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22/11/2013

Tratado dos hábitos 22


Questão 54: Da distinção dos hábitos.
Art. 2 — Se os hábitos se distinguem pelos objectos.

(Infra, a. 3, q. 60, a. 1, q. 63, a . 4, III Sent., dist. XXXIII, q. 1. a. 1, qª 1).

O segundo discute-se assim. — Parece que os hábitos não se distinguem pelos objectos.

1. — Pois, os contrários são especificamente diferentes. Ora, o próprio hábito da ciência diz respeito a objectos contrários, assim, a medicina tem por objecto o são e o doente. Logo, os hábitos não se distinguem por objectos especificamente diferentes.

2. Demais — Ciências diversas pertencem a hábitos diversos. Ora, um mesmo cognoscível pode pertencer a ciências diversas, assim, o naturalista e o astrólogo demonstram que a terra é redonda, como diz Aristóteles 1. Logo, os hábitos não se distinguem pelos objectos.

3. Demais — Os mesmos actos têm o mesmo objecto. Ora, um mesmo acto pode pertencer a diversos hábitos virtuosos, desde que se refira a fins diversos, assim, dar dinheiro a alguém, por amor de Deus, pertence à caridade, mas, se for para solver um débito, pertence à justiça. Logo, também um mesmo objecto pode pertencer a diversos hábitos, e portanto, a diversidade dos hábitos não depende da diversidade dos objectos.

Mas, em contrário. — Os actos diferem especificamente segundo a diversidade dos objectos, como já se disse 2. Ora, os hábitos são certas disposições para os actos. Logo, também se distinguem pelos seus diversos objectos.

O hábito é tanto hábito como uma determinada forma. Donde, a distinção dos hábitos pode fundar-se na espécie, ou no modo comum pelo qual as formas se distinguem especificamente, ou no modo próprio da distinção dos hábitos. Ora, as formas distinguem-se umas das outras pelos diversos princípios activos, porque todo o agente produz o que lhe é especificamente semelhante. O hábito, por seu lado, implica em ordenar-se para algum termo. Ora, todas as coisas que se consideram ordenadas para algum termo, se distinguem pela distinção dos termos a que se ordenam. Ora, o hábito é uma disposição ordenada para dois termos: a natureza e a operação dela resultante. — Assim, pois, a três luzes os hábitos se distinguem especificamente: pelos princípios activos de tais disposições, pela natureza e pelos objectos especificamente diferentes, como a seguir se explicará.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Na distinção das potências e também dos hábitos, não devemos considerar o objecto materialmente, mas a sua noção específica ou mesmo genericamente diferente. Pois, embora os contrários especificamente difiram pela diversidade das coisas, contudo pela mesma razão os conhecemos a ambos, pois um é conhecido pelo outro. E portanto, enquanto convêm na mesma razão de cognoscibilidade, pertencem ao mesmo hábito cognoscitivo.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Que a terra é redonda, o físico o demonstra por um meio e o astrólogo por outro. Este fá-lo por meios matemáticos, como, pelas figuras dos eclipses ou outro meio semelhante. O físico, por seu lado, demonstra-o por meios naturais, como o movimento dos graves para o centro ou meios semelhantes. Ora, todo o valor da demonstração, que é o silogismo que nos leva ao conhecimento, como se disse 3, depende do termo médio. Donde, meios diversos são como diversos princípios activos, pelos quais os hábitos das ciências se diversificam.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz o Filósofo, o fim comporta-se relativamente às acções, como o princípio relativamente às demonstrações 4. Donde, a diversidade dos fins diversifica as virtudes, bem como a diversidade dos princípios activos. Ora, são os fins, objectos dos actos internos, que pertencem principalmente às virtudes, como resulta do sobredito 5.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. II Phys. (lect. III).
2. Q. 18, a. 5.
3. I Post. (lect. IV).
4. II Phys. (lect. XV) et VII Ethic. (lect. VIII).
5. Q. 18, a. 6.


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