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25/07/2013

Tratado das paixões da alma 92


Questão 41: Do temor em si mesmo.

Em seguida devemos tratar, primeiro do temor, e segundo, da audácia.

Sobre o temor há quatro questões a tratar. Primeiro, do temor em si mesmo. Segundo, do seu objecto. Terceiro, da sua causa, Quarto, do seu efeito.

Sobre a primeira questão discutem-se quatro artigos:

Art. 1 — Se o temor é paixão da alma.
Art. 2 — Se o temor é uma paixão especial.
Art. 3 — Se há algum temor natural.
Art. 4 — Se Damasceno assinala convenientemente seis espécies de temor: a indolência, o pejo, a vergonha, a admiração, o estupor e a agonia.

Art. 1 — Se o temor é paixão da alma.

O primeiro discute-se assim. — Parece que o temor não é paixão da alma. 
1. — Pois, como diz Damasceno, o temor é uma virtude que supõe a sístole, i. é, a contracção, e é desiderativa da essência 1. Ora, nenhuma virtude é paixão, conforme Aristóteles prova 2. Logo, o temor não é paixão.

2. Demais — Toda paixão é efeito de uma presença proveniente do agente. Ora, o temor não se refere a nada de presente, mas sim, ao futuro, como diz Damasceno 3. Logo, o temor não é paixão.

3. Demais — Toda paixão da alma é um movimento do apetite sensitivo, consecutivo à apreensão do sentido. Ora, o sentido não apreende o futuro, mas, sim, o presente. E o temor, referindo-se a um mal futuro, não pode ser paixão da alma.

Mas, em contrário, Agostinho enumera o temor entre as outras paixões da alma 4.

Entre os outros movimentos da alma, o temor é, depois da tristeza, o que principalmente implica a noção de paixão. Pois, como já dissemos 5, ao conceito de paixão pertence: — primeiro, ser um movimento da virtude passiva, para o qual o seu objecto está como um motor ativo, pois, a paixão é um efeito do agente. E deste modo também consideramos paixões o sentir e o inteligir. — Segundo e mais propriamente, chama-se paixão o movimento da virtude apetitiva. — E, ainda mais propriamente, o movimento da virtude apetitiva servida por um órgão corpóreo, acompanhado de certa transmutação corpórea. — E enfim, apropriadamente, chamam-se paixões os movimentos que acarretam alguma nocividade.

Ora, é manifesto que o temor, sendo relativo ao mal, pertence à potência apetitiva que, em si mesma, respeita o bem e o mal. Pertence ao apetite sensitivo, por ser acompanhado de certa transmutação, que é a contração, como diz Damasceno 6. E implica além disso relação com o mal, enquanto este pode de algum modo, levar-nos de vencida. Por onde, mui verdadeiramente lhe cabe a natureza de paixão, vem contudo depois da tristeza, relativa ao mal presente, porque o temor é relativo ao mal futuro, que não move como o presente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Virtude designa um certo princípio de acção, por isto, na medida em que os movimentos interiores da potência apetitiva são princípios de actos exteriores, chamam-se virtudes. O Filósofo porém nega que a paixão seja uma virtude, pois, a virtude é um hábito.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Assim como a paixão do corpo natural provém da presença corpórea do agente, assim a da alma, da presença animal do agente, sem presença corporal ou real, e isso se dá quando o mal, realmente futuro, se torna presente pela apreensão da alma.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O sentido não apreende o futuro, mas, apreendendo o presente, o animal é movido, por um instinto natural, a esperar um bem futuro ou a temer um futuro mal.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Lib. III (cap. XXIII).
2. II Ethic. (lect. V).
3. II lib. (cap. XII).
4. XIV De civ. Dei (cap. VII et IX).
5. Q. 22.

6. Loc. cit.

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