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06/05/2013

Tratado das paixões da alma 18



Questão 26: Do amor.


Art. 3 ― Se o amor é o mesmo que a dilecção.

(I Sent., dist. X, Expos. Litt., III, dist. XXVII, q. 2, a . 1, De Div. Nom., cap. IV, lect IX).

O terceiro discute-se assim. ― Parece que o amor é o mesmo que a dilecção.




1. ― Pois, diz Dionísio, que o amor está para a dilecção como quatro para duas vezes dois e o rectilíneo, para o que tem linhas rectas 1. Ora, estas expressões são idênticas. Logo, idênticos também hão-de ser o amor e a dilecção.

2. Demais. ― Os movimentos apetitivos diferem pelos seus objectos. Ora, o objecto da dilecção e do amor é o mesmo. Logo, aquela e este identificam-se.

3. Demais. ― Se dilecção e o amor diferem em algo, há-de ser sobretudo porque a dilecção deve ser tomada no bom sentido e o amor, no mau, segundo disseram alguns, conforme refere Agostinho 2. Ora, não diferem de tal modo, pois, como diz Agostinho no mesmo passo, Sagrada Escritura emprega ambos esses vocábulos tanto no bom como no mau sentido. Logo, o amor e a dilecção não diferem, como conclui Agostinho no passo citado, dizendo que não é uma coisa o amor e outra, a dilecção.

Mas, em contrário, diz Dionísio, que certos Santos consideram mais divino o nome de amor que o de dilecção 3.

Há quatro nomes que se empregam para significarem de certo modo o mesmo: amor, dilecção, caridade e amizade, que contudo diferem no seguinte. A amizade, segundo o Filósofo 4, é um quase hábito, o amor, porém, e a dilecção empregam-se para significar acto ou paixão, ao passo que caridade é usada em ambos esses sentidos. ― Estes três vocábulos todavia exprimem um mesmo acto, mas diversamente. Assim, o mais geral deles é o amor, pois toda dilecção ou caridade a ele se reduz, mas não inversamente, assim, a dilecção acrescenta-lhe a eleição precedente, como o próprio nome o indica. Donde, a dilecção não pertence ao concupiscível, mas exclusivamente à vontade, e só é própria da natureza racional. A caridade por sua vez acrescenta ao amor uma certa perfeição, enquanto, como o nome por si o está indicando, temos em grande preço o que amamos.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― Dionísio refere-se ao amor e à dilecção enquanto existentes no apetite intelectivo, e nesse caso identificam-se.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― O objecto do amor é mais geral que o da dilecção, porque tem maior extensão, como se disse.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― O amor não difere da dilecção como o bem difere do mal, mas no sentido supra-referido. Contudo, na potência intelectiva, um e outro se identificam, e nesse sentido é que escreve Agostinho, no passo citado, acrescentando por isso logo depois: a vontade recta é o amor bom e, a perversa, o mau. Como porém o amor, paixão do concupiscível, inclina muitos para o mal, isto deu lugar a que alguns introduzissem a diferença supra-mencionada.

RESPOSTA À QUARTA. ― Alguns disseram que, mesmo na própria vontade, o nome de amor é mais divino que o de dilecção, por implicar uma certa paixão, principalmente quando pertencente ao apetite sensitivo, ao passo que a dilecção pressupõe o juízo da razão. O homem porém pode tender a Deus pelo amor, antes, passivamente, quase atraído pelo próprio Deus, do que levado pela razão própria, e isso inclui a ideia de dilecção, como dissemos. Donde, mais divino que esta é o amor.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. IV De div. nom., lect. IX.
2. XIV De civ. Dei, cap. VII.
3. IV De div. nom., lect. IX.
4. VIII Ethic., lect. V.

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