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02/07/2013

Leitura espiritual para 02 Jul

Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.


Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mt 19, 16-30

16 Aproximando-se d'Ele um jovem, disse-Lhe: «Mestre, que hei-de fazer de bom para alcançar a vida eterna?». 17 Jesus respondeu-lhe: «Porque me interrogas acerca do que é bom? Um só é bom. Porém, se queres entrar na vida eterna, guarda os mandamentos». 18 «Quais?», perguntou ele. Jesus disse: «Não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, 19 honra teu pai e tua mãe, e ama o teu próximo como a ti mesmo». 20 Disse-Lhe o jovem: «Tenho observado tudo isso. Que me falta ainda?». 21 Jesus disse-lhe: «Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-Me». 22 O jovem, porém, tendo ouvido estas palavras, retirou-se triste, porque tinha muitos bens. 23 Jesus disse a Seus discípulos: «Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus. 24 Digo-vos mais: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, que entrar um rico no Reino dos Céus». 25 Os discípulos, ouvidas estas palavras, ficaram muito admirados, dizendo: «Quem poderá, então, salvar-se?». 26 Porém, Jesus, olhando para eles, disse-lhes: «Aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível». 27 Então Pedro, tomando a palavra, disse-Lhe: «Eis que abandonámos tudo e Te seguimos; qual será a nossa recompensa?». 28 Jesus disse-lhes: «Em verdade vos digo que, no dia da regeneração, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da Sua glória, vós, que Me seguistes, também estareis sentados sobre doze tronos, e julgareis as doze tribos de Israel. 29 E todo aquele que deixar a casa, ou os irmãos ou irmãs, ou o pai ou a mãe, ou os filhos, ou os campos, por causa do Meu nome, receberá cem vezes mais e possuirá a vida eterna. 30 Muitos dos primeiros serão os últimos, e muitos dos últimos serão os primeiros.



CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO

LIVRO DÉCIMO

CAPÍTULO XXXIV

O prazer dos olhos

Resta ainda falar do prazer destes olhos carnais. Oxalá que os ouvidos fraternos e piedosos do teu templo ouvissem a minha confissão! Encerrando assim as tentações da concupiscência que ainda me perseguem, apesar dos meus gemidos e dos desejos de ser revestido do meu tabernáculo, que é o céu.
Os meus olhos apreciam as formas belas e variadas, as cores brilhantes e amenas. Oxalá elas não me acorrentassem a alma! Oxalá ela só fosse presa pelo Deus que criou coisas tão boas: ele é o meu bem, e não elas. Todos os dias, estando acordado, elas me importunam sem o descanso das vozes que se calam, e às vezes de tudo o que existe, quando silencia. A própria rainha das cores, a luz que inunda tudo o que vemos, e onde quer que eu esteja durante o dia, acaricia-me de mil modos, mesmo quando estou ocupado em outra coisa e não lhe dou atenção.
E ela insinua-se tão fortemente que, se de repente me for tirada, a desejo, a procuro e, se a sua ausência se prolonga, a alma se entristece.
Ó luz que Tobias contemplava quando, cego, mostrava ao filho o caminho da vida, caminhando à sua frente com os passos da caridade, sem jamais se perder! Luz que Isaac via, quando os seus olhos carnais, oprimidos e velados pela velhice, mereceram não abençoar os filhos reconhecendo-os, mas reconhecê-los ao abençoá-los! Luz que via Jacob, também cego pela idade provecta, irradiou os fulgores do seu coração iluminado sobre as gerações do povo futuro, representadas em seus filhos! E a seus netos, os filhos de José, impôs as mãos misticamente cruzadas, não na ordem em que queria dispô-los o pai, que via com os olhos corporais, mas de acordo com o seu próprio discernimento interior! Eis a verdadeira luz, ela é uma, e todos os que a vêm e amam formam um único ser.
Quanto à luz corporal, de que falava, com a sua doçura sedutora e perigosa, é um dos prazeres da vida para os cegos amantes do mundo. Mas os que nela sabem encontrar motivos para te louvar, Deus, criador de todas as coisas, convertem-na em hino em teu louvor, sem se deixarem dominar por ela no sono. É assim que desejo ser. Resisto às seduções dos olhos, para que os meus pés, que começam a trilhar os teus caminhos, não fiquem enredados. Elevo a ti olhos invisíveis, para que libertes os meus pés dos seus laços. Tu não cessas de livrá-los, porque sempre estão a se prender. Tu não cessas de me livrar, e eu deixo-me cair a cada passo nas insídias espalhadas por toda parte, porque não dormirás, nem cochilarás, tu que guardas a Israel.
Quantos encantos os homens acrescentaram às seduções dos olhos, com a variedade das suas artes, com a sua indústria de vestidos, de calçados, de vasos, de objectos de toda espécie, com pinturas e esculturas diversas que de longe ultrapassam os limites do necessário e moderado e da expressão piedosa. Exteriormente perseguem as produções das suas artes, e no seu interior abandonam Aquele que os criou, deturpando em si o que ele fez.
Quanto a mim, meu Deus e minha glória, encontro nisto razão para cantar-te um hino, e oferecer um sacrifício de louvor àquele que se sacrificou por mim. As belezas que da alma do artista passam para as suas mãos, provêm desta beleza, que é superior às nossas almas e pela qual a minha alma suspira dia e noite.
Entretanto, os que geram e os amantes das belezas exteriores, tiram da beleza soberana apenas o critério para julgá-las, mas não uma regra para usá-las bem. Contudo, a norma ali está, mas eles não a vêm. Se a vissem, não se afastariam, e guardariam a sua força para ti, e não a dissipariam em fatigantes delícias.
Mesmo eu, que exponho e compreendo essas verdades, deixo-me enredar nessas belezas, mas tu me livras do seu laço, tu me libertas, porque a tua misericórdia está diante dos meus olhos. Miseravelmente eu caio, e tu levantas-me misericordiosamente, às vezes sem que eu o perceba, quando a minha queda foi suave, e outras infligindo-me uma pena, por ter ficado preso ao chão.

CAPÍTULO XXXV

A curiosidade

Às anteriores acrescente-se outra tentação, que oferece maiores perigos. Além da concupiscência da carne, que consiste no deleite voluptuoso de todos os sentidos, e cuja servidão dana os que ela afasta de ti, insinua-se na alma um outro desejo, que se exerce pelos mesmos sentidos corporais, mas tende menos a uma satisfação carnal do que a tudo conhecer por meio da carne.
É a vã curiosidade, que se disfarça sob o nome de conhecimento e de ciência. Como nasce do apetite de tudo conhecer, e como entre os sentidos os olhos são os mais aptos para o conhecimento, a Sagrada Escritura chamou-a de concupiscência dos olhos.
De facto, ver é função própria dos olhos, mas muitas vezes nós usamos essa expressão mesmo quando se trata de outros sentidos, aplicados ao conhecimento. Nós não dizemos: “Ouve como isto brilha” – nem: “Sente como isso resplandece” – nem: “Apalpa como isto cintila”. – Para exprimir tudo isso dizemos “ver ou olhar”. E até não nos limitamos a dizer: “Olha que luz!”, pois apenas os olhos nos podem dar esta sensação – mas, dizemos ainda: “Olha que som! Olha que cheiro! Olha que gosto! Olha como é duro!” Por isso toda a experiência que é obra dos sentidos é chamada, como disse, concupiscência dos olhos. Essa função da visão, que pertence aos olhos, é usurpada metaforicamente pelos outros sentidos, quando buscam conhecer alguma coisa.
Daqui podemos distinguir claramente o papel da volúpia e o da curiosidade na acção dos sentidos. O prazer procura o que é belo, melodioso, suave, saboroso, agradável ao todo, a curiosidade por sua vez deseja o contrário, não para se expor ao sofrimento, mas pela paixão de conhecer por meio da experiência. Que prazer pode ter a visão de um cadáver dilacerado, que causa horror? E todavia onde há um cadáver, para lá corre toda a gente para se entristecer e empalidecer. E temem depois revê-lo em sonhos, como se alguém os tivesse obrigado a contemplá-lo, ou como se a fama de alguma beleza os tivesse atraído. O mesmo acontece com os outros sentidos, o que seria enfadonho enumerar.
É esse quê de mórbido de curiosidade que faz com que se exibam monstruosidades nos espectáculos. É ela que nos induz a perscrutar os segredos da natureza exterior, cujo conhecimento de nada serve, mas que os homens buscam conhecer apenas pelo prazer de conhecer. É ela também que inspira o homem a pesquisar, com fim semelhante, a ciência perversa, que é a arte da magia.
E é ela, enfim, que, até na religião, nos induz a tentar a Deus, pedindo-lhe sinais e prodígios, não para a salvação da alma, mas apenas pela ânsia de vê-los.
Nessa imensa floresta, cheia de insídias e perigos, cortei e lancei para fora do meu coração muitos males, graças à força que me concedeste para tanto, Deus de minha salvação.
Contudo, no turbilhão diário de tantas e tão variadas tentações que atormentam a minha vida, quando ousarei dizer que nenhuma delas atrai mais a minha atenção e não cativa minha vã curiosidade? Certamente que o teatro já não me atrai, nem me importo mais em conhecer o curso dos astros, jamais, para obter uma resposta, consultei as sombras, pois detesto todos os ritos sacrílegos.
Mas, quantos artifícios o inimigo inventa para me tentar a que te peça algum milagre, a ti, Senhor, meu Deus, a quem devo servir humilde e simplesmente! Eu te suplico, por nosso Rei, por nossa pátria, a pura e casta Jerusalém, que o perigo de consentir nessas coisas, que até agora esteve longe de mim, se afaste cada vez mais! Mas quando te peço a salvação de uma alma, a finalidade do meu intento é bem diferente: ouve-me pois, e concede-me a graça de seguir de bom grado a tua vontade.
Mas incontáveis são as pequenas e desprezíveis bagatelas que tentam cada dia a nossa curiosidade! E quem poderá contar as nossas quedas? Quantas vezes ouvimos contar banalidades!
Toleramo-las, de início, para não magoar os fracos, e depois, aos poucos, ouvimo-las com atenção sempre crescente!
Não vou mais ao circo, para ver um cão correr atrás de uma lebre, mas, passando casualmente pelo campo e vendo algo assim, eis-me interessado pela caçada, talvez até distraindo-me de algum pensamento profundo. E, se não chega a fazer-me mudar o caminho do meu cavalo, desvio o curso do meu coração. Se após tal demonstração de minha fraqueza tu não me alertares para que abandone esse espectáculo, elevando-me a ti por meio de alguma reflexão, ou desprezando tudo e passando adiante, ficaria ali, absorvido como um bobo.
E que dizer quando, sentado em minha casa, observando uma lagartixa à caça de moscas, ou uma aranha que as enreda na sua teia? Acaso, por serem animais pequenos, a curiosidade que despertam em mim não é a mesma? É verdade que depois passo a louvar-te, Criador admirável, ordenador do universo, mas não foi esse o pensamento que primeiro me moveu. Uma coisa é levantar-se depressa, e outra é não cair.
Dessas quedas está repleta minha vida, e minha única esperança está na tua infinita misericórdia. O nosso coração é o receptáculo de tais misérias, e traz em si grande quantidade de vaidades, que muitas vezes até interrompem e perturbam nossas orações, e enquanto na tua presença levantamos a voz da nossa alma até aos teus ouvidos, tais pensamentos fúteis, vindos não sei de onde, vêm perturbar um acto tão importante.

CAPÍTULO XXXVI

O orgulho

Terei também essa miséria como desprezível? Haverá algo que possa restituir-me a esperança, a não ser tua conhecida misericórdia, que começou a transformar-me? Sabes o quanto já me transformaste, curaste-me primeiro da paixão da vingança, para perdoar-me também todos os pecados, curar as minhas fraquezas, resgatar a minha vida da corrupção, conservar-me na piedade e misericórdia, e saciar dos teus bens o meu desejo. Derrubaste o meu orgulho pelo temor, dobrando a minha cerviz ao teu jugo. Agora eu trago o teu jugo, e o sinto suave, como prometeste e cumpriste. Na verdade, teu jugo já era suave, mas eu não o sabia quando receava tomá-lo sobre mim.
Mas, Senhor, tu és o único que sabe mandar sem orgulho, porque és o único Senhor verdadeiro, que não tem senhor! Diga-me, terá cessado em mim, se isso pode acontecer nesta vida, esta terceira espécie de tentação, que consiste em querer ser temido e amado pelos homens, com o único fim de obter uma alegria que não é alegria? Que vida miserável, que arrogância indigna! Aí está o principal motivo porque não te amamos e tememos piamente. Por isso resistes aos soberbos, enquanto dás a tua graça aos humildes. Trovejas contra as ambições do mundo, e faz abalar as montanhas até suas raízes.
Ora, como é necessário, para se adequar à sociedade, fazer-se amar e temer pelos homens, o inimigo da nossa verdadeira felicidade alicia-nos, e por toda parte semeia os seus laços gritando: “Bravo! Muito bem!” – para que, ávidos, recolhamos as lisonjas e nos deixemos incautamente enredar. O seu intento é que deixemos de encontrar a nossa alegria na verdade, para buscá-la na mentira dos homens, estimula em nós o prazer em nos fazer temer e amar, não pelo teu amor, mas em teu lugar. Com isso nos tornamos semelhantes a ele, não unidos na caridade, mas partilhando das suas penas. Ele quis fixar a sua morada no aquilão (vento gelado do norte), para que nós, nas trevas e no frio, servíssemos o perverso e sinuoso imitador de teu poder.
Nós, Senhor, somos o teu pequeno rebanho: sê nosso dono. Estende as tuas asas, para nosso refúgio. Sê a nossa glória, que nos amem por tua causa, e que tua palavra seja observada por nós.
Quem busca o louvor dos homens, quando tu o reprovas, não será defendido por estes quando o julgares, nem poderá subtrair á tua condenação. Mas quando não se louva um pecados pelos desejos da sua alma, nem se abençoa quem pratica iniquidades, mas te louva um homem pelos dons que lhe concedeste, se ele se compraz mais no louvor do que no dom que lhe atrai os louvores, tu o reprovas, a despeito dos louvores que recebe dos homens. E quem o louva é melhor do que é louvado, porque um se agradou com o dom de Deus, e o outro alegrou-se com o dom do homem.

(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)


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