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30/05/2013

Tratado das paixões da alma 42



Questão 31: Do prazer em si mesmo.


Art. 2 ― Se o prazer se realiza no tempo.
(IV Sent., dist. XLIX, q. 3, a . 1, qª 3, De Verit., q. 8, a . 14, ad 2).


O segundo discute-se assim. ― Parece que o prazer se realiza no tempo.




1. ― Pois, o prazer é um movimento, como diz o Filósofo 1. Ora, todo movimento se realiza no tempo. Logo, também o prazer.

2. Demais. ― Chama-se diuturno ou moroso o que se realiza no tempo. Ora, certos prazeres consideram-se morosos. Logo, o prazer realiza-se no tempo.

3. Demais. ― As paixões da alma são do mesmo género. Ora, há algumas que existem no tempo. Logo, também o prazer.

Mas, em contrário, diz o Filósofo, que o prazer não se produz em nenhum determinado tempo 2.

Uma coisa pode estar no tempo de duplo modo: em si e por outra coisa e quase por acidente. Pois, sendo o tempo o número das posições sucessivas, diz-se que estão, em si, no tempo, as coisas sujeitas por essência à sucessão ou ao que quer que à sucessão respeite, como o movimento, o repouso, o falar e coisas semelhantes. Noutro sentido, diz-se que estão, não em si mesmas, no tempo, as coisas cuja essência não implica nenhuma sucessão, mas que estão sujeitas a algo de sucessivo. Assim, ser homem, por essência, não implica sucessão, pois não é movimento, mas termo do movimento ou da mutação, ou da geração. Mas, enquanto sujeito a causas transmutáveis, ser homem implica o tempo.

Donde, o prazer, em si mesmo, depende do tempo, porque supõe o bem já alcançado, que é quase o termo do movimento. ― Mas se esse bem alcançado estiver sujeito à transmutação, o prazer se realizará, acidentalmente no tempo. Se porém for absolutamente intransmutável, o prazer não decorrerá no tempo, nem essencial nem acidentalmente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Como diz Aristóteles, o movimento tem dupla acepção 3. Numa, é o acto do que é imperfeito, isto é, existente em potência, como tal, e esse movimento é sucessivo e temporal. Noutra, é o acto do que é perfeito, i. é, existente em acto, como inteligir, sentir, querer e actos semelhantes, entre os quais também deleitar-se, e tal movimento não é sucessivo, nem em si temporal.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Chama-se moroso ou diuturno o prazer acidentalmente temporal.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― As outras paixões não têm por objecto, como o prazer, o bem já alcançado. Donde, tem, mais que ele, a natureza do movimento imperfeito. E por conseguinte, ao prazer convém, mais que a elas, não estar no tempo.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. I Rhet., cap. XI.
2. X Ethic., lect. V.
3. III De anima, lect. XII.

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