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10/06/2013

Leitura espiritual para 10 Jun



Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)


Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.

Para ver, clicar SFF.


Evangelho: Mt 8, 1-17

1 Tendo Jesus descido do monte, seguiu-O uma grande multidão. 2 E eis que, aproximando-se um leproso, se prostrou, dizendo: «Senhor, se Tu quiseres, podes curar-me». 3 Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo-lhe: «Quero, sê curado». E logo ficou curado da sua lepra. 4 E Jesus disse-lhe: «Vê, não o digas a ninguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote, e faz a oferta que Moisés preceituou em testemunho da tua cura». 5 Tendo entrado em Cafarnaum, aproximou-se d'Ele um centurião, e fez-Lhe uma súplica, 6 dizendo: «Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico e sofre muito». 7 Jesus disse-lhe: «Eu irei e o curarei». 8 Mas o centurião, respondeu: «Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa; diz, porém, uma só palavra, e o meu servo será curado. 9 Pois também eu sou um homem sujeito a outro, mas tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: “Vai”, e ele vai; e a outro: “Vem”, e ele vem; e ao meu servo: “Faz isto”, e ele o faz». 10 Jesus, ouvindo estas palavras, admirou-Se, e disse para os que O seguiam: «Em verdade vos digo: Não achei fé tão grande em Israel. 11 Digo-vos, pois, que virão muitos do Oriente e do Ocidente, e se sentarão com Abraão, Isaac e Jacob no Reino dos Céus, 12 enquanto que os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá pranto e ranger de dentes». 13 Então disse Jesus ao centurião: «Vai, seja feito conforme tu creste». E naquela mesma hora ficou curado o servo. 14 Tendo chegado Jesus a casa de Pedro, viu que a sogra dele estava de cama com febre; 15 e tomou-a pela mão, e a febre deixou-a, e ela levantou-se e pôs-se a servi-los. 16 Pela tarde apresentaram-se muitos possessos do demónio, e Ele com a Sua palavra expulsou os espíritos e curou todos os enfermos; 17 cumprindo-se deste modo o que foi anunciado pelo profeta Isaías, quando diz: “Ele mesmo tomou as nossas fraquezas e carregou com as nossas enfermidades”.



CONFISSÕES SANTO AGOSTINHO

LIVRO SEXTO

CAPÍTULO IV

O espírito da letra

Não compreendendo como se poderia espelhar esta tua imagem ao homem, eu deveria bater à porta, perguntando-te de que modo deveria entender essa crença, em lugar de me opor insolentemente, como se ela fosse o que eu imaginava. E assim, tanto mais fortemente me roia o coração o desejo de ter alguma certeza, quanto mais me envergonhava de ter sido o joguete dos que me haviam prometido a certeza, e por ter defendido com pueril empenho e animosidade tantas coisas duvidosas como sendo verdadeiras.
Depois vi a razão por que eram falsas. Mas já estava então certo de que elas eram duvidosas, embora as tivesse julgado irrefutáveis por algum tempo, quando, com as minhas cegas discussões, combatia a tua Igreja Católica. Embora então não a reconhecesse como mestra da verdade, pelo menos sabia que não ensinava aquilo de que eu a acusava.

Daí minha confusão, e a conversão que se operava no meu pensamento, ó meu Deus, vendo que a tua Igreja única, corpo de teu Filho único, na qual, ainda menino, me ensinaram o nome de Cisto, não gostava de bagatelas infantis. Regozijava-me que em sua doutrina sadia nada havia que te representasse, a ti, Criador de todas as coisas, circunscrito numa forma e num espaço que, embora amplo, seria contudo limitado.
Também me alegrava de que as Antigas Escrituras da lei e os profetas já não me fossem propostas na interpretação anterior, em que me pareciam absurdas, quando eu acusava os teus santos de pensamentos que nunca haviam tido.
Alegrava-me ouvir Ambrósio dizer muitas vezes nos seus sermões ao povo, recomendando com muito zelo a verdade: a letra mata e o espírito vivifica. E, levantando o véu místico, revelava-me o significado espiritual de passagens que, segundo a letra, pareciam ensinar um erro.
Nada dizia que me chocasse, embora eu ainda ignorasse se ele dizia a verdade.
Abstinha-se o meu coração de aderir a qualquer doutrina, temendo cair num precipício, mas esta suspensão matava-me muito mais, porque queria estar tão certo das coisas que não via como o estava de que sete e três são dez. Eu não estava tão louco para pensar que a inteligência alcançaria tal evidência.
Mas, assim como entendia isso, queria entender igualmente as outras
verdades, quer fossem materiais, que não tinha presentes nos meus sentidos, quer espirituais, nas quais não sabia pensar senão de modo material.
É verdade que poderia sarar pela crença, e assim, purificado pela fé o olhar do meu espírito, pudesse dirigir-se de algum modo à tua verdade, sempre imutável e indefectível. Mas, como sói acontecer a quem caiu nas mãos de um médico ruim, e que depois receia as mãos de um bom, assim me sucedia quanto à saúde da minha alma que, não podendo sarar senão pela fé, se recusava a sarar por temor de crer, novamente, em falsidades.

A minha alma resistia às tuas mãos, ó meu Deus, que preparaste o remédio da fé, e o derramaste sobre as enfermidades da terra, dando-lhe tanta autoridade e eficácia.

CAPÍTULO V

Os mistérios da Bíblia

Desde esse tempo, a minha preferência recaía na doutrina católica, porque ajuizava que nela houvesse mais modéstia, e não mentira, ao impor a crença no que não era demonstrado – quer porque, mesmo havendo provas, estas não fossem acessíveis a todos, quer porque não existissem.

Diferente do que ocorria entre os maniqueus, que desprezavam a fé, e prometiam, com temerária arrogância, a ciência, para depois nos obrigarem a acreditar numa infinidade de fábulas completamente absurdas, impossíveis de demonstrar.

Depois, com suavidade e misericórdia, começaste, Senhor, a cuidar e a preparar aos poucos o meu coração, e foi aceitando tudo o que eu acreditava sem o ter visto, e a cuja realização não presenciara.
Tantos factos da história dos povos, tantas notícias sobre lugares e cidades que não vira, tudo o que aceitava acreditando em amigos, em médicos e em outras pessoas que, se não as acreditássemos, não poderíamos dar um passo na vida. E, sobretudo, que fé inabalável eu tinha em ser filho de meus pais, coisa que não poderia saber sem prestar fé no que ouvia.
Então me convenceste de que os dignos de censura não são os que acreditam nos teus livros, cuja autoridade estabeleceste entre quase todos os povos, mas o que não crêm neles. E eu não devia dar ouvidos ao que talvez me dissessem: “Como sabes que esses livros foram dados aos homens pelo Espírito de Deus, único e verdadeiro?”

Ora, era precisamente isto o que eu devia crer, porque nenhuma objecção caluniosa ou agressiva, das que eu havia lido nos escritos contraditórios dos filósofos, nunca conseguiram arrancar-me a certeza da tua existência, embora ignorasse o que eras, e a certeza de que o governo das coisas humanas está em tuas mãos.

Eu acreditava nisso, ora mais fortemente, ora mais frouxamente, mas na tua existência e que cuidava do género humano, sempre acreditei, embora ignorasse a natureza, ou qual o caminho que nos conduz ou reconduz a ti. Por isso, persuadido de nossa impotência para achar a verdade só por meio da razão, e que para isso nos é necessária a autoridade das Sagradas Escrituras, comecei a crer que nunca terias conferido tão soberana autoridade a essas Escrituras em todo o mundo, se não quiséssemos que crêssemos e te buscássemos por elas.

Sobre os mistérios em que costumava tropeçar, e que ouvira explicar muitas vezes de modo aceitável, eu atribuía-os à sua profundidade, parecendo-me a autoridade das Escrituras tanto mais venerável e digna da fé sacrossanta, quando de leitura fácil para todos. E ela reserva porém, a uma percepção mais aguda a majestade do seu mistério. Pela clareza da linguagem e a sua simplicidade do estilo, ela se abre a todos e, no entanto, estimula a reflexão dos que não são levianos de coração. Recebe a todos em seu vasto seio, mas não deixa ir a ti, por caminhos estreitos, senão um pequeno número, muito mais, porém, do que seriam se ela não tivesse essa elevada autoridade, e não atraísse as turbas do regaço da sua santa humildade.

Pensava eu nessas coisas, e me assistias, suspirava, e me ouvias, vacilava, e me governavas, seguia pela via larga do mundo, e não me abandonavas.

CAPÍTULO VI

Alegria de bêbado

Eu aspirava às honras, às riquezas e ao matrimónio, e tu te rias de mim. E nesses desejos sofria grandes amarguras, e tu me eras tanto mais propício quanto menos consentias que me fosse doçura o que não eras tu. Vê, Senhor, meu coração, tu que quiseste que recordasse estes factos e os confessasse. Esta alma, a quem livraste do visco tenaz da morte, une-se agora a ti.

Como era infeliz!
E tu fustigavas o mais dolorido da ferida, para que deixasse tudo, e se convertesse a ti, que estás acima de tudo.
Sem ti nada existiria.
Ferias minha alma para que voltasse para ti, e fosse curada.
Que miserável era eu então! E como agiste para que eu sentisse minha desgraça?

Era o dia em que me preparava para declamar os louvores do imperador, neles ia mentir muito e, mentindo granjearia a aprovação dos que sabiam das mentiras. Preocupado, o meu coração consumia-se com a febre de pensamentos impuros quando, ao passar por uma rua de Milão, vi um mendigo já bêbado, creio eu, mas bem-humorado e divertido. Suspirei então, e falei aos amigos que me acompanhavam sobre as muitas dores que nos provocavam as nossas loucuras. Com todos os esforços, quais eram os que então me afligiam, apenas arrastava a carga de minha infelicidade cada vez mais pesada, aguilhoado por meus apetites, para conseguir somente uma alegria tranquila, na qual já nos havia precedido aquele mendigo, alegria que nunca talvez alcançássemos.

O que ele havia conseguido com umas poucas moedas de esmola, era exactamente o que eu aspirava com tão árduos caminhos e rodeios: a alegria de uma felicidade temporal.
A alegria do mendigo não era certamente verdadeira, mas que eu buscava-a com as minhas ambições era ainda mais falsa. Ele, pelo menos, estava alegre, e eu, angustiado, ele seguro, e eu inquieto. Se alguém me perguntasse se preferia estar alegre ou triste eu responderia: alegre, mas se me perguntassem novamente se queria ser como aquele mendigo ou ser como eu era, sem dúvida escolheria a mim mesmo, embora cheio de cuidados e de temores.

Mas eu faria isto por maldade ou com razão?

Eu não devia preferir-me ao mendigo por ser mais culto, pois a ciência para mim não era fonte de felicidade, mas apenas um meio de agradar aos homens, e não instruí-los.

Por isso, Senhor, quebravas meus ossos com a vara de tua disciplina.

Longe da minha alma os que dizem: “Importa levar em conta a causa da alegria, o mendigo se alegrava com a embriaguez, e tu com a glória”.
Que glória, Senhor?
Com a que não está em ti. Porque como aquela não era verdadeira alegria, assim aquela glória não era a verdadeira, antes perturbava mais ainda o meu coração. O ébrio, naquela mesma noite, curaria sua embriaguez, enquanto eu já dormia com a minha, e me levantara com ela, e tornaria a dormir e a levantar com ela, e tu sabes quantos dias!
Importa, é certo, conhecer os motivos da alegria de cada um, eu sei, e a alegria da esperança fiel dista infinitamente daquela vaidade. Mas então, havia entre nós outra diferença, pois certamente ele era o mais feliz, não só porque transbordava de alegria, enquanto eu me consumia de cuidados, mas também porque ele comprara o vinho desejando a felicidade dos benfeitores, enquanto eu procurava com mentiras uma vã ostentação.
Disse então muitas coisas sobre isso aos meus amigos, e muitas vezes eu costumava examinar a minha vida, e achava-me infeliz. Isso afligia-me e redobrava a minha dor, se me sorria alguma ventura, não acudia para apanhá-la, porque se me escapava das mãos antes mesmo que a pudesse alcançar.

CAPÍTULO VII

Alípio

Os que convivíamos em boa amizade lamentávamos estas coisas, mas de modo especial e muito intimamente eu falava com Alípio e Nebrídio. Alípio, como eu, era do município de Tagaste, nascido de uma das melhores famílias da cidade. Era mais jovem do que eu, pois havia sido meu discípulo quando comecei a ensinar em nossa cidade, de depois em Cartago. Queria-me muito, por eu lhe parecer bom e douto, e eu apreciava-o pela sua grande inclinação à virtude, que já se manifestava em tenra idade.
Contudo, o abismo dos costumes cartagineses, onde ferve o gosto dos espectáculos frívolos, engolfara-o na loucura dos jogos circenses. Alípio revolvia-se miseravelmente nesse abismo na época em que eu ensinava retórica na escola pública, mas ele não me tinha como mestre por causa de uma desavença que surgira entre mim e seu pai. Eu sabia que Alípio amava morbidamente o circo, e isso muito me angustiava, por me parecer que se iam se perder, se já não estivessem, magníficas esperanças. Mas não achava meios de alertá-lo e repreendê-lo, nem pela amizade, nem pelo magistério, pois julgava que tinha sobre mim a mesma opinião que seu pai. Mas não era assim.
Pondo de parte a vontade paterna sobre isso, começou a cumprimentar-me, comparecia à minha aula, ouvia-me um pouco, e logo se retirava.
Eu já me esquecera de alertá-lo para não desperdiçar o seu talento tão precioso com aquele cego e apaixonado gosto por jogos fúteis.
Mas tu, Senhor, que governas o que criaste, não te esqueceste de que Alípio deveria ser ministro dos teus sacramentos entre os teus filhos, e para que fosse atribuída claramente a ti a sua emenda, a realizaste por meu intermédio, mas sem que eu o soubesse.
Um dia, estando sentado ao lugar de costume, diante dos meus discípulos, veio Alípio, saudou-me, sentou-se, atento ao assunto de que eu tratava. Por acaso trazia eu nas mãos uma lição, para melhor expô-la, e tornar mais clara e agradável sua explicação, pareceu-me oportuno fazer uma comparação com os jogos circenses, com mordaz sarcasmo aos escravos dessa loucura. Mas tu sabes, Senhor, que então não pensei em curar Alípio dessa peste. Todavia tomou para si as minhas palavras, acreditando que eu só as dissera por sua causa. Qualquer outro tomaria isso com desgosto, mas ele, jovem virtuoso, tomou-o como causa para censurar a si próprio, e para me estimar ainda mais.

Já havias dito outrora, e escrito em teus livros: “Corrige o sábio, e ele te amará”.
Eu não o repreenderia, mas tu, servindo-te de todos, quer eles o saibam ou quer não, de acordo com a justa ordem que conheces, fizeste do meu coração e da minha língua carvões abrasadores, para cauterizar e curar aquela alma tão promissora, mas pervertida.

Senhor, cale teus louvores quem não percebe tuas misericórdias, que eu te confesso do mais íntimo de meu ser. Depois de ouvidas as minhas palavras, Alípio saiu daquele fosso profundo, onde gostosamente se enterrara, cegando-se com o torpe prazer, e sacudiu sua alma com corajosa temperança, afastando de si todas as imundícies dos jogos circenses, para onde nunca mais voltou.
Depois venceu a resistência paterna para me escolher como mestre, e seu pai cedeu e consentiu. Voltando a ser meu discípulo, foi envolvido comigo na superstição dos maniqueus, apreciando neles aquela ostentação de continência, que ele julgava legítima e sincera. Na verdade, porém, era um desvario sedutor, um laço onde caíam almas preciosas, ainda incapazes de avaliar a sublimidade da virtude e, por isso mesmo, vítimas fáceis da aparência que mascara uma virtude hipócrita e fingida.

(Revisão trad. portuguesa e grafismo por ama)

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