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14/07/2013

Tratado das paixões da alma 81




Questão 39: Ou da bondade e da malícia da dor ou tristeza

Art. 2 — Se a tristeza implica a noção de bem honesto.

(Infra, q. 59, a. 3, III, q. 15, a. 6 ad 2, 3, q. 46, a. 6, ad 2).



O segundo discute-se assim. — Parece que a tristeza não implica a noção de bem honesto. 
1. ― Pois, o que conduz ao inferno é contrário ao honesto. Ora, diz Agostinho: Parece que Jacob temia ser perturbado com tanta tristeza de modo a ir, não ao repouso dos bem-aventurados, mas ao inferno dos pecadores. Logo, a tristeza não implica a noção de bem honesto 1.

2. Demais ― O bem honesto, implica a noção de louvável e meritório. Ora, a tristeza diminui o louvor e o mérito, pois, diz o Apóstolo (2 Cor 9, 7): Cada um como propôs no seu coração, não com tristeza nem como por força. Logo, a tristeza não é um bem honesto.

3. Demais ― Como diz Agostinho, sofremos tristeza pelo que acontece contra a nossa vontade 2. Ora, não querer aquilo que atualmente nos acontece é ter a vontade contrária à ordem divina, a cuja providência está sujeito tudo quanto acontece. Logo, sendo próprio da vontade reta o conformar-se com a vontade divina, como já se disse 3, a tristeza é contrária à rectidão da vontade. E assim não implica a noção de honesto.

Mas, em contrário. ― Tudo o que merece o prémio da vida eterna implica a noção de honesto. Ora, tal é a tristeza, como está claro no Evangelho (Mt 5, 5): Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.

SOLUÇÃO. ― Pelo modo por que a tristeza é um bem, ela pode ser um bem honesto. Pois, como já dissemos 4, a tristeza é um bem relativamente ao conhecimento e à repulsa do mal. E tanto esta como aquele, na dor corpórea, atestam a bondade da natureza, donde provém que o sentido sente e a natureza evita o que lesa, e é causa da dor. Na tristeza interior porém, o conhecimento do mal é pelo juízo reto da razão, e a repulsa, pela vontade bem-disposta e que o detesta. Ora, todo bem honesto, procede destes dois elementos, da rectidão da razão e da vontade. Por onde, é manifesto que a tristeza pode implicar a noção de bem honesto.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Todas as paixões da alma devem ser reguladas pela regra da razão, que é a raiz do bem honesto, e que é ultrapassada pela tristeza imoderada, da qual fala Agostinho. E, portanto, afasta-se da noção de honesto.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Assim como a tristeza causada pelo mal procede da vontade e da razão recta, que o detesta, assim a tristeza causada pelo bem procede da razão e da vontade perversa, que o detesta. Portanto, tal tristeza impede o louvor ou o mérito do bem honesto, como quando damos esmola com tristeza.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Certas coisas como o pecado, acontecem actualmente não por vontade de Deus, mas permitidas por ele. Por onde a vontade a que repugna o pecado actual, em si ou em outrem, não discorda da vontade de Deus. Os males da pena, porém, existem actualmente, por vontade d´Ele. Não é entretanto exigido, para a rectidão da vontade que o homem os queira em si mesmos, mas só que não contrarie a ordem da divina justiça, como já dissemos 5.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. XII Super Gen. ad litt. (cap. XXXIII).
2. XIV De civ. Dei (cap. XV).
3. Q. 19, a. 9.
4. Q. 29, a. 1.

5. Q. 19, a. 10.

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