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25/12/2013

Tratado das virtudes em geral 25


Questão 60: Da distinção das virtudes morais entre si.

Art. 1 — Se há uma só virtude moral.

(III Sent., dist. XXXIII, q. 1, a. qª 1).

O primeiro discute-se assim. — Parece que há só uma virtude moral.

1. — Pois, assim como a direcção dos actos morais pertence à razão, sujeito das virtudes intelectuais, assim a inclinação pertence à virtude apetitiva, sujeito das virtudes morais. Ora, é uma só a prudência, virtude intelectual directora de todos os actos morais. Logo, também é só uma a virtude moral, que imprime a inclinação em todos os actos morais.

2. Demais. — Os hábitos não se distinguem pelos objectos materiais, mas pelas razões formais dos objectos. Ora, a razão formal do bem, a que se ordena a virtude moral, a saber, o modo da razão, é uma só. Logo, é uma só a virtude moral.

3. Demais. — Os actos morais especificam-se pelo fim, como já dissemos 1. Ora, o fim comum de todas as virtudes morais é um só, a saber, a felicidade, enquanto os fins próprios e próximos são infinitos. Ora, não sendo as virtudes morais infinitas, conclui-se que é uma só a virtude moral.

Mas, em contrário, um mesmo hábito não pode pertencer a diversas potências, como já se disse 2. Ora, o sujeito das virtudes morais é a parte apetitiva da alma, que se divide em várias potências, como já se disse na Primeira Parte 3. Logo, não pode haver uma só virtude moral.

Como já dissemos 4, as virtudes morais são certos hábitos da parte apetitiva. Ora, estes diferem especificamente conforme as diferenças especiais dos objectos, conforme estabelecemos 5. Ora, a espécie do objecto desejável, como a de qualquer coisa, depende da forma específica, procedente do agente.

Devemos porém considerar, que a matéria do paciente tem dupla relação com o agente. Às vezes recebe a forma do agente, essencialmente, tal como existe no agente, e isso dá-se com todos os agentes unívocos. E portanto, é necessário que, sendo o agente especificamente uno, a matéria receba também forma especificamente una, assim, o fogo não gera, univocamente, senão o que é de espécie ígnea. Outras vezes, porém, a matéria recebe a forma do agente, não essencialmente, tal como ela nele existe, e é o caso dos geradores não unívocos, assim, o animal é gerado pelo sol. E então as formas recebidas na matéria, provenientes do mesmo agente, não são da mesma espécie, mas diversificam-se conforme a matéria está diversamente proporcionada a receber o influxo do agente. Assim, vemos que a mesma acção do sol gera, por putrefacção, animais de diversas espécies, segundo a diversa proporção da matéria.

Mas, como é manifesto, na ordem moral a razão é que ordena e move, sendo a potência apetitiva a ordenada e movida. Ora, o apetite não respeita, quase univocamente, a impressão da razão, por não ser racional por essência, mas por participação, como se disse 6. Donde, o desejável, conforme a moção racional, tem tantas espécies diversas, quantas as relações diversas que mantém com a razão. Donde se segue que, longe de constituírem uma só virtude, as virtudes morais são especificamente diversas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O objecto da razão é a verdade. Ora, todos os actos morais, sendo de existência contingente, manifestam a mesma essência da verdade. Portanto, há neles só uma virtude dirigente, que é a prudência. O objecto da potência apetitiva porém é o bem desejado, cuja essência difere conforme a relação diversa mantém com a razão dirigente.

RESPOSTA À SEGUNDA. — As formalidades em questão são do mesmo género por causa da unidade do agente, mas, diversificam-se especificamente por causa das relações diversas dos pacientes, como acima dissemos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Os actos morais não se especificam pelo fim último, mas pelos fins próximos, e estes, embora numericamente infinitos, não o são contudo especificamente.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 1, a. 3.
2. Q. 56, a. 2.
3. Q. 80, a. 2, q. 81, a. 2.
4. Q. 58, a. 1, 2, 3.
5. Q. 54, a. 2.
6. I Ethic. (lect. XI).


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