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09/06/2013

Tratado das paixões da alma 46




Questão 32: Da causa do prazer

Art. 4 ― Se a tristeza é causa do prazer.






O quarto discute-se assim. ― Parece que a tristeza não é causa do prazer.


1. ― Pois, um contrário não é causa de outro. Ora, a tristeza contraria o prazer. Logo, não é causa deste.

2. Demais. ― Os efeitos dos contrários são contrários. Ora, a lembrança das coisas deleitáveis é causa de prazer. Logo, a das coisas tristes é causa da dor e não, do prazer.

3. Demais. ― A tristeza está para o prazer como o ódio para o amor. Ora, o ódio não é causa do amor, antes pelo contrário, como foi dito 1. Logo, a tristeza não é causa do prazer,

Mas, em contrário, diz a Escritura (Sl 41, 4): As minhas lágrimas foram o meu pão de dia e de noite. Ora, por pão entende-se o alimento do prazer. Logo, as lágrimas oriundas da tristeza podem ser deleitáveis.

A tristeza pode ser considerada de duplo ponto de vista: como actual e como existente na memória, e pode ser causa do prazer de ambos esses modos. Assim, a tristeza actual é causa do prazer, por despertar a memória da coisa amada, cuja ausência contrista, mas cuja apreensão só por si já deleita. Mas a lembrança da tristeza se torna deleitável por causa da subsequente libertação, pois não padecer um mal implica a noção de bem. Donde, aumenta-se-nos a matéria da alegria quando conhecemos estarmos livres de certas tristezas e dores, e como diz Agostinho: muitas vezes, estando alegres, lembramo-nos das coisas tristes, e sãos e sem dor, de coisas dolorosas, e isso faz com que nos tornemos mais alegres e como reconhecidos 2. E o mesmo Agostinho afirma que quanto maior foi o perigo na luta, tanto maior é a alegria do triunfo 3.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Acidentalmente um contrário pode ser causa de outro, assim o frio às vezes aquece, como diz Aristóteles 4. Semelhantemente, a tristeza é causa acidental do prazer, enquanto, por ela, se dá a apreensão de algum objecto deleitável.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― A lembrança das coisas tristes, enquanto tristes e contrárias às deleitáveis, não causam prazer, senão enquanto o homem se sente liberto delas. E semelhantemente, a lembrança de coisas agradáveis perdidas pode causar a tristeza.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― O ódio pode por acidente ser causa do amor, assim, quando amamos os que connosco odeiam um mesmo objecto.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Q. 29, a. 2.
2. XXII De civ. Dei (Gregorius Moral., lib. IV, cap. XXXVI).
3. VIII Confess., cap. III.
4. VIII Physic., lect. II.

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