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12/10/2013

Leitura espiritual para 12 Out

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 22, 21-38

21 «Entretanto, eis que a mão de quem Me há-de entregar está à mesa comigo. 22 Em verdade, o Filho do Homem vai, segundo o que está decretado, mas, ai daquele homem por quem será entregue!». 23 Eles começaram a perguntar entre si qual deles seria o que haveria de fazer tal coisa. 24 Levantou-se também entre eles uma discussão sobre qual deles se devia considerar o maior. 25 Jesus, porém, disse-lhes: «Os reis das nações dominam sobre elas, e os que têm autoridade sobre elas chamam-se benfeitores. 26 Não seja assim entre vós, mas o que entre vós é o maior faça-se como o mais pequeno, e o que governa seja como o que serve. 27 Porque, qual é maior, o que está à mesa, ou o que serve? Não é maior o que está sentado à mesa? Pois Eu estou no meio de vós como um que serve. 28 Vós sois os que tendes permanecido comigo nas Minhas tribulações. 29 Por isso Eu preparo o reino para vós, como Meu Pai o preparou para Mim, 30 para que comais e bebais à Minha mesa, no Meu reino, e vos senteis sobre tronos a julgar as doze tribos de Israel. 31 «Simão, Simão eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; 32 mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos». 33 Pedro disse-Lhe: «Senhor, eu estou pronto a ir contigo para a prisão e para a morte». 34 Jesus, porém, disse-lhe: «Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo, sem que tu, por três vezes, tenhas negado que Me conheces». Depois disse-lhes: 35 «Quando Eu vos mandei sem bolsa, nem alforge, nem sandálias, faltou-vos, porventura, alguma coisa?». 36 Eles responderam: «Nada». Disse-lhes pois: «Mas agora quem tem bolsa, tome-a, e também alforge, e quem não tem espada venda o seu manto e compre uma. 37 Porque vos digo que é necessário que se cumpra em Mim isto que está escrito: “Foi posto entre os malfeitores”. Porque as coisas que Me dizem respeito estão perto do seu cumprimento». 38 Eles responderam: «Senhor, eis aqui duas espadas». Jesus disse-lhes: «Basta».



Vida

CAPÍTULO 3. Trata como uma boa companhia lhe serviu para despertar seus desejos e por que modo o Senhor lhe começou a dar alguma luz sobre o engano que tinha trazido.
1. Começando pois a gostar da boa e santa conversação desta freira, folgava de ouvir quão bem ela falava de Deus, porque era muito discreta e santa. Isto, a meu parecer, em nenhum tempo deixei de gostar. Começou-me a contar como veio a ser freira só por ter lido o que diz o Evangelho: «muitos são os chamados e poucos os escolhidos». Dizia-me o prémio que o Senhor dava aos que tudo deixam por Ele.
Começou esta boa companhia a desterrar os costumes que a má tinha feito, a tornar a pôr no meu pensamento desejos das coisas eternas e a tirar algo da grande repugnância que eu tinha em ser freira, que se me tinha tornado grandíssima. E, se via alguma ter lágrimas quando rezava, ou outras virtudes, tinha-lhe muita inveja. Era tão duro meu coração que, se lesse toda a Paixão, não chorava uma lágrima; isto causava-me pena.
2. Estive neste Mosteiro ano e meio muito melhorada. Comecei a rezar muitas orações vocais e a procurar que todas me encomendassem a Deus, para que me desse o estado em que O havia de servir. Mas, no entanto, desejava não fosse o de freira. Este, não fosse Deus servido de mo dar, embora também temesse o casar-me.
Ao cabo deste tempo - que estive aqui - já tinha mais afeição a ser freira, embora não naquela casa, porque as coisas mais virtuosas, que depois entendi que tinham, me pareciam excessos demasiados. E havia algumas, das mais moças, que a isto me ajudavam. Se todas fossem de um parecer, muito meteria aproveitado. Tinha eu também uma grande amiga em um outro mosteiro. Isto era motivo para eu não ser freira - caso o houvesse de ser - senão onde ela estava. Olhava mais ao gosto da minha sensualidade e vaidade de que ao bem que me ia à alma. Estes bons pensamentos, de ser freira, vinham-me algumas vezes e logo se afastavam e não podia persuadir-me a sê-lo.
3. A este tempo - embora eu não andasse descuidada de meu remédio andava o Senhor mais empenhado em me dispor para o estado que melhor me ia. Deu-me uma grande enfermidade e tive de voltar para casa de meu pai. Estando boa, levaram-me a casa de minha irmã - que residia numa aldeia para a ver, pois era extremo o amor que me tinha e, por sua vontade, não sairia eu de ao pé dela. Seu marido também gostava muito de mim; pelo menos, mostrava-me todo o seu agrado. Até mais isto devo ao Senhor porque em toda a parte sempre o tenho sentido. E em tudo eu O servia como quem sou.
4. Estava em caminho a casa dum irmão de meu pai, homem muito avisado e de grandes virtudes, viúvo, a quem o Senhor também andava dispondo para Si. Na sua velhice deixou tudo o que tinha e fez-se frade, e acabou de sorte que creio goza de Deus. Quis que eu estivesse com ele uns dias. Seu exercício era ler bons livros em vernáculo e, habitualmente, o seu falar era de Deus e das vaidades do mundo. Fazia-me ler-lhe esses livros e, embora não amiga deles, mostrava que sim; porque nisto de dar contentamento a outros tenho tido cuidado, mesmo que me causasse pesar. E assim, o que noutros fora virtude, em mim foi grande falta, porque era muitas vezes mui sem discrição.
Oh! valha-me Deus, por que meios me andava Sua Majestade dispondo para o estado em que Se quis servir de mim! Sem o querer, forçou-me a eu me fazer força! Bendito seja para sempre. Amen.
5. Embora os dias que lá estive fossem poucos, com a força que faziam no meu coração as palavras de Deus, tanto lidas como ouvidas, e a boa companhia, fui entendendo a verdade tal como em pequena: que tudo era nada, a vaidade do mundo, como acaba em breve, e a temer, se tivesse morrido, de ter ido para o inferno. E, embora a minha vontade não acabava de se inclinar a ser freira, vi, no entanto, que era o melhor e mais seguro estado e assim, pouco a pouco, determinei-me a forçar-me para o tomar.
6. Nesta batalha estive três meses, forçando-me a mim mesma com esta razão: os trabalhos e pena de ser freira não podiam ser maiores que os do purgatório e eu bem havia merecido o inferno. Não era, pois, muito passar o que ainda vivesse como num purgatório: depois iria direita ao Céu, que era este o meu desejo.
Neste movimento de tomar estado, mais me movia - me parece - um temor servil que o amor. Punha-me o demónio que não poderia sofrer os trabalhos da Religião por ser tão amimada. Disto me defendia eu com os trabalhos que passou Cristo: não era muito que eu passasse alguns por Ele. Ele me ajudaria a levá-los, devia eu pensar, pois, deste último ponto não me recordo. Passei grandes tentações nestes dias.
7. Tinham-me dado - com calenturas - uns grandes desmaios. Sempre tive bem pouca saúde. Deu-me vida o já ser amiga de bons livros. Lia as cartas de São Jerónimo, e estas animavam-me tanto que determinei dizê-lo a meu pai. O que para mim era quase como vestir o hábito. Era tão pundonorosa que não voltaria atrás, me parece, por coisa nenhuma tendo-o dito uma vez. Era tanto o que ele me queria, que de nenhuma maneira o pude convencer, nem bastaram rogos de pessoas que procurei lhe falassem. O mais que se pôde conseguir foi que, depois de acabados os seus dias, fizesse o que quisesse. Eu já me temia a mim mesma e à minha fraqueza no voltar atrás, e assim não me pareceu que isto me convinha e procurei por outra via, como agora direi.
CAPÍTULO 4. Diz como o Senhor a ajudou a convencer-se a si mesma para tomar Hábito e as muitas enfermidades que Sua Majestade lhe começou a dar.
1. Nestes dias em que andava com estas determinações havia persuadido a um irmão meu a que se fizesse frade, falando-lhe da vaidade do mundo. E combinámos entre nós ir um dia, muito de manhã, ao mosteiro onde estava aquela minha amiga a quem eu tinha muita afeição. Nesta minha última determinação já eu estava decidida de modo que iria para qualquer convento onde pensasse servir mais a Deus ou que meu pai quisesse. Mais olhava eu já ao remédio da minha alma, porque do descanso nenhum caso fazia.
Recordo-me, e a meu parecer com toda a verdade, que quando saí de casa de meu pai foi tal a aflição, que não creio será maior quando eu morrer. Parece que cada osso se me apartava de per si, pois, como não tinha amor de Deus a contrabalançar o amor de pai e parentes, fazia-me tudo uma força tão grande que, se o Senhor não me ajudasse, não teriam bastado as minhas considerações para ir por diante. Aqui deu-me o Senhor ânimo contra mim, de maneira que o pus por obra.
2. Ao vestir o Hábito, logo o Senhor me deu a entender como favorece aos que se esforçam para O servir. Isto ninguém apercebeu em mim, mas sim uma grandíssima vontade. Na altura deu-me um tão grande contentamento de ter aquele estado, que nunca jamais me faltou até hoje. Deus mudou a aridez da minha alma numa grandíssima ternura. Davam-me deleite todas as coisas da Religião. E verdade é andar algumas vezes varrendo nas horas que costumava ocupar em meus regalos e enfeites, e, lembrando-me que estava livre daquilo, me dava um novo gozo que me espantava e não podia entender por onde me vinha.
Quando disto me lembro, não há coisa que se ponha diante de mim, por difícil que seja, que duvide de a acometer. Já tenho experiência em muitas que, se de princípio me esforço a me determinar a fazê-lo (sendo só por Deus), Ele quer -para mais merecermos - que a alma sinta aquele pavor até o começar e quanto maior este, for, se se vai por diante, maior e mais saboroso o prémio se torna depois. Até mesmo nesta vida dá a paga Sua Majestade por vias que só.quem goza disso o entende. Isto sei-o por experiência, como tenho dito, em muitas coisas difíceis; e assim, jamais aconselharia, se fosse pessoa que tivesse de dar parecer que, quando uma boa inspiração nos bate à porta muitas vezes, se deixe com medo de a pôr por obra. Se é desnudamente só por Deus, não há que temer suceda mal, que poderoso Ele é para tudo. Seja bendito para sempre. Ámen.
3. Bastavam, ó sumo Bem e descanso meu!, as mercês que me tendes feito até aqui, trazendo-me - por tantos rodeios da Vossa piedade e grandeza - a estado tão seguro e casa onde havia muitas servas de Deus, das quais eu pudera tomar exemplo para ir crescendo em Vosso serviço. Não sei como hei-de passar daqui, quando me recordo o modo da minha profissão e a grande determinação e contento com que a fiz e do desposório que fiz conVosco. Isto não o posso dizer sem lágrimas, e haviam de ser de sangue e quebrar-se-me o coração, e não seria muito pesar para o que depois Vos ofendi.
Parece-me agora que tinha razão em não querer tão grande dignidade, pois tão mal havia de usar dela. Mas Vós, Senhor meu, quisestes ser - quase vinte anos em que usei mal desta mercê - o agravado, para que eu fosse melhorada. Não parece, Deus meu, senão que prometi não guardar coisa do que Vos havia prometido, embora não fosse essa então a minha intenção. Mas vejo depois tais as minhas obras, que não sei que intenção tinha, a não ser para que mais se veja quem Vós sois, Esposo meu, e quem eu sou. Pois é verdade muitas vezes temperar-se-me o pesar das minhas grandes culpas com o contento que me dá o compreender-se a multidão das Vossas misericórdias.
4. Em quem, Senhor, podem elas assim resplandecer como em mim, que tanto obscureci, com minhas más obras, as grandes mercês que me começastes a fazer? Ai de mim, Criador meu, que, se quero dar desculpas, nenhuma tenho, nem tem ninguém a culpa senão eu! Porque se eu Vos pagara algo do amor que me começastes a mostrar, não o pudera eu empregar em ninguém senão em Vós e com isto se remediava tudo. Pois não o mereci, nem tive tanta ventura, valha-me agora, Senhor, a Vossa misericórdia.
5. A mudança de vida e de manjares fez-me dano à saúde e embora o contentamento fosse muito, não bastou. Começaram-se-me a aumentar os desmaios e deu-me um mal do coração tão imensamente grande que causava espanto a quem o via, e outros muitos males juntos, e, assim, passei o primeiro ano com muito má saúde, todavia parece-me não ofendi nele muito a Deus. E como o mal era tão grave que me privava quase sempre dos sentidos - e algumas vezes de todo me ficava sem eles - era grande a diligência que meu pai fazia para me buscar remédio. Como não lho dessem os médicos de aqui, procurou levar-me a um lugar que tinha muita fama de se curarem ali outras enfermidades e assim disseram fariam à minha. Foi comigo essa amiga de quem já falei e era antiga na casa. No convento onde eu era freira não se prometia clausura.
6. Estive, quase um ano, por ali e padecendo durante três meses tão grandíssimos tormentos nas curas tão violentas que me, fizeram, que não sei como as pude sofrer. Enfim, embora as sofresse, não as pôde suportar o meu natural, como direi.
Havia de começar a cura no princípio do Verão e eu fui no princípio do Inverno. Todo este tempo estive em casa da minha irmã que disse que vivia na aldeia, esperando o mês de Abril, porque estava ali perto e para não andar a ir e vir.
7. Na ida, aquele meu tio que já disse estar em caminho, deu-me um livro: chama-se «Terceiro Abecedário». Trata de ensinar oração de recolhimento. E, embora neste primeiro ano tivesse lido bons livros (pois não quis mais usar de outros, porque já entendia o dano que me haviam feito), não sabia como proceder na oração nem como recolher-me. Assim folguei muito com ele e determinei-me a seguir aquele caminho com todas as minhas forças. Como já o Senhor me tinha dado o dom de lágrimas e gostava de ler, comecei a ter esses momentos de solidão e a confessar-me amiúde e a começar aquele caminho tendo aquele livro por mestre; porque eu não encontrei mestre - digo confessor que me entendesse -, embora procurasse durante vinte anos, depois do que estou a dizer. Isto fez-me muito dano e voltar muitas vezes atrás e até de todo me perder, porque, se o tivesse, ajudar-me-ia a sair das ocasiões que tive de ofender a Deus.
Começou Sua Majestade a fazer-me muitas mercês nestes princípios. Foram quase nove meses os que passei nesta solidão, embora não tão livre de ofender a Deus como o livro me dizia; mas sobre isso passava eu, parecendo-me quase impossível tanta guarda. Tinha-a de não fazer pecado mortal e prouvera a Deus a tivesse tido sempre. Dos veniais, fazia pouco caso e isto foi o que me arruinou. Começou-me, pois, Sua Majestade a fazer tantas mercês nestes princípios e a regalar-me tanto por este caminho que, ao fim do tempo de aqui estar, me fazia mercê de conceder-me oração de quietude e algumas vezes chegava à de união, embora eu não entendesse o que era uma e outra e o muito que era de apreciar, pois creio me fora grande bem entendê-lo. Verdade é que durava tão pouco esta união que não sei se seria uma Ave-Maria; mas ficava com uns efeitos tão grandes que, com não ter a este tempo vinte anos, me parecia trazer o mundo debaixo dos pés, e assim recordo-me que me faziam pena os que o seguiam, embora fosse em coisas lícitas.
Procurava o mais que podia trazer a Jesus Cristo, nosso Bem e Senhor, presente dentro de mim e este era o meu modo de oração: se pensava em algum passo, representava-O no interior, embora gastasse mais tempo em ler bons livros, que era toda a minha recreação. É que Deus não me deu talento para discorrer com o entendimento nem de me aproveitar da imaginação. Tenho-a tão entorpecida que, até para pensar e representar trazer em mim - como procurava fazer - a Humanidade do Senhor, não conseguia. E ainda que por esta via - de não poderem ajudar-se do entendimento - as almas chegam mais depressa à contemplação se perseveram, é muito trabalhoso e penoso. Se falta a ocupação da vontade e o amor ter coisa presente em que se ocupe, fica a alma como sem arrimo nem exercício; causa grande pena a soledade e a aridez e dão grandíssimo combate os pensamentos.
8. A pessoas que tenham esta disposição convém-lhes ter mais pureza de consciência que as que podem obrar com o entendimento. Porque, quem discorre no que o mundo é, e no que deve a Deus, e no muito que Ele sofreu e no pouco que O serve, e o que o Senhor dá a quem O ama, tira doutrina para se defender dos pensamentos e das ocasiões e perigos. Mas, quem não se pode aproveitar disto, tem maior perigo ou dificuldade e convém-lhe ocupar-se muito na leitura, pois que de sua parte não pode tirar nenhuma ideia ou consideração.
Àqueles que procedem desta maneira, em lugar de oração mental que não podem ter, é-lhes necessário ler, embora seja pouco o que lêem. E tão penosíssima é esta maneira de proceder que, se o mestre que ensina insiste em que a oração seja sem leitura - o que ajuda muito a recolher a alma em oração - e, sem esta ajuda, os fazem estar muito tempo na oração, digo que será impossível permanecerem muito nela, e fará dano à saúde se se porfia, porque é coisa muito penosa.
9. Agora parece-me que o Senhor proveu a que não encontrasse quem me ensinasse, porque fora impossível - segundo julgo - perseverar os dezoito anos que passei este trabalho e em todos eles grandes aridezes, por não poder, como digo, discorrer. Em todos eles, a não ser acabando de comungar, jamais ousei começar a ter oração sem um livro. Temia tanto minha alma estar sem ele na oração, como se contra muita gente saísse a pelejar. Com esta ajuda - que era como que uma companhia ou escudo em que aparava os golpes dos muitos pensamentos - andava consolada porque a aridez não era o normal, mas, sempre que me faltava livro, logo se desbaratava a alma. E os pensamentos, que andavam perdidos, com isto os começava eu a recolher e a levar a alma como de um fôlego. Muitas vezes, em abrindo o livro, nada mais era preciso. Outras lia pouco, outras muito, conforme a mercê que o Senhor me fazia.
Parecia-me a mim, nestes princípios que digo, que, tendo eu livros e com ter solidão, não havia perigo que me arrancasse de tanto bem; e creio que - com a ajuda de Deus - fora assim, se tivesse tido mestre ou pessoa que me avisasse de fugir das ocasiões nos princípios e me fizesse sair, com brevidade, se nelas entrasse. E, se então o demónio me tivesse acometido a descoberto, julgo que, de modo algum, eu voltaria a pecar gravemente. Mas foi tão subtil e eu tão ruim, que todas as minhas determinações de pouco me aproveitaram, ainda que de muitíssima ajuda os dias que servi a Deus, para poder sofrer as terríveis enfermidades que tive, com tão grande paciência como a que Sua Majestade me deu.
10. Muitas vezes tenho pensado, espantada, na grande bondade de Deus e a minha alma tem-se regalado de ver a Sua grande magnificência e misericórdia. Seja bendito por tudo! Tenho visto claramente Ele não deixar sem paga, até mesmo nesta vida, nenhum desejo bom. Por ruins e imperfeitas que fossem minhas obras, este Senhor meu as ia melhorando e aperfeiçoando e dando valor. Os males e pecados logo os escondia. Até os olhos de quem as viu permite Sua Majestade fiquem como que cegos e lhos tira da memória; doira as culpas; faz resplandecer uma virtude que o mesmo Senhor põe em mim, fazendo-me quase força para que a tenha.
11. Quero voltar ao que me mandaram. Digo que, se houvesse de dizer por miúdo o modo como o Senhor se havia comigo nestes princípios, fora mister outro entendimento - e não o meu - para saber encarecer o que neste caso Lhe devo e a minha grande ingratidão e maldade, pois tudo isto olvidei. Seja para sempre bendito, que tanto metem suportado. Ámen.

santa teresa de jesus


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