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19/05/2013

Tratado das paixões da alma 31



Questão 29: Do ódio.

Art. 2 ― Se o amor é causa do ódio.


(IV Cont. Gent., cap. XIX).



O segundo discute-se assim. ― Parece que o amor não é causa do ódio.


1. ― Pois, noções que por oposição se dividem são naturalmente simultâneas, como se diz 1. Ora, o amor e o ódio, sendo contrários, dividem-se por oposição. Logo, são naturalmente simultâneos, e portanto o primeiro não é causa do segundo.

2. Demais. ― Um contrário não é causa do outro. Ora, amor e ódio são contrários. Logo, aquele não é causa deste.

3. Demais. ― O posterior não é causa do anterior. Ora, o ódio é anterior ao amor, segundo parece, pois implicando o afastamento do mal, o amor importa na aproximação do bem. Logo, aquele não é causa deste.

Mas, em contrário, diz Agostinho, que todos os afectos são causados pelo amor 2. Logo, também o ódio, que é um afecto da alma.

Como já dissemos 3, o amor consiste numa certa conveniência entre o amante e o amado, e o ódio, numa certa repugnância ou dissonância entre um e outro. Ora, o que convém a um ser deve considerar-se antes do que o que lhe repugna, pois o que repugna é corruptivo ou impeditivo do conveniente. Donde e necessariamente, o amor há-de ser anterior ao ódio, e só se odeia o que contraria o bem conveniente que se ama. Ora, neste sentido todo ódio é causado pelo amor.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Das noções que se dividem por oposição umas, naturalmente são simultâneas, real e racionalmente, assim, duas espécies animais ou duas espécies de cores. De outras porém, simultâneas racionalmente, uma é realmente anterior à outra, de que é a causa, como é patente com as espécies dos números, das figuras e dos movimentos. Outras, por fim, não são simultâneas, nem real nem racionalmente, como a substância e o acidente, pois aquela é realmente causa deste, e o ente, na sua noção racional é atribuído primeiro à substância e depois ao acidente, porque a este não se atribui senão enquanto pertence à substância. ― Ora, o amor e o ódio são por certo naturalmente simultâneos, no ponto de vista racional, não porém no real. Donde, nada impede que o amor seja causa do ódio.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O amor e o ódio são contrários quando referidos ao mesmo objecto. Mas, não o são quando se referem a objectos contrários, sendo nesse caso um a consequência do outro, pois pela mesma razão pelo qual amamos uma coisa odiamos a sua contrária. E assim, o amor de uma leva-nos a odiar a outra.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Na ordem da execução, primeiro afastamo-nos de um termo e, depois, achegamo-nos ao outro, mas, o inverso dá-se na ordem da intenção pois afastamo-nos de uma para nos achegarmos ao outro. Ora, o movimento apetitivo pertence mais à intenção do que à execução. Logo, o amor é anterior ao ódio, sendo um e outro movimentos apetitivos.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. Praedicamentis, cap. X.
2. XIV De civitate Dei, cap. VII.
3. Q. 29, a. 1.

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