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12/12/2013

Tratado das virtudes em geral 12


Questão 57: Da distinção entre as virtudes intelectuais.
Art. 1 — Se os hábitos intelectuais especulativos são virtudes.

(III Sent., dist. XXIII, q. 1, a. 4, qª 1, De Virtut., q. 1 a. 7).

O primeiro discute-se assim. — Parece que os hábitos intelectuais especulativos não são virtudes.

1. — Pois, a virtude é um hábito operativo, como já se disse 1. Ora, os hábitos especulativos não são operativos, pois o especulativo difere do prático ou operativo. Logo, os hábitos intelectuais especulativos não são virtudes.

2. Demais. — A virtude visa tornar o homem feliz ou beato, pois, a felicidade é o prémio da virtude, como diz Aristóteles 2. Ora, os hábitos intelectuais não consideram os actos humanos ou os outros bens humanos pelos quais o homem alcança a felicidade, mas antes, as coisas naturais e divinas. Logo tais hábitos se não podem denominar virtudes.

3. Demais. — A ciência é um hábito especulativo. Ora, a ciência e a virtude distinguem-se entre si como géneros diversos não subalternados, segundo se vê no Filósofo 3. Logo, os hábitos especulativos não são virtudes.

Mas, em contrário. — Só os hábitos especulativos consideram o necessário e que não pode existir de outro modo. Ora, o Filósofo inclui, certas virtudes intelectuais na parte da alma que considera o necessário e que não pode ter outro modo de existir 4. Logo, os hábitos intelectuais especulativos são virtudes.

Toda virtude, sendo ordenada para o bem, como já dissemos 5, de duplo modo um hábito pode ser considerado virtude, conforme também já ficou dito 6. Ou porque dá a faculdade de obrar rectamente, ou porque, com a faculdade, torna também bom o uso da mesma. Ora, este último caso, segundo já ficou dito 7, só pertence aos hábitos referentes à parte apetitiva, porque a faculdade apetitiva da alma é que nos faculta usar de todas as potências e hábitos.

Como pois os hábitos intelectuais especulativos não aperfeiçoam a parte apetitiva, nem de certo modo, lhe digam respeito, senão só à intelectiva, podem-se chamar virtudes, enquanto tornam capaz a faculdade da sua acção recta, que é a consideração da verdade, actividade recta do intelecto. Mas não se chamam virtudes, conforme o segundo modo, quase fazendo com que usemos bem da potência ou do hábito. Pois, não é por termos o hábito da ciência especulativa que nos inclinaremos a usar dele, esse hábito só nos confere a faculdade de especular a verdade em relação àquilo de que temos ciência. Mas só a moção da vontade é que nos leva a usar da ciência habitual. Donde, a virtude que aperfeiçoa a vontade, como a caridade ou a justiça, também nos leva a empregar rectamente os hábitos especulativos de que tratamos. E assim sendo, pode haver mérito também nos actos desses hábitos, se forem feitos com caridade, e neste sentido Gregório diz que a vida contemplativa tem maior mérito que a activa 8.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Há uma dupla actividade: a exterior e a interior. Ora, o que é prático ou operativo, e se opõe ao especulativo, se funda na actividade exterior, ao que não se ordena o hábito especulativo. Mas este ordena-se à actividade interna do intelecto, consistente em especular a verdade, e por este lado é um hábito operativo.

RESPOSTA À SEGUNDA. — De dois modos se diz que a virtude visa sobre certos respeitos. — De um modo, como sendo estes, objectos. E então, as referidas virtudes especulativas não respeitam o porque o homem se torna feliz, a menos que a expressão por que exprima a causa eficiente, ou o objecto da felicidade completa, que é Deus, objecto supremo da especulação. — De outro modo, como sendo actos, e então as virtudes intelectuais visam o por que o homem se torna feliz, quer por poderem os actos dessas virtudes ser meritórias, como já se disse, quer por serem uma incoação da perfeita beatitude, consistente na contemplação da verdade, conforme ficou dito acima 9.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A ciência opõe-se à virtude tomada na segunda acepção e pertencente à potência apetitiva.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 57, a. 2.
2. I Ethic. (lect. XIV).
3. IV Top. (cap. II).
4. VI Ethic. (lect. IV).
5. Q. 55, a. 3.
6. Q. 56, a. 3.
7. Ibid.
8. VI Moral. Cap. XXXVII.
9. Q. 3, a. 7.


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