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27/12/2013

Leitura espiritual para 27 de Dez

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. 
O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.

Evangelho: Mt 16, 1-20

1 Foram ter com Ele os fariseus e os saduceus e, para O tentarem, pediram-Lhe que lhes mostrasse algum prodígio do céu. 2 Ele, porém, respondeu-lhes: «Vós, quando vai chegando a noite, dizeis: “Haverá tempo sereno, porque o céu está vermelho”. 3 E de manhã: “Hoje haverá tempestade, porque o céu mostra um avermelhado sombrio”. 4 Sabeis, pois, distinguir o aspecto do céu e não podeis conhecer os sinais dos tempos? Esta geração perversa e adúltera pede um prodígio, mas não lhe será dado outro prodígio, senão o prodígio do profeta Jonas». E, deixando-os, retirou-Se. 5 Os Seus discípulos, tendo passado à outra margem do lago, tinham-se esquecido de levar pão. 6 Jesus disse-lhes: «Olhai e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus». 7 Mas eles discorriam entre si, dizendo: «É que não trouxemos pão». 8 Conhecendo Jesus isto, disse: «Homens de pouca fé, porque estais a discorrer entre vós por não terdes trazido pão? 9 Ainda não compreendeis nem vos lembrais dos cinco pães para os cinco mil homens, e quantos cestos recolhestes? 10 Nem dos sete pães para quatro mil homens, e quantos cestos recolhestes? 11 Porque não compreendeis que não foi a respeito do pão que eu vos disse: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus”?». 12 Então compreenderam que não havia dito que se guardassem do fermento dos pães, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus. 13 Tendo chegado à região de Cesareia de Filipe, Jesus interrogou os Seus discípulos, dizendo: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?». 14 Eles responderam: «Uns dizem que é João Baptista, outros que é Elias, outros que é Jeremias ou algum dos profetas». 15 Jesus disse-lhes: «E vós quem dizeis que Eu sou?». 16 Respondendo Simão Pedro, disse: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo». 17 Respondendo Jesus, disse-lhe: «Bem-aventurado és, Simão filho de João, porque não foi a carne e o sangue que to revelaram, mas Meu Pai que está nos céus. 18 E Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19 Eu te darei as chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares sobre a terra, será ligado também nos céus, e tudo o que desatares sobre a terra, será desatado também nos céus». 20 Depois ordenou aos Seus discípulos que não dissessem a ninguém que Ele era o Cristo.



As riquezas da fé

Artigo de S. Josemaria publicado no jornal ABC (Madrid), em 2 de Novembro de 1969. O Fundador do Opus Dei fala do amor à liberdade como um dos tesouros da fé cristã.

Neste cântico ás riquezas da fé que é a Epístola aos Gálatas, São Paulo diz-nos que o cristão deve viver com a liberdade que Cristo nos ganhou (1). Foi esse o anúncio de Jesus aos primeiros cristãos e continuará a sê-lo ao longo dos séculos: o anúncio da libertação da miséria e da angústia. A história não está submetida a forças cegas nem é o resultado do acaso, é antes a manifestação das misericórdias de Deus Pai. Os pensamentos de Deus estão por cima dos nossos pensamentos, diz a Escritura (2), por isso, confiar no Senhor quer dizer ter fé apesar dos pesares, indo além das aparências. A caridade de Deus “que nos ama eternamente” está atrás de cada acontecimento, embora de uma maneira por vezes oculta para nós.

"Confiar no Senhor quer dizer ter fé apesar dos pesares, indo além das aparências".

Quando o cristão vive de fé – com uma fé que não seja uma mera palavra, mas realidade de oração pessoal – a segurança do amor divino manifesta-se em alegria, em liberdade interior. Esses nós que por vezes apertam o coração, esses pesos que esmagam a alma, quebram-se e dissolvem-se. Se Deus está por nós, quem será contra nós? (3). E o sorriso aparece nos lábios logo a seguir. Um filho de Deus, um cristão que viva vida de fé, pode sofrer e chorar pode ter motivos para padecer; mas não para estar triste.

A liberdade cristã nasce do interior, do coração, da fé. Mas não é algo meramente individual, tem manifestações exteriores. Entre elas, uma das mais características da vida dos primeiros cristãos: a fraternidade. A fé – a magnitude do dom do amor de Deus – fez com que diminuam, até desaparecerem, todas as diferenças, todas as barreiras: já não há judeu, nem grego; não há servo, nem livre; não há homem, nem mulher; todos vós sois um só em Cristo Jesus (4). Esse saber-se e querer-se, de facto, como irmãos, acima das diferenças de raça, de condição social, de cultura, de ideologia, é essencial ao cristianismo. 

Não é minha missão falar de política. Também não é essa a missão do Opus Dei, já que a sua única finalidade é espiritual. O Opus Dei não entrou nem entrará nunca na política de grupos e partidos, nem está vinculado a nenhuma pessoa ou ideologia. Esse modo de actuar não é uma táctica apostólica, nem uma conduta meramente louvável. É uma necessidade intrínseca para o Opus Dei proceder assim, já que o exige a sua própria natureza e tem um selo evidente, o amor à liberdade, a confiança na condição própria do cristão no meio do mundo, actuando com completa independência e com responsabilidade pessoal.

Não há dogmas nas coisas temporais. Não está de acordo com a dignidade dos homens tentar fixar verdades absolutas em questões onde, forçosamente, cada um há-de contemplar as coisas do seu ponto de vista, de acordo com os seus interesses particulares, as suas preferências culturais e a sua própria experiência peculiar. Pretender impor dogmas no temporal conduz, inevitavelmente, a forçar as consciências dos outros, a não respeitar o próximo.

"Cada homem há-de fazer a experiência da sua autonomia pessoal, com tudo o que isso supõe de azar, de tenteio e, nalgumas ocasiões, de incerteza".

Não quero dizer com isso que a atitude do cristão, diante dos assuntos temporais, deva ser indiferente ou apática. De forma nenhuma; penso, no entanto, que um cristão há-de tornar compatível a paixão humana pelo progresso cívico e social com a consciência da limitação das opiniões próprias, respeitando, por conseguinte, as opiniões dos outros e amando o legítimo pluralismo. Quem não saiba viver assim, não chegou ao fundo da mensagem cristã. Não é fácil chegar e, de certo modo, não se chega nunca, porque a tendência para o egoísmo e para a soberba nunca morre em nós. Por isso, todos estamos obrigados a um exame constante, confrontando as nossas acções com Cristo, para nos reconhecermos pecadores e recomeçar de novo. Não é fácil chegar, mas temos de nos esforçar.

Deus, ao criar-nos, correu o risco e a aventura da nossa liberdade. Quis uma história que seja uma história verdadeira, feita de autênticas decisões e não uma ficção nem um jogo. Cada homem há-de fazer a experiência da sua autonomia pessoal, com tudo o que isso supõe de acaso, de hesitação e, nalgumas ocasiões, de incerteza. Não esqueçamos que Deus, que nos dá a segurança da fé, não nos revelou o sentido de todos os acontecimentos humanos. Juntamente com as coisas que para o cristão estão totalmente claras e seguras, há outras – muitíssimas – em que apenas cabe a opinião; quer dizer, um certo conhecimento do que pode ser verdadeiro e oportuno, mas que não se pode afirmar de um modo incontroverso. Porque não só é possível que eu me engane, mas – tendo eu razão – é possível que também a tenham os outros. Um objecto que a um parece côncavo parecerá convexo aos que estejam situados noutra perspectiva.

A consciência da limitação dos juízos humanos leva-nos a reconhecer a liberdade como condição da convivência. Mas não é tudo e, inclusivamente, não é o mais importante; a raiz do respeito à liberdade está no amor. Se outras pessoas pensam de maneira diferente de mim, isso é motivo para as considerar inimigas? A única razão pode ser o egoísmo, ou a limitação intelectual dos que pensam que não há mais valor que a política e as empresas temporais. Mas um cristão sabe que não é assim, porque cada pessoa tem um preço infinito e um destino eterno que é Deus: por cada uma delas morreu Jesus Cristo.

Quando o cristão vive de fé – com uma fé que não seja uma mera palavra, mas realidade de oração pessoal – a segurança do amor divino manifesta-se em alegria, em liberdade interior".
É-se cristão quando se é capaz de amar não só a Humanidade em abstracto, mas cada pessoa que passa perto de nós. É uma manifestação de maturidade humana sentir a responsabilidade dessas tarefas de que vemos que depende o bem-estar das gerações futuras, mas isso não nos pode conduzir a descuidar a entrega e o serviço nos assuntos mais correntes: ter um pormenor amável com os que trabalham ao nosso lado, viver uma verdadeira amizade com os nossos companheiros, compadecermo-nos de quem sofre necessidades, mesmo que a sua miséria nos pareça sem importância em comparação com os grandes ideais que perseguimos.

Falar de liberdade, de amor à liberdade, é propor um ideal difícil: é falar de uma das maiores riquezas da fé. Porque – não nos enganemos – a vida não é uma novela cor-de-rosa. A fraternidade cristã não é algo que venha do céu de uma vez por todas, mas realidade que há-de ser construída cada dia. E que o há-de ser numa vida que conserva toda a sua dureza, com choques de interesses, com tensões e lutas, com o contacto diário com pessoas que nos parecerão mesquinhas e com mesquinhezes da nossa parte.

Mas se tudo isso nos desalenta, se nos deixamos vencer pelo próprio egoísmo ou se caímos na atitude céptica de quem encolhe os ombros, será sinal de que temos necessidade de aprofundar na nossa fé, de contemplar mais Cristo. Porque só nessa escola é que o cristão aprende a conhecer-se a si próprio e a compreender os outros, a viver de tal maneira que seja Cristo presente nos homens. 

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Notas:
1. Cfr. Gal 4, 31 (Vg); Gal 5, 1 (Nvg).
2. Cfr. Is 55, 8; Rm 11, 33.
3. Rm 8, 31.

4. Gal 3, 28

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