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04/05/2013

Tratado das paixões da alma 16



Questão 26: Do amor.


Em seguida devemos tratar das paixões da alma em especial. E primeiro, das do concupiscível. Segundo, das do irascível.

O primeiro estudo será tripartido. Assim, primeiro, trataremos do amor e do ódio. Segundo, da concupiscência e da aversão. Terceiro, do prazer e da tristeza.

Sobre o amor há três pontos a considerar. Primeiro, do amor em si mesmo. Segundo, da causa do amor. Terceiro, dos seus efeitos.

Sobre a primeira questão quatro artigos se discutem:
Art. 1 ― Se o amor pertence ao concupiscível.
Art. 2 ― Se o amor é paixão.
Art. 3 ― Se o amor é o mesmo que a dilecção.
Art. 4 ― Se o amor se divide convenientemente em amor de amizade e de concupiscência.

Art. 1 ― Se o amor pertence ao concupiscível.

(III Sent., dist. XXVI, q. 2, a . 1, dist. XXVII, q. 1, a . 2).

O primeiro discute-se assim. ― Parece que o amor não pertence ao concupiscível.


1. ― Pois, diz a Escritura (Sb 8, 2): A esta, i. é, à sabedoria, eu amei e requestei desde a minha mocidade. Ora, o concupiscível, sendo parte do apetite sensitivo, não pode tender para a sabedoria, que não é compreendida pelo sentido. Logo, o amor não pertence ao concupiscível.

2. Demais. ― Parece que o amor se identifica com as outras paixões, segundo Agostinho, que diz: O amor, que deseja ardentemente possuir o objecto amado, é cobiça, o que já o possui e o goza é alegria, o que foge do que se lhe opõe é temor, o que sente o mal sucedido é tristeza 1. Ora, nem todas as paixões pertencem ao concupiscível, assim o temor, que entra na enumeração supra, pertence ao irascível. Logo, não se pode dizer, absolutamente, que o amor pertence ao concupiscível.

3. Demais. ― Dionísio admite um certo amor natural 2. Ora, este parece pertencer mais às virtudes naturais, próprias da alma vegetativa. Logo, o amor não pertence absolutamente, ao concupiscível.

Mas, em contrário, diz o Filósofo, que o amor pertence ao concupiscível 3.

O amor é algo próprio ao apetite, pois ambos têm por objecto o bem, donde, qual a diferença do apetite, tal a do amor. Ora, há uma espécie de apetite não consequente à apreensão do apetente, mas à de outrem, e este se chama apetite natural. Pois os seres naturais desejam o que lhes convém à natureza, não por apreensão própria, mas pela do instituído da natureza, como se disse no livro primeiro 4. Há porém outra espécie de apetite consequente à apreensão do apetente, mas necessária e não livremente, e tal é o apetite sensitivo, dos brutos, que contudo nos homens participa algo da liberdade, enquanto obedece à razão. Enfim, há outro apetite que acompanha a apreensão do apetente, conforme um juízo livre, e é o racional ou intelectivo chamado vontade.

Ora, em qualquer destes apetites, chama-se amor ao princípio do movimento tendente para o fim amado. No apetite natural, o princípio desse movimento é a conaturalidade do apetente relativamente ao objecto para que tende, e pode ser chamado amor natural, assim como a conaturalidade do corpo pesado em relação ao lugar médio se dá em virtude da gravidade e pode ser denominado amor natural. E semelhantemente, a coaptação do apetite sensitivo ou da vontade para algum bem, i. é, a complacência no bem, chama-se amor sensitivo, ou intelectivo ou racional. Donde, o amor sensitivo pertence ao apetite sensitivo, como o amor intelectivo ao apetite intelectivo. E pertence ao concupiscível, porque é assim denominado relativamente ao bem absoluto e não ao bem árduo, objecto do irascível.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. ― O passo aduzido da Escritura refere-se ao amor intelectivo ou racional.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Causal e não essencialmente é que se chama ao amor temor, alegria, cobiça e tristeza.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― O amor natural tem sua sede não só nas potências da alma vegetativa, mas em todas as potências da alma, bem como em todas as partes do corpo, e em universal em todas as coisas, pois, como diz Dionísio, para todos o bem e o belo são agradáveis 5, e isso porque todas as coisas tem conaturalidade com o que lhes é conveniente, conforme a natureza de cada uma.

Nota: Revisão da tradução portuguesa por ama.
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Notas:
1. XIV De civitate Dei, cap. VII.
2. IV De div nomin., lect. XII.
3. II Topic., cap. VII.
4. Q. 103, a. 1 ad 1, 3.
5. IV De div. nom., lect. IX.

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