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04/08/2013

Tratado das paixões da alma 102



Questão 43: Da causa do temor


Art. 2 — Se a deficiência é a causa do temor.


(In Psalm.XXVI).



O segundo discute-se assim. — Parece que a deficiência não é causa do temor.


1. — Pois, os que têm poder são os mais temidos. Ora, a deficiência é contrária ao poder. Logo, não é causa do temor.

2. Demais — Os que vão ser decapitados sofrem a máxima deficiência. Ora, eles não temem, como diz Aristóteles 1. Logo, a deficiência não é causa do temor.

3. Demais — Lutar supõe força e não deficiência: Ora, os competidores temem os que concorrem com eles, como diz Aristóteles 2. Logo, a deficiência não é causa do temor.

Mas, em contrário. — Os contrários são causas uns dos outros. Ora, as riquezas, a força, a multidão dos amigos e o poder excluem o temor, segundo Aristóteles 3. Logo, a falta desses elementos é a causa do temor.

Como já dissemos, podemos descobrir dupla causa do temor: uma, como disposição material de quem teme, a outra, como causa eficiente, da parte de quem é temido.

Quanto ao primeiro ponto, a deficiência é em si mesma causa do temor, pois é por alguma deficiência de forças que não podemos facilmente repelir o mal iminente. Contudo, para causar o temor é preciso que a deficiência tenha certa medida. Pois é menor a deficiência que causa o temor do mal futuro, que a consecutiva ao mal presente, que provoca a tristeza. E ainda seria maior a deficiência, se ficasse totalmente eliminado o sentimento do mal, ou o amor do bem, cujo contrário é temido.

Quanto ao segundo, a força e a robustez, em si mesma, é causa do temor. Pois, é por apreendermos, como nocivo o que é forte, que não lhe podemos repelir os efeitos. Pode porém acontecer, acidentalmente, que no caso vertente uma deficiência cause o temor, assim quando é causa de alguém querer nos fazer mal, por uma injustiça, p. ex., ou porque foi lesado antes, ou teme sê-lo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A objecção formulada relativamente à causa do temor procede se se trata da causa eficiente.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os que vão ser decapitados são presas da paixão de um mal presente. Donde, esse defeito excede a medida do temor.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Os competidores temem, não por causa do poder com que podem lutar, mas por deficiência de poder, donde o não confiarem em que hão-de vencer.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
____________________
Notas:
1. II Rhetoric. (cap. V).
2. Ibid.
3. Ibid.
Tratado das paixões da alma 102 04 Ago
Questão 43: Da causa do temor
Art. 2 — Se a deficiência é a causa do temor.

(In Psalm.XXVI).

O segundo discute-se assim. — Parece que a deficiência não é causa do temor.

1. — Pois, os que têm poder são os mais temidos. Ora, a deficiência é contrária ao poder. Logo, não é causa do temor.

2. Demais — Os que vão ser decapitados sofrem a máxima deficiência. Ora, eles não temem, como diz Aristóteles 1. Logo, a deficiência não é causa do temor.

3. Demais — Lutar supõe força e não deficiência: Ora, os competidores temem os que concorrem com eles, como diz Aristóteles 2. Logo, a deficiência não é causa do temor.

Mas, em contrário. — Os contrários são causas uns dos outros. Ora, as riquezas, a força, a multidão dos amigos e o poder excluem o temor, segundo Aristóteles 3. Logo, a falta desses elementos é a causa do temor.

SOLUÇÃO. — Como já dissemos, podemos descobrir dupla causa do temor: uma, como disposição material de quem teme, a outra, como causa eficiente, da parte de quem é temido.

Quanto ao primeiro ponto, a deficiência é em si mesma causa do temor, pois é por alguma deficiência de forças que não podemos facilmente repelir o mal iminente. Contudo, para causar o temor é preciso que a deficiência tenha certa medida. Pois é menor a deficiência que causa o temor do mal futuro, que a consecutiva ao mal presente, que provoca a tristeza. E ainda seria maior a deficiência, se ficasse totalmente eliminado o sentimento do mal, ou o amor do bem, cujo contrário é temido.

Quanto ao segundo, a força e a robustez, em si mesma, é causa do temor. Pois, é por apreendermos, como nocivo o que é forte, que não lhe podemos repelir os efeitos. Pode porém acontecer, acidentalmente, que no caso vertente uma deficiência cause o temor, assim quando é causa de alguém querer nos fazer mal, por uma injustiça, p. ex., ou porque foi lesado antes, ou teme sê-lo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A objecção formulada relativamente à causa do temor procede se se trata da causa eficiente.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os que vão ser decapitados são presas da paixão de um mal presente. Donde, esse defeito excede a medida do temor.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Os competidores temem, não por causa do poder com que podem lutar, mas por deficiência de poder, donde o não confiarem em que hão-de vencer.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. II Rhetoric. (cap. V).
2. Ibid.
3. Ibid.


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