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14/06/2013

Tratado das paixões da alma 51

Questão 33: Dos efeitos do prazer

Em seguida devemos tratar dos efeitos do prazer. E sobre esta questão quatro artigos se discutem:
Art. 1 ― Se a dilatação é efeito do prazer.
Art. 2 ― Se o prazer nos provoca desejá-lo mais.
Art. 3 ― Se o prazer impede o uso da razão.
Art. 4 ― Se o prazer aperfeiçoa a operação.

Art. 1 ― Se a dilatação é efeito do prazer.

O primeiro discute-se assim. ― Parece que a dilatação não é efeito do prazer.

1. ― Pois, a dilatação concerne antes, ao amor, segundo o dito do Apóstolo (II Cord 6, 11): o nosso coração tem-se dilatado. E por isso, diz a Escritura, falando do preceito da caridade (Sl 118, 96): o teu mandamento é largo sem medida. Ora, o prazer é uma paixão diferente do amor. Logo, a dilatação não é um efeito do prazer.

2. Demais. ― O que se dilata torna-se mais capaz de receber. Ora, receber concerne ao desejo, referente a um objecto ainda não possuído. Logo, a dilatação concerne mais ao desejo que ao prazer.

3. Demais. ― A contracção opõe-se à dilatação, mas é própria do prazer, pois contraímos aquilo que queremos reter. Ora, o mesmo se dá com o afecto do apetite em relação ao que deleita. Logo, a dilatação não concerne ao prazer.

Mas, em contrário, para exprimir a alegria, diz a Escritura (Is 60, 5): Então tu verás e estarás em afluência, e o teu coração se espantará e se dilatará fora de si mesmo. E demais disso, deleitação, ou prazer, vem de dilatação, e por isso também se chama ledice (Laetitia), como já se disse 1.

A latitude é uma dimensão da grandeza corpórea, e por isso se atribui aos afectos da alma só metaforicamente. Ora, a dilatação é assim chamada por ser um quase movimento para a latitude, e é própria da deleitação por causa de duas condições que esta requer. ― Uma diz respeito à virtude apreensiva, que apreende a união com um bem conveniente. E por esta apreensão, o homem percebe ter alcançado uma certa perfeição, que é a grandeza espiritual. E então se diz que a sua alma se engrandece ou dilata, pelo prazer. ― Outra condição é a atinente à virtude apetitiva, que assente no objecto deleitável, nele descansa e como se lhe entrega, para apreendê-la no seu interior. E assim, o afecto do homem dilata-se pela deleitação, quase se entregando para conter dentro de si o objecto que deleita.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Nada impede que uma mesma expressão metafórica se atribua a objectos diversos, segundo semelhanças diversas. Assim, a dilatação é própria do amor, em virtude de uma certa extensão, i. é, enquanto o afecto do amante se estende a outros e o leva a cuidar não só do que é seu, mas também do que aos outros pertence. À deleitação, por outro lado, é própria a dilatação, enquanto um ser se alarga para se tornar como que mais capaz.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O desejo acarreta certamente uma dilatação, por causa da imaginação da coisa desejada, mas muito mais, pela presença do objecto que já deleita. Pois, o ânimo entrega-se mais ao objecto que já deleita do que ao que é desejado e ainda não possuído, porque o prazer é o fim do desejo.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Quem se deleita contrai, por certo, aquilo que deleita, inerindo-se-lhe fortemente, mas ao mesmo tempo, dilata o coração para fruir perfeitamente do objecto deleitável.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 31, a. 3.

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