tem primazia sobre o imperfeito. E portanto, as virtudes que implicam a rectidão do apetite, consideram-se principais. Ora, tais são as virtudes morais, e entre as intelectuais, só a prudência, que contudo de certo modo é moral pela sua matéria, como do sobredito resulta 5. E portanto, entre as virtudes morais, colocam-se as chamadas principais ou cardeais.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Quando o género unívoco se divide nas suas espécies, as partes da divisão incluem igualmente a essência genérica, embora pela natureza das causas seja uma espécie a principal e mais perfeita que outra, assim, o homem em relação aos brutos. Mas, quando a divisão é de um análogo, logo, que se predica de muitos por prioridade e posterioridade, nada impede que uma parte da divisão seja a principal, mesmo quanto à noção comum, assim, a substância, relativamente ao acidente, é ser de maneira principal. E tal é a divisão das virtudes em diferentes géneros, porque o bem da razão não se encontra em todos os casos segundo a mesma ordem.

RESPOSTA À SEGUNDA. — As virtudes teologais são superiores ao homem, como já dissemos 6. E por isso não se chamam propriamente humanas, mas sobre-humanas ou divinas.

RESPOSTA À TERCEIRA. — As virtudes intelectuais diferentes da prudência, embora sejam principais, em relação às virtudes morais, quanto ao sujeito, não o são contudo quanto à noção de virtude, que respeita o bem, objecto do apetite.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Praedicam. (cap. X).
2. Q. 58, a. 3.
3. Lib. V Super Lucam.
4. Q. 56, a. 3.
5. Q. 57, a. 4.
6. Q. 58, a. 3 ad 3.


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