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30/06/2013

Tratado das paixões da alma 67



Questão 36: Das causas da tristeza.



Em segundo devemos tratar das causas da tristeza.

E sobre esta questão quatro artigos se discutem:
Art. 1 — Se o bem perdido é, mais que o mal anexo, causa da dor.
Art. 2 — Se a concupiscência é causa da dor ou tristeza.
Art. 3 — Se o desejo de unidade é causa da dor.
Art. 4 — Se um poder maior deve ser considerado como causa da dor.

Art. 1 — Se o bem perdido é, mais que o mal anexo, causa da dor.

O primeiro discute-se assim. — Parece que o bem perdido é, mais que o mal anexo, causa da dor.


1. — Pois, diz Agostinho, que sofremos dor com a perda dos bens temporais 1. Logo, pela mesma razão, toda dor resulta da perda de algum bem.

2. Demais — Como já se disse 2, a dor que contraria o prazer tem o mesmo objecto que este. Ora, este tem por objecto o bem, como já foi dito 3. Logo, a dor também se refere principalmente ao bem perdido.

3. Demais — Segundo Agostinho, o amor é causa da tristeza bem como dos outros afectos da alma 4. Ora, o objecto do amor é o bem. Logo, a dor ou tristeza, recai antes sobre o bem perdido, que sobre o mal anexo.

Mas, em contrário, diz Damasceno, que o mal esperado provoca o temor, o presente porém, a tristeza 5.

Se as privações se comportassem, relativamente à apreensão da alma, como se comportam com a realidade, a questão presente podia ser considerada como carecente de toda importância. Pois, o mal, como já estabelecemos na primeira parte 6, é a privação do bem. Ora, a privação, nos seres da natureza, não sendo senão a privação do hábito oposto, o mesmo é contristar-se com o bem perdido que com o mal presente. A tristeza porém é um movimento do apetite consecutivo à apreensão. Ora, nesta, a privação corresponde a uma certa noção entitativa, chamando-se por isso ser de razão. Donde, o mal, sendo privação, comporta-se como contrário. E portanto, há diferença entre o movimento apetitivo recair principalmente sobre o mal anexo ou sobre o bem perdido.

Ora, o movimento do apetite animal estando para as operações da alma, como o movimento natural para os seres naturais, podemos descobrir a verdade refletindo sobre os movimentos naturais. Se pois, levarmos em conta, nestes, a aproximação e o afastamento, aquela, em si mesma, respeita o conveniente à natureza, e este, o que lhe é contrário. Assim, o grave, em si mesmo, afasta-se do lugar superior e aproxima-se naturalmente do inferior. Se, porém levarmos em consideração a gravidade, causa desses dois movimentos, esta, em si mesma, faz inclinar-se para o lugar inferior, antes de deslocar do superior, do qual se afasta para tender para baixo. Donde, a tristeza, comportando-se, nos movimentos apetitivos, a modo de afastamento e de aproximação, e o prazer, a modo de prossecução ou afastamento, assim como o prazer respeita primeiramente o bem alcançado, como objecto próprio, assim a tristeza respeita o mal anexo, mas, a causa do prazer e da tristeza que é o amor, respeita, antes do mal, o bem. E portanto, do modo pelo qual o objecto é a causa da paixão, o mal anexo é, mais propriamente que o bem perdido, a causa da tristeza ou da dor.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A própria perda do bem é apreendida sobe a noção de mal, assim como o livrar-se do mal o é sobe a de bem. E por isso Agostinho diz que a dor provém da perda dos bens temporais.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O prazer e a dor, que lhe é contrária, respeitam o mesmo objecto, mas com noções contrárias. Pois, ao passo que o prazer provém do bem presente, a tristeza provém do ausente. Ora, como um contrário implica a privação do outro, segundo está claro em Aristóteles 7, conclui-se que a tristeza, relativa a um contrário, respeita de certo modo o mesmo objecto, mas sob noção diversa.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Quando de uma causa provém muitos movimentos, não é necessário que todos digam respeito principalmente àquilo que a causa principalmente respeita, mas só o primeiro. E cada um dos outros respeita principalmente o que lhe é conveniente segundo a própria noção.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Lib. De octo quaestionibus Dulcitii (q. 1).
2. Q. 35, a. 4.
3. Q. 23, a. 4, q. 31, a. 1, q. 35, a. 3.
4. XIV De civ. Dei, cap. VIII.
5. II lib., cap. XII.
6. Q. 14, a. 10, q. 48, a. 3.
7. X Metaph., lect. VI.

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