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01/07/2013

Tratado das paixões da alma 68




Questão 36: Das causas da tristeza.

Art. 2 — Se a concupiscência é causa da dor ou tristeza.




O segundo discute-se assim. — Parece que a concupiscência não é causa da dor ou tristeza.

1. — Pois, a tristeza em si mesma diz respeito ao mal, como já demonstramos 1. Ora, a concupiscência é um movimento do apetite para o bem. O movimento porém, que tende para um contrário, não pode ser causa do que respeita ao outro contrário. Logo, a concupiscência não é causa da dor.

2. Demais — A dor, segundo Damasceno, refere-se ao presente 2, a concupiscência porém, ao futuro. Logo, esta não é causa da dor.

3. Demais — O deleitável em si mesmo não é causa da dor. Ora, a concupiscência é em si mesma deleitável, como diz o Filósofo 3. Logo, não é causa da dor ou tristeza.

Mas, em contrário, diz Agostinho: A ignorância do que devemos fazer e a concupiscência do que é nocivo são acompanhadas sempre do erro e da dor 4. Ora, a ignorância é causa do erro. Logo, a concupiscência o é da dor.

A tristeza é um movimento do apetite animal. Ora, o movimento apetitivo tem, como já dissemos 5, semelhança com o natural. E disto podemos assinalar dupla causa, uma, a modo de fim, outra, como aquela donde procede o princípio do movimento. Assim, a causa, quase final, da queda de um corpo pesado, é o lugar inferior, porém o princípio do movimento é a inclinação natural, procedente da gravidade. Ora, a causa, quase final, do movimento apetitivo é o seu objecto. E por isso dissemos antes 6, que a causa da dor ou tristeza é o mal anexo. E por outro lado, a causa, que é como aquilo donde procede o princípio de tal movimento, é a inclinação natural do apetite, que se inclina, primeiro, ao bem e, consecutivamente a repudiar o mal contrário. Donde, o princípio primeiro deste movimento apetitivo é o amor, que é a inclinação primeira do apetite para a consecução do bem, e o segundo princípio é o ódio, que é a inclinação primeira do apetite para evitar o mal.

Como porém a concupiscência ou cobiça é o primeiro efeito do amor, com a qual nos deleitamos, conforme já dissemos 7, em máximo grau, por isso, Agostinho frequentemente toma pelo amor a cobiça ou concupiscência, como também já dissemos 8, e deste modo a considera como a causa universal da dor.

Mas, a própria concupiscência, considerada na sua noção própria, é às vezes causa da dor. Pois tudo o que impede um movimento de chegar ao seu termo lhe é contrário. Ora, o contrário ao movimento do apetite é causa de tristeza. E por conseguinte, a concupiscência vem a ser causa de tristeza, na medida em que nos contristamos com a tardança ou a total eliminação do bem desejado. Não pode porém ser a causa universal da dor, porque nos entristecemos mais com a perda dos bens presentes, com os quais já nos deleitamos, que com a dos futuros que desejamos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A inclinação do apetite para a consecução do bem é a causa da inclinação do mesmo para evitar o mal, como já dissemos. E daqui resulta que os movimentos do apetite, que respeitam o bem, são considerados causa dos que dizem respeito ao mal.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O desejado, embora seja realmente futuro, já é contudo e de certo modo presente, enquanto esperado. — Ou podemos dizer que, embora o bem desejado seja futuro, há contudo actualmente um impedimento, que causa a dor.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A concupiscência é deleitável, enquanto permanece a esperança de alcançar o desejado, mas perdida esta, por um impedimento superveniente, a concupiscência causa a dor.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 36, a. 1.
2. II Orth. Fid., cap. XII.
3. I Rhetor., cap. XI.
4. Enchir., cap. XXIV.
5. Q. 36, a. 1.
6. q. 36, a. 1.
7. Q. 32, a. 6.

8. Q. 30, a. 2, ad 2.

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