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06/06/2013

Tratado das paixões da alma 43

Questão 32: Da causa do prazer
Em seguida devemos tratar das causas do prazer.

E sobre esta questão oito artigos se discutem:
Art. 1 ― Se a actividade é a causa própria e primeira do prazer.
Art. 2 ― Se o movimento é causa do prazer.
Art. 3 ― Se a memória e a esperança são causas do prazer.
Art. 4 ― Se a tristeza é causa do prazer.
Art. 5 ― Se as acções dos outros são-nos causa de prazer.
Art. 6 ― Se fazer bem a outrem é causa de prazer.
Art. 7 ― Se a semelhança é causa do prazer.
Art. 8 ― Se a admiração é causa de prazer.

Art. 1 ― Se a actividade é a causa própria e primeira do prazer.

(IV Sent., dist. XLIX, q. 3, a . 2).

O primeiro discute-se assim. ― Parece que a actividade não é a causa própria e primeira do prazer.


1. ― Pois, como diz o Filósofo: deleitar-se consiste em o sentido sofrer 1, porquanto o prazer supõe o conhecimento, como ficou dito 2. Ora, antes de conhecermos as actividades mesmas, conhecemos-lhe os objectos. Logo, a actividade não é a causa própria do prazer.

2. Demais. ― O prazer consiste principalmente no fim alcançado o qual é principalmente desejado. Ora, nem sempre a actividade é um fim, mas às vezes este é o objecto da acção. Logo, a actividade não é a causa própria e por si mesma do prazer.

3. Demais. ― O ócio e o descanso supõem a cessação da actividade. Ora, ambos são agradáveis, como diz Aristóteles 3. Logo, a actividade não é a causa própria do prazer.

Mas, em contrário, diz o Filósofo, que o prazer é uma operação conatural, não impedida 4.

Como já dissemos 5, são exigidas duas condições para o prazer: a consecução do bem conveniente e o conhecimento dessa consecução. Ora, aquela e este consistem numa determinada actividade, pois, o conhecimento actual é uma actividade e semelhantemente por uma certa actividade é que alcançamos o bem conveniente. E também a actividade própria é um certo bem conveniente. Donde é necessário todo prazer dependa de alguma actividade.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Os próprios objectos das actividades não são deleitáveis senão enquanto connosco se conjugam, quer pelo só conhecimento, como quando nos deleitamos na consideração ou visão de certos objectos, quer simultaneamente como o conhecimento, de qualquer outro modo, como quando nos deleitamos sabendo que possuímos algum bem, p. ex., as riquezas, a honra ou coisas semelhantes, que por certo não seriam deleitáveis se não fossem conhecidas como possuídas. Pois, como diz o Filósofo 6, há grande prazer em considerar uma coisa própria nossa, isso procede do amor natural que temos por nós mesmos. Ora, possuir tais coisas não é senão usar ou poder usar delas, o que supõe alguma actividade. Donde, é manifesto que todo prazer se reduz à actividade como à sua causa.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Mesmo quando os fins visados são, não as actividades, mas os resultados delas, estes são deleitáveis enquanto possuídos ou feitos, o que diz respeito a algum uso ou actividade.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― As actividades são deleitáveis enquanto proporcionadas e conaturais ao agente. Ora, como a virtude humana é finita, a actividade lhe é proporcional conforme uma certa medida. Donde, excedendo essa medida, já não será proporcional nem deleitável, mas antes, laboriosa e molesta. E neste sentido, o ócio, o jogo e tudo o que respeita ao repouso é deleitável porque expunge a tristeza, procedente do que é penoso.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. I Rhetor., cap. XI.
2. Q. 31, a. 2.
3. I Rhetor., loc. cit.
4. VII Rhetoric., lect. XII et X, lect. VI.
5. Q. 31, a. 1.
6. II Polit., lect. IV.

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