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08/08/2013

Leitura espiritual para 08 Ago

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mc 8, 27-38; 9, 1-8

27 Saiu Jesus com os Seus discípulos pelas aldeias de Cesareia de Filipe. Pelo caminho, interrogou os discípulos: «Quem dizem os homens que Eu sou?». 28 Eles responderam-Lhe: «Uns dizem que João Baptista, outros que Elias, e outros que algum dos profetas». 29 Então perguntou-lhes: «E vós quem dizeis que Eu sou?». Pedro respondeu: «Tu és o Cristo». 30 Então Jesus ordenou-lhes severamente que não dissessem isto d'Ele a ninguém. 31 E começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem padecesse muito, que fosse rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas, que fosse morto, e que ressuscitasse depois de três dias. 32 E falava destas coisas claramente. Pedro, tomando-O à parte, começou a repreendê-l'O. 33 Mas Jesus, voltando-Se e olhando para os Seus discípulos, repreendeu Pedro, dizendo: «Retira-te daqui, Satanás, que não aprecias as coisas de Deus, mas sim as dos homens». 34 Depois, chamando a Si o povo com os Seus discípulos, disse-lhes: «Se alguém quer seguir-Me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. 35 Porque quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a vida por amor de Mim e do Evangelho, salvá-la-á. 36 Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma? 37 Ou que dará o homem em troco da sua alma? 38 No meio desta geração adúltera e pecadora, quem se envergonhar de Mim e das Minhas palavras, também o Filho do Homem Se envergonhará dele, quando vier na glória de Seu Pai, com os santos anjos».




JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR

Iniciação à Cristologia

PRIMEIRA PARTE

A PESSOA DE JESUS CRISTO

Capítulo IV

O MISTÉRIO DA UNIDADE PESSOAL DE JESUS CRISTO

    Até agora temos visto que Jesus é verdadeiro Deus, engendrado pelo Pai antes do tempo; e que é verdadeiro homem, engendrado por sua Mãe Maria no tempo; consubstancial ao Pai segundo a divindade e consubstancial connosco segundo a humanidade. Perfeito Deus e perfeito homem.
    Agora temos que ver como se unem o divino e o humano em Nosso Senhor. Também aqui estudaremos os principais problemas históricos que se colocaram, e depois daremos algumas explicações para clarificar os conceitos e podermos entender um pouco melhor este profundíssimo mistério que ultrapassa sempre toda a capacidade humana.

1. A união das duas naturezas na única pessoa de Jesus Cristo

a) A unidade em Cristo
    A heresia nestoriana e o concílio de Éfeso

    O nestorianismo. Nestório, patriarca de Constantinopla (séculos IV-V), pregou que o título de Theotokos (Mãe de Deus) não era aplicável a Santa Maria. Via em Cristo uma pessoa humana juntamente com a pessoa divina do Filho de Deus, como duas pessoas distintas; a Virgem seria a Mãe dessa pessoa humana, de Cristo, mas não do Filho de Deus.
    Nestório sustenta que a união entre as naturezas divina e a humana de Cristo não é segundo a hypóstasis (segundo a pessoa), mas só uma união moral entre dois sujeitos (como um casal). Por esta união o Verbo comunicaria à pessoa humana de Jesus a sua dignidade, ao mesmo tempo que também existiria entre eles uma identidade de vontade e de acção: o Verbo inabitaria em Cristo e obraria milagres por meio dele. Por isso não admite que se atribuam ao Verbo as acções e paixões que segundo ele são da pessoa humana de Jesus: não se poderia dizer que o Filho de Deus nasceu de Maria, nem que morreu, etc.
    Nestório foi refutado sobretudo por São Cirilo de Alexandria, e condenado no concílio de Éfeso.

    O concílio de Éfeso (ano 431). Face à heresia nestoriana, este concílio declarou que a humanidade de Cristo não tem mais sujeito que a pessoa divina do Filho de Deus, que assumiu essa natureza humana e a fez sua desde a sua concepção. Por isso Maria é com toda a verdade «Mãe de Deus», não porque o Verbo de Deus tenha tomado dela a sua natureza divina, mas porque dela (…) nasceu o Verbo segundo a carne [i].
    Este concílio põe a força dos seus ensinamentos na união das duas naturezas de Jesus Cristo num único sujeito pessoal, na união segundo a hypóstasis: trata-se de uma união incompreensível mas que é real e ontológica. O Verbo na verdade tornou sua a natureza humana, de tal forma que lhe pertence realmente, não só moralmente. O Verbo é o único sujeito de todos os actos divinos e humano de Cristo, como ensina o símbolo de Niceia (o Filho de Deus eterno, pelo qual se fizeram todas as coisas, encarnou de Maria Virgem, foi crucificado, foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, etc.).
A doutrina da maternidade divina de Santa Maria é o reflexo desta doutrina cristológica.

b) A dualidade de natureza. A heresia monofisista e o concílio de Calcedónia

    O monofisismo. Eutiques superior de um mosteiro de Constantinopla (século V), afirmou que Cristo tem uma só natureza composta de duas naturezas distintas. Antes da Encarnação poder-se-ia falar de duas naturezas distintas, a divina e a humana; mas depois da Encarnação em Cristo só há uma [ii]. Cristo procederia ex duabus naturis, mas de facto não estaria subsistindo in duabus naturis: teria uma só natureza composta pelas duas, ainda que na realidade, a humanidade teria sido absorvida na infinita pessoa do Filho de Deus.
    O Papa São Leão Magno e o concílio de Calcedónia condenaram esta doutrina.

    O concílio de Calcedónia (451). O quarto concílio ecuménico ensinou, contra o monofisismo, que «há que confessar a um só e mesmo Filho e Senhor nosso Jesus Cristo: perfeito na divindade, e perfeito na humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem (…) Há-de reconhecer-se a um só e o mesmo Cristo Senhor, Filho único do Pai, em duas naturezas (in duabus naturis), sem confusão, sem troca, sem divisão, sem separação. A diferença de naturezas de nenhum modo fica suprimida pela sua união, antes ficam a salvo as propriedades de cada uma das naturezas e confluem num só sujeito e em só pessoa» [iii].
    As duas naturezas unem-se em Cristo sem confusão e sem troca ou transmutação entre elas: Deus é transcendente, permanece imutável e não se converte em criatura, a passo que o humano permanece humano e não se transforma em Deus. Jesus Cristo não é uma mistura intermédia de ambos os modos de ser: não existe uma natureza composta pela divina e a humana. Não se apagou de modo algum a infinita diferença e distância entre o Criador e a criatura. E, além disso, as duas naturezas em Cristo unem-se sem divisão e sem separação, como uma união profundíssima e misteriosa, na pessoa do Verbo.
    A chave do ensinamento do concílio de Calcedónia está na distinção entre pessoa e natureza: em Cristo duas são as naturezas e uma é a pessoa. Esta distinção não nasce da filosofia helénica mas sim, pelo contrário, nasce da fé e transcende por completo o pensamento grego. Além disso, estes termos não são tomados num sentido tecnicamente filosófico, antes se usam no amplo significado corrente que distingue entre o que é um (sua natureza ou modo de ser que é comum a outros: por ex. um ser humano), e quem um é (a sua pessoa que é individual: p. ex. Pedro).
    Os teólogos posteriores explicarão também que se tornaria impossível a união da divindade e da humanidade numa única natureza misturada de ambas, pois a divindade é imutável e absolutamente simples, e não pode deixar de ser o que era e começar a ser outra coisa, nem pode ser parte de uma natureza composta. Além disso, tal união iria contra a fé, pois Cristo já não seria Deus, e tampouco seria verdadeiro homem, mas outra coisa [iv]
    
2. Algumas explicações sobre o mistério da unidade ontológica de Cristo

    Vimos que a Tradição e o Magistério da Igreja chamam a Jesus Cristo pessoa ou hypóstasis, e empregam, em troca, o termo natureza para designar a sua divindade e a sua humanidade. E é evidente que falaram da unidade de Cristo em chave ontológica, com termos de significado objectivo e real. Procuremos conhecer um pouco mais o significado destes termos.

a) Explicação de algumas noções relativas ao dogma

    Pessoa e hypóstasis. Uma «hypóstasis» o indivíduo é ma substância individual completa, subsistente em si mesma, independente no seu ser de outros indivíduos. Chama-se também «pessoa» quando se trata dos indivíduos mais dignos nos quais se verifica de modo mais perfeito a noção de subsistir (ser por si mesmo): este é o caso dos seres racionais que são donos dos seus actos; p. ex. este homem, Pedro.
    Boécio definiu a pessoa como rationalis naturae individua substancia (substância individual de natureza racional), assinalando assim que é uma realidade completa no seu ser (substancia), individual e diferente no que respeita aos outros (individua), e que se caracteriza por ser racional ou intelectual (rationalis naturae).
A pessoa é pois um indivíduo, íntegro e independente no seu ser, que se possui a si mesmo pelo conhecimento e a liberdade. Quando afirmamos que é individual e independente no seu ser não queremos dizer que seja um ser fechado em si mesmo, pois a pessoa só se realiza perfeitamente na abertura e na relação com os outros.

    Natureza. «Natureza» significa a essência específica, quer dizer, aquilo que especifica e define o que uma coisa é; p. ex. a natureza de Pedro é ser homem, a sua humanidade, ser da espécie humana. Também significa o princípio interno pelo qual esse sujeito actua do modo que lhe é próprio, quer dizer, a essência enquanto é o princípio das operações; p. ex. a natureza de Pedro é a sua condição humana com as suas faculdades próprias pelas quais actua como homem.

    A distinção entre natureza e pessoa. Esta distinção aparece mais clara ao considerar os indivíduos racionais ou pessoas possuidores de uma determinada natureza. Com efeito, comprovamos que existem muitos sujeitos ou indivíduos diferentes (p. ex. os homens) que possuem a mesma natureza (a condição humana).
    A distinção entre uma natureza e a própria pessoa que a possui é uma distinção entre uma parte e o todo, entre a parte que lhe dá o modo de ser e o todo que existe realmente: p. ex. Pedro tem realmente uma natureza humana como algo próprio, e, além disso, possui outros elementos individuais exclusivos dele, não comuns a outros homens; Pedro é a pessoa, o todo, e a natureza é uma parte dele que o especifica.

b) A união absolutamente misteriosa e singular das duas naturezas em Cristo é hipostática, na pessoa.

    Já vimos que Cristo não é um ser «só em algum sentido», com a unidade moral, extrínseca o acidental que pode existir entre dois sujeitos ou indivíduos subsistentes, um divino e outro humano, que formem uma comunhão de vida e de acção, como sustentava Nestório. Mas, por outro lado, essa unidade, real e ontológica, que afirmamos em Cristo, tampouco é segundo a natureza: não existe uma só natureza composta pela divina e a humana, como afirmava Eutiques.

    A união das duas naturezas em Cristo é uma união hipostática ou na pessoa. Nosso Senhor «ainda que seja Deus e homem, não são dois Cristos, mas um só Cristo (…) um absolutamente (…) na unidade da pessoa» [v]. O Verbo, ao assumir a natureza humana de Maria Virgem, fê-la realmente sua, e começou a ser homem no tempo, sem deixar de ser o mesmo que era desde a eternidade. De modo que, depois da Encarnação, o Filho de Deus subsiste em duas naturezas: é Deus e também é homem.
    Esta união é completamente misteriosa, não tem semelhança com nenhuma outra, e conhecemo-la unicamente pela fé. Os exemplos que se empregaram na catequese para ilustrar este mistério são simples analogias que servem só em parte, mas que distam dele noutros aspectos. O símil mais utilizado pela Tradição é a união da alma e do corpo [vi]: a união de duas substâncias que formam no nosso caso uma só pessoa, e nisto serve de exemplo para a união da divindade e humanidade em Cristo. Mas não serve como exemplo noutros aspectos: p. ex. enquanto a alma e o corpo são duas substâncias incompletas, e este não é o caso da divindade nem da humanidade de Cristo; nem tampouco enquanto a união do corpo e alma se constitui uma só natureza.

Vicente Ferrer Barriendos

(trad do original castelhano por ama)

Bibliografia:
Alguns documentos do Magistério da Igreja

JOÃO PAULO II, Enc. Redemptor hominis, 1979.
JOÃO PAULO II, Catequesis sobre el Credo, em Creo en Jesucristo, Pa­labra, Madrid 1996.
CONGR. PARA A DOUTRINA DA FÉ, Decl. Mysterium Filii Dei, 1972.
CONGR. PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instr. Libertatis nun­tius, 1984.
CONGR. PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instr. Libertatis cons­cientia, 1986.
CONGR. PARA A DOUTRINA DA FÉ, Decl. Dominus Iesus, 2000.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, p. I, secção 2, cap. 2, nn. 422-682.
CONFERENCIA EPISCOPAL ESPANHOLA, COMISSÃO EPIS­COPAL PARA A DOUTRINA DA FÉ, Cristo presente na Igreja. Nota doutrinal sobre algumas questões cristológicas e im­plicações eclesiológicas, 1992.

Relação de abreviaturas:

Sagrada Escritura

Am                  Amos
Ap                    Apocalipse
Col                   Epístola aos Colossenses
1 Cor               Primeira Epístola aos Coríntios
2 Cor               Segunda Epístola aos Coríntios
1 Cro               Livro I das Crónicas e Paralipómenos
2 Cro               Livro II das Crónicas e Paralipómenos
Dan                  Daniel
Dt                    Deuteronómio
Ef                     Epístola aos Efésios
Ex                    Êxodo
Ez                    Ezequiel
Flp                   Epístola aos Filipenses
Gal                   Epístola aos Gálatas
Gen                 Génesis
Act                   Actos dos Apóstolos
Heb                 Epístola aos Hebreus
Is                     Isaías
Jb                    Job
Jer                   Jeremias
Jo                    Evangelho de São João
1 Jo                 Primeira Epístola de São João
2 Jo                 Segunda Epístola de São João
3 Jo                 Terceira Epístola de São João
Lc                    Evangelho de São Lucas
Lv                    Levítico
Mal                   Malaquias
Mc                   Evangelho de São Marcos
Miq                  Miqueias
Mt                    Evangelho de São Mateus
Os                    Oseias
1 Pd                 Primeira Epístola de São Pedro
2 Pd                 Segunda Epístola de São Pedro
Qo                   Livro de Qohélet (Eclesiastes)
1 Re                 Livro I dos Reis
2 Re                 Livro II dos Reis
Rom                Epístola aos Romanos
Sab                  Livro da Sabedoria
Sal                   Salmos
1 Sam              Livro I de Samuel
2 Sam              Livro II de Samuel
Tg                    Epístola de São Tiago
Sir                    Livro de Bem Sirá (Eclesiástico)
1 Tes               Primeira Epístola aos Tesalonicenses
2 Tes               Segunda Epístola aos Tesalonicenses
1 Tim               Primeira Epístola a Timóteo
1 Tim               Senda Epístola a Timóteo
Tit                    Epístola a Tito
Zc                    Zacarias

Outras siglas empregues

a.                     Artigo
Cap.                 Capítulo
CCE                  Catecismo da Igreja Católica (Cathecismus Catholicae Ecclesiae)
cf.                    Confira-se
Conc.               Concílio
Congr.             Congregação
Const.              Constituição
Decl.                Declaração
DS                   Enchiridion Symbolorum de Dezinguer-Schönmetzer
DV                   Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II
Enc.                 Encíclica
GS                   Constituição dogmática Gaudium et spes do Concílio Vaticano II
LG                    Constituição dogmática Lumen gentium do Concílio Vaticano II
p. / pp.            Página / páginas
p. ex.               Por exemplo
p.                     Pergunta
s. / ss.             Seguinte / Seguintes
S. Th.               Summa Theologiae de São Tomás de Aquino
t.                     Tomo





i CONC. DE ÉFESO, DS, 251.
[ii] Em grego «fysis» significa natureza. O termo monofisismo, provem de «uma natureza».
[iii] CONC. DE CALCEDÓNIA, DS, 301-302.
[iv] Cf. S. TH. III,2.1.
[v] Símbolo Quicumque, DS, 76.
[vi] Cf. Símbolo Quicumque, DS, 76: «Como a alma racional e o corpo formam um só homem; assim, Cristo é um, sendo Deus e homem».

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